Economia e corrup??o
Economia e corrupção
Há bastante tempo que quero escrever sobre a correlação entre o crescimento e o desenvolvimento da economia e a evolução da corrupção. Até que ponto, os rumos da economia brasileira ficam comprometidos à medida que a corrupção aumenta?
Na semana passada, a Polícia Federal, através da "Operação Pasárgada", prendeu vários prefeitos e outras tantas autoridades públicas em alguns Estados. Os mesmos são suspeitos de integrarem uma quadrilha que desviava recursos do Fundo de Participação dos Municípios. E que quadrilha! Não é à toa que a Polícia Federal trabalhou oito meses nessa operação e envolveu um contingente expressivo de policiais para prender toda essa corja. E o que impressiona também é como esses esquemas de desvio de dinheiro público se espalham pelo País de modo organizado. Isso mostra como o know-how do crime contamina políticos inescrupulosos.
Especificamente em Juiz de Fora o prefeito Alberto Bejani foi preso também. Os veículos de comunicação nacionais divulgaram as apreensões realizadas pela Polícia Federal numa das residências do prefeito: cifras milionárias, bem como amas de uso exclusivo de certo tipo de polícia, diversos automóveis etc. E aí uma pergunta vem à tona: será que com o salário de prefeito que ele ganha é possível possuir todo esse patrimônio? Espero que a Receita Federal, em consonância com a Polícia Federal consiga esclarecer essas questões.
Agora vamos à relação entre a corrupção e a economia. Como todo aluno de Economia estuda no primeiro ano de faculdade, o fluxo circular da renda precisa fluir normalmente para que a interação entre famílias, empresas, governo e o resto do mundo consigam exercer seus papéis no crescimento econômico. Entretanto, variáveis como uma elevada carga tributária e juros estratosféricos são gargalos nesse fluxo. E uma vez que as regalias de certos cargos públicos e a corrupção ampliam ineficientemente os gastos públicos, o próprio governo busca vorazmente na elevação da carga tributária, uma maneira de sustentar sua máquina. E quanto maiores as alíquotas e o número de impostos, menor será a renda disponível na economia. Isso diminui a demanda e amplia e prejudica a geração de empregos.
E tem mais: como parcela considerável dos impostos brasileiros incide sobre o consumo, o efeito é muito perverso nas classes mais pobres, que possuem uma maior propensão a consumir de sua renda disponível. Isso que dizer que, como essas classes gastam maior parte de sua renda com consumo (e quanto mais pobres, maior é a parcela com consumo de bens essenciais, como alimentos, por exemplo), o percentual da tributação sobre os seus rendimentos é por demais elevado e perverso. E o pior disso tudo é que a saúde, a educação, a segurança entre outras obrigações do setor público para com a sociedade estão cada vez mais questionáveis quanto à sua eficiência, sobretudo para essas classes mais pobres.
Outro efeito terrível da corrupção na economia é o crescimento da concentração de renda em certas classes de pessoas que ocupam cargos no setor público e são beneficiadas ilicitamente com suas práticas repugnantes de assalto aos cofres públicos. Isso amplia a pobreza de muitas pessoas e as coloca à margem do consumo. E quanto menos consumo, menores serão os investimentos, menos empregos serão gerados e menor será a demanda agregada, conforme foi discutido no parágrafo imediatamente anterior.
O que chama muita atenção com relação à corrupção são as cifras milionárias apresentadas pela imprensa. Entretanto, a população esquece que, por menor que seja um delito, quando alguém o pratica também está sendo corrupto. O que muda é o valor do roubo: de um centavo para um milhão. É roubo do mesmo jeito. No sábado, uma reportagem num jornal local destacou o roubo de fios, parafusos de trilhos de trem, tampas metálicas de bueiros etc., que vândalos têm praticado aqui em Juiz de Fora. E aí eu pergunto: alguns políticos (isso só vale para os corruptos) são espelhos da sociedade ou vice-versa?
Realmente é preciso combater a corrupção. Isso será possível com o fim da impunidade. Mas a sociedade precisa combater a corrupção em todas as suas esferas: desde a devolução de um troco errado ao caixa do supermercado como o usufruto correto das verbas públicas. Assim, uma melhor distribuição de renda amplia o potencial de demanda de toda a sociedade, que junto com investimentos em infra-estrutura, pode fazer a oferta de bens e serviços crescer sem (ou com menores) pressões inflacionárias. E para finalizar: quando cada um de nós adota uma postura ética e honesta nas relações pessoais e profissionais dá um grande passo em busca de uma sociedade melhor e mais justa.
Fernando Antônio Agra Santos é Economista pela UFAL (Universidade Federal de Alagoas), Doutor em Economia Aplicada pela Universidade Federal de Viçosa (UFV) e professor universitário das faculdades Vianna Júnior, Estácio de Sá e Universo e do curso de Formação Gerencial do Instituto Educacional Machado Sobrinho, sendo todas a instituições em Juiz de Fora - MG.
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