Lula deve reforçar oposição à independência de Taiwan em reunião com chanceler chinês

Por MARIANNA HOLANDA E RENATO MACHADO

BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - O presidente Lula (PT) terá um encontro na próxima sexta-feira (19), em Fortaleza (CE), com o ministro de Negócios Estrangeiros da China, Wang Yi, o principal nome da diplomacia do país asiático.

O encontro acontece quase um ano após o petista, acompanhado de uma grande comitiva, encontrar-se com o líder chinês Xi Jinping ao visitar a nação. Então, seu objetivo era remendar os laços com Pequim após os conflitos entre os dois países durante os anos Jair Bolsonaro (PL).

Lula deve reiterar a Wang o apoio do Brasil ao princípio de "uma só China", que rejeita o movimento separatista de Taiwan. A ilha, considerada uma província rebelde por Pequim, acaba de eleger um presidente ainda mais anti-China que a líder anterior, o que contribuiu para aumentar as tensões no estreito que a separa do continente.

Nesta quarta (17), por exemplo, o Ministério de Defesa de Taipé afirmou ter detectado 18 jatos da Força Aérea chinesa realizando exercícios em conjunto com navios de guerra ao redor de seu território --esta é a primeira atividade militar em larga escala que Pequim promove na região depois do pleito.

A viagem oficial de dois dias do chinês ao Brasil terá como objetivo estreitar as relações entre os dois países. O governo Lula trata a reaproximação com Pequim iniciada com sua viagem no ano passado como um "relançamento das relações sino-brasileiras".

Interlocutores no Planalto afirmam que a gestão petista pretende elevar as relações entre Brasil e China para "um outro patamar". E dizem acreditar que há a mesma disposição do lado de Pequim, tanto é que Brasília foi incluída no primeiro circuito internacional de Wang este ano.

A posição brasileira em favor do princípio de "uma só China" é histórica, mas ressaltá-la carrega um importante componente diplomático. Brasília ressaltou-a, por exemplo, em nota assinada com Pequim e divulgada durante a viagem de Lula à China, em abril do ano passado.

"A parte brasileira reiterou que adere firmemente ao princípio de uma só China, e que o governo da República Popular da China é o único governo legal que representa toda a China, enquanto Taiwan é uma parte inseparável do território chinês. Ao reafirmar o princípio da integridade territorial dos Estados, apoiou o desenvolvimento pacífico das relações entre os dois lados do Estreito de Taiwan. A parte chinesa manifestou o grande apreço a esse respeito", afirma trecho da declaração conjunta.

Lula parte nesta quinta-feira (18) para uma viagem ao Nordeste na qual passa por Bahia, Pernambuco e Ceará.

Em nível diplomático, o encontro do chanceler com Lula é uma sinalização para o país asiático. Não será a primeira vez que o petista prestigia autoridades chinesas em passagem pelo Brasil. Em setembro, por exemplo, o brasileiro recebeu no Palácio do Planalto o membro do Comitê Permanente do Politburo e secretário da Comissão Central de Inspeção Disciplinar do Comitê do Partido Comunista da China, Li Xi.

Antes de viajar à Fortaleza, Wang participará de uma série de agendas em Brasília. Ele terá, por exemplo, reuniões com o chanceler Mauro Vieira e com o assessor especial da Presidência para assuntos internacionais, Celso Amorim, ao lado de quem presidirá a quarta reunião do diálogo estratégico global Brasil-China.

A expectativa é que o evento discuta temas relacionados ao elo entre os dois países e também multilaterais e regionais. Haverá um enfoque especial para a presidência brasileira do G20, já que o governo Lula pretende aproveitar o fórum para discutir a reforma da governança global, em particular de organizações econômicas como o Banco Mundial e o FMI (Fundo Monetário Internacional).

Um dos pontos centrais da discussão será o papel do Brics recém-expandido na geopolítica mundial.

Durante a viagem à China no ano passado, Lula voltou a defender que a moeda chinesa seja utilizada com mais frequência no comércio mundial. O petista também defendeu usar o banco do Brics para contornar o dólar.

Os dois lados devem assinar atos na sexta-feira (19), entre eles um sobre a extensão do prazo de vistos.

Interlocutores no Planalto e no Itamaraty ainda afirmam que os conflitos na Ucrânia e na Faixa de Gaza vão receber atenção especial durante o encontro dos chanceleres. O Brasil buscou atuar na mediação de ambos os conflitos, sem sucesso.

O chinês também será recebido para um jantar no Palácio do Itamaraty, na noite de quinta-feira (18).

Além das questões geopolíticas, o Brasil também busca reforçar os laços econômicos e atrair ainda mais investimentos chineses. O país asiático é, desde 2009, o maior parceiro comercial do Brasil.

Em 2023, a corrente de comércio chegou a US$ 157,5 bilhões, com exportações brasileiras de 104,3 bilhões e importações de US$ 53,2 bilhões.

Antes de chegar ao Brasil, o chanceler chinês passou por Egito, Tunísia, Togo e Costa do Marfim. O chefe da diplomacia da China também deverá ir para a Jamaica.