Cvão Kellab

Por


Cr?o Kellab
O ator juizforano solta o verbo!


T?mara Lis
13/05/03

"Voc? tem que acreditar no seu sonho!" Assim come?a nosso bate-papo com o ator, modelo e assistente de dire??o Cr?o Kellab. Um rapaz que saiu de Juiz de Fora, h? 14 anos, para realizar um sonho e hoje ? exemplo para muitos garotos negros que, como ele, vivem em um pa?s com oportunidades desiguais, mas que esperam por uma vida melhor.

O ?ltimo trabalho deste juizforano foi o personagem Marcelino em "A Casa das Sete Mulheres", da Rede Globo. Agora ele se prepara para fazer uma participa??o na novela Kubanacan. Mas o gosto pelo teatro ele adquiriu aqui na cidade, quando ainda pequeno participou das apresenta?es teatrais do TIA (Teatro Infantil da Academia). Em entrevista exclusiva, por telefone, ao Portal JF Service/ACESSA.com, Cr?o Kellab fala de seus projetos e conquistas. Confira!

JF Service - Hoje as portas j? se abrem com uma certa facilidade para voc?. A participa??o em algumas novelas e comerciais deixa as coisas mais f?ceis. Mas o in?cio de carreira ? sempre mais complicado. Como voc? come?ou?

Cr?o Kellab - O come?o da minha carreira n?o foi nada f?cil. Morei durante dois meses em um banco de rodovi?ria do Rio de Janeiro. Fui para l? apenas com o sonho de me tornar um ator reconhecido mas sem nada certo. Foi na rodovi?ria que conheci o Andr? Gon?alves (ator) que morava em uma favela l? perto e vendia ?gua na rodovi?ria. Ficamos amigos e estamos atualmente trabalhando juntos na montagem de uma pe?a teatral.


JF Service - Al?m da pe?a que outros trabalhos voc? est? realizando?
Cr?o Kellab - Atualmente, viajo pelo pa?s dando cursos de interpreta??o para TV. Inclusive devo chegar com este curso, em Juiz de Fora, em junho junto com Paulo Vilhena e Cl?udio Corr?a e Castro. Tamb?m tenho projetos com moda e assist?ncia de dire??o em comerciais.


JF Service - Mas n?o podemos conversar com voc? sem falar de seu trabalho na miniss?rie "A Casa das Sete Mulheres" da rede globo. Como foi o trabalho em uma superprodu??o?

Cr?o Kellab - Foi ?timo trabalhar com o Jaime Monjardim. O texto ? ?timo e foi f?cil trabalhar, porque o elenco j? era amigo fora do trabalho. N?o tinha estrelas, era um belo ping-pong todos jogando a bola um para o outro. Era cansativo fisicamente porque pass?vamos dias envolvidos na grava??o, fazendo cenas de luta, andando a cavalo. Mas o relacionamento era muito bom entre todos: c?meras, produ??o, contra-regra. A Casa das Sete Mulheres foi uma d?diva de Deus para a televis?o brasileira.


JF Service - Voc? ainda tem contrato com a emissora? J? tem algum outro projeto em vista na TV?

Cr?o Kellab - Tenho contrato com a Globo at? agosto. Eu ia participar de Malha??o fazendo um capoeirista, mas houve uma mudan?a no roteiro e decidiram colocar um garoto mais novo para fazer o papel. Devo fazer alguma coisa na nova novela Kubanacan. Al?m disto sou modelo da Mega. Atualmente estou trabalhando em um projeto muito interessante com um cineasta que est? fazendo um document?rio sobre os cariocas e um dos personagens do document?rio sou eu. As pessoas acham que nasci no Rio. Vivo no Rio de Janeiro h? 14 anos e, infelizmente, n?o vou muito para Juiz de Fora. Sempre estou viajando e fa?o presen?a em casas noturnas de outras cidades.


JF Service - Este document?rio faz lembrar um reality-show?

Cr?o Kellab - Sim! Estou sendo filmado quando acordo escovo os dentes, as minhas sa?das para dan?ar, as coisas que gosto de fazer. Outras personagens do filme s?o Vera Loyola, Camila Pitanga e o Jonathan que fez Cidade de Deus. Neste filme estou trabalhando tamb?m como assistente de dire??o.


JF Service - Quem assistir ao filme ent?o vai poder conhecer um pouco mais de voc?, do que gosta de fazer, dos lugares que freq?enta... Quais s?o seus passatempos preferidos?

Cr?o Kellab - Gosto de dan?ar, praticar esportes, adoro movimento. N?o abro m?o de me exercitar. Eu amo vida noturna mas tenho muito medo porque trabalho com a imagem. Ent?o tenho que cuidar muito bem de onde vou. Vim para o Rio com o prop?sito de fazer uma carreira e n?o de fazer sucesso. E isto ? mais delicado. Eu n?o quero ouvir dizer "eu conheci o Cr?o que fez a pe?a tal".


JF Service - Por falar em pe?a, voc? tamb?m j? andou fazendo sucesso no teatro, n?o ??

Cr?o Kellab - O meu maior sucesso no teatro foi a "Gaiola das Loucas", com Jorge D?ria. Eu sou um cara de teatro, no palco ? que me sinto em casa. Em Juiz de Fora fazia parte do Tia - Teatro Infantil da Academia. Eu n?o estou fazendo o que fa?o por ego. Quero ser famoso sim! Mas pelo meu trabalho.


