Marido de cônsul alemão foi vítima de crime intencional, diz polícia

Por MATHEUS DE MOURA

RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) - A delegada Camila Lourenço, da Polícia Civil do Rio de Janeiro, afirmou nesta segunda-feira (8) que um traumatismo craniano resultou na morte do belga Henri Maximilien Biot, 52, e que ele foi vítima de um crime intencional.

O marido dele, o cônsul alemão Uwe Herbert Hahn, 60, está preso desde o último sábado (6) sob suspeita de ser o autor do homicídio. O belga foi encontrado sem vida por bombeiros na noite do dia anterior na cobertura em que o casal vivia em Ipanema, na zona sul da capital.

"Não há dúvidas em relação à existência ou a prática de crime doloso contra a vítima", disse a delegada titular da 14ª DP, no Leblon, em entrevista à imprensa nesta segunda (8).

A reportagem procurou Leonardo Monteiro Villarinho, advogado do cônsul alemão, mas ele não atendeu as ligações.

De acordo com Lourenço, as características do corpo do belga sugerem que ele possa ter sido espancado. "Dizem que cadáver não fala, mas ele fala sim. Através das múltiplas lesões espalhadas pelo corpo a gente consegue ter uma noção de como ocorreu aquele evento."

A delegada confirmou ainda que a polícia encontrou vestígios de sangue na cama do quarto e no banheiro.

O apartamento no Rio foi limpo antes da chegada da perícia. Esse foi um dos argumentos usados pela Justiça para manter a prisão do cônsul alemão.

"Ressalta-se que foi feita uma limpeza no apartamento antes da realização do exame pericial, fato que, por si só, demonstra que a liberdade do custodiado poderia acarretar sérios gravames à colheita das provas necessárias ao julgamento da demanda", escreveu o juiz Rafael de Almeida Rezende.

Em depoimento na delegacia do Leblon na noite de sábado, a secretária do cônsul --que não terá o nome divulgado para preservar sua identidade-- afirmou que limpou o chão da varanda da casa porque o cachorro do casal estava lambendo uma poça de sangue.

A morte, decretada às 22h35, teria acontecido, segundo depoimento do suspeito, após o belga ter passado mal subitamente e caído de frente no chão, na divisa da sala com a varanda, batendo a cabeça.

Durante o atendimento emergencial a Biot, na noite de sexta (5), a Divisão de Homicídios foi acionada, porém considerou que não havia indícios claros do crime. Com isso, o local não passou por perícia imediatamente.

O exame de necropsia do IML constatou hematomas, escoriações e outros tipos de lesão em mais de 15 pontos do corpo do belga. Além disso, apontou que a causa da morte foi traumatismo craniano causado por "ação contundente".

No inquérito policial, a defesa de Hahn argumentou que a imunidade diplomática do cônsul tornaria arbitrária e ilegal a prisão dele.

Contudo, também no relatório policial, consta que "sob o ponto de vista de imunidades consulares, a Convenção de Viena sobre Relações Consulares (Decreto 61.078, de 25 de julho de 1967), citada no verso da Carteira de Registro Diplomático do senhor Uwe Herbert Hahn, prevê, como regra geral, que funcionários consulares não poderão ser detidos nem presos preventivamente, porém abre exceção para 'caso de crime grave e em decorrência de autoridade judiciária competente'".