Polícia do Haiti faz operação em reduto de Barbecue, principal líder de gangues

Por Folhapress

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A Polícia Nacional do Haiti realizou uma operação no reduto da gangue liderada por Jimmy Chérizier, conhecido como Barbecue, nos arredores de Porto Príncipe, que resultou na morte de várias pessoas, de acordo com detalhes divulgados neste sábado (16) pelo sindicato da polícia.

Gangues controlam áreas inteiras do Haiti, incluindo 80% da capital, e são acusadas de homicídios, roubos, estupros e extorsões mediante sequestros.

Realizada na sexta-feira (15) à tarde por várias unidades da Polícia Nacional, a operação aconteceu no distrito de Bas Delmas com o objetivo de desbloquear uma via, afirmou Lionel Lazarre, coordenador do Sindicato Nacional da Polícia Haitiana (Synapoha). Não há informações sobre quem e quantos são os mortos.

Segundo informação da Autoridade Portuária Nacional obtida pela agência de notícias AFP, a polícia também tentava, na manhã deste sábado, recuperar o controle do principal terminal marítimo de Porto Príncipe, depois de novos ataques de gangues, que saquearam diversos contêineres.

A Caribbean Port Services S.A., que opera o porto da capital, havia anunciado no último dia 7 a suspensão de suas atividades devido a "atos de sabotagem e vandalismo".

Porto Príncipe tem sido palco de uma onda de violência realizada por gangues nas últimas semanas e, na sexta, a situação ainda se mantinha tensa, de acordo com a ONU, afetando a população civil.

"Ariel Henry renunciou, mas ainda estamos ameaçados", afirmou Claude Atilus, morador de Porto Príncipe. Um homem caminhava pela praça Champ de Mars carregando um caixão branco sobre a cabeça, enquanto mais adiante, no bairro Delmas, uma área extensa da cidade, pneus em chamas e bloqueios nas estradas marcavam as ruas.

"A situação não é boa para nós", disse o vendedor Jean-Phillipe Jean-Louis, afirmando que estava exausto, que preços de matérias-primas estavam exorbitantes e que trabalhar nas ruas ainda era muito perigoso. "Quando nós, comerciantes, saímos para as ruas em busca de dinheiro para alimentar nossos filhos e esposas, não encontramos nada."

Chérizier, ou Barbecue, é um dos rostos mais conhecidos da nova aliança de gangues que domina a capital haitiana e que têm falado com jornalistas e realizado entrevistas coletivas. Na última quinta-feira (14), ele voltou a ameaçar políticos do país em mensagem direcionada a líderes com intenções de participar do conselho transitório de governo, que ocupará o vácuo político depois da renúncia de Henry.

Para alguns analistas, a renúncia está ligada ao agrupamento das gangues, que recentemente passaram a atuar de forma conjunta --tentando não somente ampliar seu controle pela capital como se transformar em uma força política capaz de participar das negociações que estão sendo intermediadas por governos estrangeiros.

O aliado político mais proeminente dos criminosos é Guy Philippe, ex-comandante da polícia e líder golpista que cumpriu seis anos de prisão nos EUA por lavagem de dinheiro proveniente do tráfico de drogas antes de ser deportado ao Haiti no final do ano passado. Philippe liderou a pressão para que Henry renunciasse e agora está pedindo abertamente que as gangues sejam anistiadas.

Henry renunciou ao cargo em vídeo publicado nas redes sociais do governo. Ele será substituído por um conselho de transição presidencial cujo objetivo é abrir caminho para as primeiras eleições no país desde 2016.

As negociações sobre o conselho foram intermediadas por líderes da Comunidade do Caribe (Caricom) e pelo secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, mas as nomeações formais ainda não foram feitas. Neste sábado, a França, país que foi a colonizadora do Haiti até sua independência, expressou seu desejo de que o país organize "rapidamente" eleições.

Henry assumiu o cargo de primeiro-ministro em julho de 2021, cerca de duas semanas depois do assassinato a tiros do presidente Jovenel Moïse, que o tinha indicado ao posto. Dois meses depois, foi acusado pela Procuradoria-Geral de ter participado do crime. Henry demitiu o responsável pela acusação e adiou indefinidamente as eleições, segundo ele para que a segurança fosse restabelecida.

Seu governo vinha atuando interinamente desde então --mas não sem a oposição da população local, que o considera um político corrupto cuja ascensão ao poder foi ilegítima.

No início de março, Henry viajou para Nairóbi para finalizar um acordo para que forças de segurança lideradas pelo Quênia fossem enviadas ao Haiti. Durante sua ausência, as gangues fecharam o aeroporto, saquearam portos, atacaram uma dezena de delegacias de polícia e libertaram mais de 4.000 detentos.

A escalada drástica de violência em Porto Príncipe impediu o avião de Henry de aterrissar no aeroporto da capital, e ele seguiu para o território americano de Porto Rico depois que a vizinha República Dominicana, que no ano passado fechou sua fronteira com o Haiti, também negou autorização de pouso à aeronave.

Nesse contexto, o Quênia suspendeu o envio de mil policiais ao Haiti previsto como parte da missão multinacional aprovada pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas. Depois, o presidente do país, William Ruto, prometeu que as forças seriam, sim, enviadas assim que o conselho de transição seja constituído para governar o Haiti.