Considerações sobre a taxa de juros
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:::15/08/2007
Quem lembra da inflação galopante que deslanchou na segunda metade dos anos 80 e prevaleceu até o início de 1994 pode acreditar que a inflação nos dias atuais está controlada e que até nem temos inflação. Realmente, naquela época a remarcação de preço chegou a ser diária. Antes da implementação do Plano Cruzado, no início de 1986, a inflação beirou a casa dos 20% ao mês. Quando Sarney deixou a presidência, a mesma ultrapassou os 80% ao mês. No início de 1994, havia uma expectativa de aquele ano fechar com inflação de 5.000%, caso o Plano Real não tivesse sido implementado (tanto é que em junho daquele ano, a inflação chegou a 50% ao mês).
Enfim, naqueles períodos, os agentes econômicos não tinham noções de preços relativos e tinham o seu planejamento, desde um orçamento doméstico até uma planilha de receitas e despesas na área empresarial, com sérias dificuldades de formulação e acompanhamento.
Então, quando comparamos os dias atuais com esses exemplos supracitados sentimos certo alívio, pois de um modo geral, parece-nos que os preços na economia estão sob controle. Com isso, planejar gastos, despesas e investimentos fica muito mais fácil. Deus nos livre e guarde dos exemplos destacados acima. Foi uma época terrível, com planos econômicos de resultados efêmeros, mudanças contínuas de moeda etc. Entretanto, isso não quer dizer que não temos inflação, basta verificar alguns exemplos.
Lembro ainda da época em que foi implementado o Plano Real, em 01 de julho de 1994, pelo presidente Itamar Franco. Nessa época eu era estudante de Ciências Econômicas da Universidade Federal de Alagoas e junto com um amigo (Arnaldo) fomos a uma agência bancária trocar nossos Cruzeiros Reais (moeda da época) pelo Real. Cada R$ 2.750 valia R$ 1, que na época correspondia a US$ 1. Naquela época a passagem de ônibus urbana custava R$ 0,33 em Maceió.
Hoje, os alagoanos pagam R$ 1,70 (aumento de 415,15%). O pulso telefônico custava R$ 0,03 e até bem pouco tempo custava quase R$ 0,12 (acréscimo de 300%). Comprava- se um gás de cozinha por R$ 5 e hoje pagamos cerca de R$ 37 (elevação de 640%). E se for falar em energia elétrica, aí é que o aumento no preço foi incomensurável. E por aí seguem os aumentos de preços nos bens e serviços essenciais à população. Um dos fatores que explica esses abusivos reajustes é a própria estrutura de mercados dos mesmos que é concentrada, seja por monopolistas (apenas um vendedor) ou oligopolistas (poucos vendedores).
E com relação à inflação de demanda, aquela causada por um excesso de demanda na economia, será que a mesma existe? Acredito que se houvesse realmente uma grande procura por bens e serviços na economia brasileira, seria sinal de que o desemprego estaria em queda e aí eu pergunto mais uma vez: quantas pessoas vocês conhecem que estão desempregadas ou sub-empregadas, com salários muito baixos? Sendo assim, qual o potencial dessas pessoas em aquecer demasiadamente a demanda a ponto de provocar um descontrole da inflação? E tem mais, com a taxa de câmbio apreciada, os produtos importados têm e muito ajudado no controle da inflação, pois os mesmos estão mais baratos e competem (às vezes deslealmente) com os nacionais.
Sendo assim, acredito que não temos uma inflação como àquela dos anos 80 e início dos anos 90, bem como não acredito numa inflação de demanda que justifique juros elevadíssimos. O que realmente temos é uma inflação de custos.
Fernando Antônio Agra Santos é Economista pela UFAL (Universidade Federal de Alagoas), Doutor em Economia Aplicada pela Universidade Federal de Viçosa (UFV) e professor universitário das faculdades Vianna Júnior, Estácio de Sá e Universo e do curso de Formação Gerencial do Instituto Educacional Machado Sobrinho, sendo todas a instituições em Juiz de Fora - MG.
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