Fernando Agra Fernando Agra 10/11/2010

Câmbio, juros, inflação e dívida pública

vários patamares com porcentagem e dinheiroPrezado leitor, ultimamente variáveis macroeconômicas, como taxa de câmbio, inflação, taxa de juros e dívida pública, têm ganho espaço nos noticiários. Qual a relação entre as mesmas? Como que estas afetam o nosso dia a dia?

Guerra cambial tem sido um termo bastante falado nos noticiários. O que quer dizer isso mesmo? Países, como a China, têm desvalorizado artificialmente a sua moeda para estimular as exportações de seus produtos e com isso, gerar mais emprego e renda e promover seu crescimento econômico. Entretanto, o mercado internacional de câmbio é que deve ser o balizador das cotações entre as moedas.

Quando alguns países praticam o que fora supracitado, promove uma guerra cambial que prejudica países, como o Brasil, que tem visto cada vez mais o Real se apreciar. Isso ajuda a controlar a inflação (Âncora Cambial), mas prejudica as nossas empresas: exportadoras, que perdem competitividade no mercado internacional; e nacionais, que passam a concorrer no mercado interno com produto importados muito baratos. Isso é bom para o consumidor, num primeiro momento, mas se persistir, o Brasil pode passar por um processo de desindustrialização e ver o desemprego aumentar nesses setores.

Independente das práticas citadas acima, o fato de o Brasil possuir uma das mais altas taxa de juros reais do mundo (hoje a SELIC é de 10,75% ao ano) contribui para a apreciação cambial, pois atrai capitais especulativos em busca de retornos nos títulos da dívida pública brasileira. Vale ressaltar também que o fato de o Brasil ter apresentado bons resultados no crescimento econômico nos últimos anos (exceto em 2009 por conta da crise internacional), muitas empresas estrangeiras aportaram por aqui e, com elas, o ingresso de dólares só aumenta e contribui ainda mais para a valorização do Real.

Os nossos juros elevados somente contribuem para ampliar a dívida pública e diminui a capacidade do País de investir em infraestrutura e de melhorar a qualidade dos serviços públicos.

Uma dívida pública de R$ 1,6 trilhão a uma SELIC de 10,75% faz com que o País pague mais de R$ 170 bilhões somente de juros para o capital financeiro especulativo, representado principalmente pelos bancos. Caros leitores, vocês já viram bancos brasileiros entrarem em crise?

E por que os juros não diminuem se o País já é bastante confiável no cenário internacional.

Especialistas no assunto dizem que fatores políticos impedem essa queda. Dizem que o poder dos bancos para que o governo pratique juros altos é muito forte. E o pretexto é a famosa Âncora Monetária, ou seja, juros são altos para combater a inflação. Mas vale ressaltar que tal instrumento somente combate inflação de demanda. Será que temos esse tipo de inflação ou a que temos é inflação de custos? Pois se for de custos (causada por aumento de preços de matérias-primas essenciais ao funcionamento da economia, como energia elétrica, água, gás, combustíveis etc.), juros altos até aumentam os custos de produção das empresas e contribuem para que os preços finais sejam mais altos.

Ainda por falar em juros altos, virou um bom negócio emprestar dinheiro no Brasil, que algumas lojas criaram as próprias financeiras e oferecem crédito, mesmo que não seja para comprar na própria loja. Caros leitores: cuidado com as armadilhas do falso crédito fácil.

Isso mostra que é inócuo querer combater inflação de custos com juros altos. Esta deve ser combatida com ampliação da capacidade produtiva do País e desoneração da carga tributária. Nossos tributos são tão altos e, com isso, os preços das nossas mercadorias são elevados. E pior, o leitor pode ficar revoltado pois pagamos muitos tributos e a saúde, educação, segurança, entre outros serviços públicos ainda precisam melhorar muito. E pior ainda é verificar as regalias da classe política e seus esquemas de corrupção. E olha que a famigerada CPMF pode voltar das profundezas do mal para assombrar nossas transações financeiras. Vade reto imposto dos infernos!



Fernando Antônio Agra Santos é Economista pela Universidade Federal de Alagoas (UFAL), Doutor em Economia Aplicada pela Universidade Federal de Viçosa (UFV) e professor universitário das faculdades Vianna Júnior, Estácio de Sá, Universo e da Fundação Educacional Machado Sobrinho, todas a instituições em Juiz de Fora - MG. O autor ministra palestras, para empresas, na área de Educação Financeira.


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