Israel reforça intenção de invadir sul de Gaza e fala em plano para retirar civis

Por Folhapress

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Em um alarme cada vez mais claro de que pretende invadir Rafah, no sul de Gaza, o governo de Binyamin Netanyahu anunciou nesta segunda (26) que as Forças de Defesa de Israel apresentaram ao gabinete de guerra um plano para retirar a população civil da região.

O comunicado foi feito brevemente por meio das redes sociais e não forneceu qualquer detalhamento de como seria feita a retirada das centenas de milhares de deslocados internos do conflito que hoje residem nesta região de fronteira com o Egito.

No mesmo breve comunicado, o governo diz que os militares também apresentaram "o próximo plano operacional", dando a entender que falava-se sobre o ataque a Rafah, onde Tel Aviv e parceiros como os Estados Unidos dizem que estão os últimos bastiões da facção Hamas.

De acordo com o governo, também foi aprovado um plano para poder "fornecer ajuda humanitária a Gaza de forma que evite os saques que ocorrem no norte e em outras áreas".

O trecho se referia às denúncias de que membros do Hamas teriam roubado suprimentos enviados por outros países e por organizações internacionais para os civis. Por outro lado, também há reclamações de que a ajuda internacional chega a conta-gotas à Faixa, relegando os civis a ainda mais dificuldades e a dramas como a fome.

Os planos anteriores de retirada de civis anunciados por Israel nas porções norte e central de Gaza também foram alvos de críticas. Os militares chegaram a despejar panfletos de aviões afirmando que a população precisava ir para o sul para fugir dos ataques e indicava caminhos supostamente seguros. Mas mesmo nestas vias assinaladas por Tel Aviv houve relatos de ataques aéreos que mataram deslocados.

Também nesta segunda-feira, o secretário-geral da ONU, o português António Guterres, disse que um ataque israelense a Rafah teria consequências devastadoras. "Um ataque total não seria apenas aterrorizante para mais de 1 milhão de civis abrigados lá, isto colocaria o último 'prego no caixão' dos nossos programas de ajuda."

Afinal, é por Rafah que a ajuda internacional tem sido escoada por Gaza. Na fronteira com o Egito, e em volume cada vez menor, entram os caminhões com ajuda humanitária internacional.

Guterres também criticou a paralisia no Conselho de Segurança, mais alta instância de decisões das Nações Unidas, que até aqui tem falhado em ações para conter o conflito em Gaza.

Há uma semana e pela terceira vez, os EUA vetaram uma proposta de resolução para determinar um cessar-fogo imediato.

O secretário-geral disse que o Conselho tem se mostrado incapaz de agir sobre as questões de paz e de segurança mais significativas dos tempos atuais. Além do fracasso em avançar em resoluções sobre a guerra Israel-Hamas, o conselho também fracassou na agenda da Guerra da Ucrânia, que recém-completou dois anos, com a Rússia, membro permanente, barrando várias resoluções contra si.

"A falta de unidade do Conselho em relação à invasão da Rússia na Ucrânia e às operações militares de Israel em Gaza, após os terríveis ataques terroristas do Hamas em 7 de outubro, minou severamente -- talvez fatalmente-- sua autoridade", disse ele.

Na noite de domingo (25), horas antes do anúncio do governo, o premiê Netanyahu afirmou que a operação militar em Rafah poderia ser "um pouco atrasada" caso um acordo para trégua e libertação dos reféns que seguem sob controle do Hamas fosse alcançado.

Na semana passada, Paris acolheu conversas sobre esse possível acordo. As tratativas seguem nesta semana no Qatar, emirado que tem atuado como um dos principais negociadores diplomáticos do atual conflito e que abriga lideranças do Hamas.

Ocorre que membros da facção não participaram das conversas na capital francesa, e está pouco claro se estão de acordo com os termos do acordo que vêm sendo ajustados.

Netanyahu, no entanto, acrescentou que um acordo apenas adiaria a invasão, não a cancelaria. Estima-se que mais de 1,4 milhão de palestinos vivem em Rafah atualmente, o que corresponde a mais da metade da população da Faixa no início do atual conflito.