JF Service - Voc? comentou sobre o cuidado com sua imagem. Voc? j? foi capa da "G Magazine" posando nu. Voc? n?o teve medo que este tipo de exposi??o pudesse prejudicar a sua imagem ou afetar os trabalhos que voc? desenvolve para a ag?ncia de modelos?

Cr?o Kellab - Quando fiz a "G Magazine" tive que pensar muito. Tive medo de ter problemas com a minha imagem. Al?m do mais n?o sou um cara forte, malhado. Mas o convite veio na ?poca que a revista ainda era uma pol?mica, era novidade e isto me excitou um pouco. Fique indeciso mas a Ingra Liberato (atriz) e a Luciana Mello (cantora) me incentivaram. Conversei com o Matheus Carrieri e com o Vampeta que j? haviam posado para a revista e eles tamb?m me incentivaram. Naquela ?poca a "G Magazine" tinha um glamour parecido com o da Playboy. Financeiramente era legal e eu fiz. Mas tive a preocupa??o com o que estava fazendo. Sa? do meu caminho, mas com a mesma qualidade que cuido da carreira cuidei das fotos. Acompanhei todo o trabalho.


JF Service - Quando voc? est? em Juiz de Fora que lugares gosta de freq?entar?

Cr?o Kellab - Em Juiz de Fora eu n?o me escondo. Gosto de festa em casas de amigos, de andar de bicicleta, tento ser o mais normal poss?vel. Meu pai tem uma peixaria, a Peixaria S?o Mateus. Eu estava em Juiz de Fora na Semana Santa e aproveitei que estava de bicicleta e fui fazer uma entrega para a peixaria do meu pai. A senhora que me recebeu me reconheceu e ficou tensa. N?o me perguntou quem eu era, mas eu vi que ela me reconheceu, ficou cheia de aten??o, me ofereceu caf?, ?gua.... Quando estou em Juiz de Fora vou aonde meus amigos me levam. Vou muito ao Privill?ge, mas gosto tamb?m de ir a lugares novos, de ter contato com o povo. J? fui at? em baile funk. Gosto do contato com as pessoas humildes.


JF Service - Voc? tem um sonho que ainda n?o realizou?

Cr?o Kellab - Meu sonho ? abrir uma ONG no bairro Santa Cec?lia. Minha av? morou l? muito tempo e comprei uma casa l?. J? levei at? o Cidade Negra para conhecer o bairro. Quero abrir uma ONG que vai ter capoeira, dan?a. Aquele bairro ? muito esquecido e o ?lcool faz parte do cotidiano das pessoas. As crian?as tamb?m bebem muito. As crian?as do bairro n?o t?m divers?o. Existem bairros mais distantes do centro que t?m mais infra-estrutura. No bairro Santa Cec?lia existem ruas que n?o s?o asfaltadas, as casas s?o de tijolo sem pintura. Gostaria de fazer uma parceria com os moradores para arrumar estas casas mas fico muito tempo distante e n?o posso fazer tudo sozinho. Estou aberto ? ajuda.


JF Service - Os negros no Brasil ainda enfrentam muitos preconceitos. Voc? sofreu muito com a discrimina??o?

Cr?o Kellab - Sempre fui uma pessoa que nunca ligou muito para o preconceito. Fui capa da revista Ra?a Brasil duas vezes, contra-capa da Capricho, capa da G Magazine e isto marcou muito para a comunidade negra. Sem falsa mod?stia, eu sei que sou refer?ncia para a comunidade negra. Em Juiz de Fora, eu tinha um preconceito comigo mesmo, com a minha negritude, achava que para ser aceito tinha que adotar os padr?es europeus. Quando cheguei ao Rio de Janeiro eu tive um choque de cultura. Hoje eu me assumo e uso cabelo black power.

Para fazer o Didi, no filme Garrincha, uma estrela solit?ria cortei o cabelo e pintei de preto. Agora meu cabelo est? largado. Eu me expresso muito no cabelo e n?o tenho que raspar o meu cabelo porque ele n?o ? ruim. Sou descendente de negros com ?ndios e meu cabelo n?o podia ser diferente. Aproveito o meu espa?o e tenho esta responsabilidade com a popula??o negra.


JF Service - Um ?ltimo recado:

Cr?o Kellab - ? bom estar falando estas coisas para voc?, porque em Juiz de Fora n?o sou convidado a falar sobre o meu trabalho. Vou a? sempre mas n?o sou convidado para fazer muitas coisas, nunca ouviram estas coisas antes de mim porque nunca me perguntaram. As pessoas n?o t?m no??o do meu trabalho no Rio de Janeiro. N?o h? um reconhecimento por parte da cidade. Tem at? programas de TV que chamam os meus amigos todos aqui do Rio quando v?o para a? fazer alguma coisa, mas comigo nunca agendam nada. Sempre dizem: vamos fazer, vamos marcar, mas n?o marcam nada! Por isso mesmo, algumas pessoas de Juiz de Fora acham que eu sou do Rio de Janeiro, nem sabem que sou da cidade. Sinto muito por isso!