Jornalistas iranianas presas por cobrirem morte de Mahsa Amini saem da prisão
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O Irã libertou duas jornalistas presas há mais de um ano por cobrirem o caso de Mahsa Amini -jovem morta em 2022 pela polícia moral do regime teocrático por suposto uso incorreto do hijab, o véu islâmico- e que desencadeou uma série de protestos em todo o país.
Niloufar Hamedi, 31, e Elaheh Mohammadi, 36, saíram da prisão de Evin, em Teerã, após pagamento de fiança de US$ 200 mil (R$ 970 mil) e aguardam em liberdade a decisão de um tribunal local, segundo a agência de notícias AFP. Ambas ainda podem pegar até 13 anos de prisão, no entanto, e estão proibidas de deixar o Irã.
Mahsa Amini morreu sob custódia, três dias após ter sido detida pela polícia moral do Irã em 13 de setembro de 2022. Ela foi presa por violar regras que exigem que as mulheres cubram os cabelos com um véu islâmico.
O mistério em torno da morte de Amini conta com duas versões conflitantes. Um médico legista do governo iraniano atribuiu o falecimento a condições médicas pré-existentes, enquanto um especialista em direitos humanos da ONU disse que as provas estabelecem que Amini morreu após ser espancada pela polícia moral.
Niloufar Hamedi trabalhava para o jornal Shargh e noticiou a morte de Amini. Ela fotografou o pai e a avó da jovem se abraçando após descobrirem que ela havia morrido e postou uma imagem com a legenda "o vestido preto de luto se tornou nossa bandeira nacional".
Já Elaheh Mohammadi, repórter do Ham-Mihan, escreveu que centenas de pessoas gritavam "mulher, vida, liberdade" durante o funeral de Amini, em Saghez, sua cidade natal.
As jornalistas foram presas logo após o início dos protestos em todo o país, acusadas de conluio com o governo dos Estados Unidos e de atentar contra a segurança nacional. Centenas de pessoas foram mortas e feridas durante os protestos que tomaram o Irã naquele período.
O fato de Amini ser curda acrescentou às manifestações a dimensão da violência étnica no Irã; há um número desproporcional de curdos executados pelo regime todos os anos. Alguns manifestantes removeram o hijab em desafio ao regime e o queimaram ou cortaram simbolicamente o cabelo antes de aplaudir a multidão, segundo imagens publicadas nas redes sociais.