Cirurgião suspeito de cárcere é denunciado por tentativa de homicídio no Rio

Por Folhapress

RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) - O Ministério Público do Rio de Janeiro denunciou o cirurgião plástico Bolívar Guerrero Silva e a técnica de enfermagem Kellen Cristina de Queiroz dos Santos sob suspeita de tentativa de homicídio qualificado contra a paciente Daiana Cavalcanti.

O caso ganhou repercussão após a Polícia Civil prender o cirurgião no dia 18 de julho, no hospital particular Santa Branca, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, sob suspeita de ele manter a paciente em cárcere privado.

A reportagem não conseguiu contato com a defesa do médico sobre a acusação de tentativa de homicídio. Em outras ocasiões, ele negou o cárcere e disse que não liberou a paciente porque ela não tinha assinado um termo de responsabilidade.

Já o advogado Renato Darlan, que já representou o cirurgião no processo e hoje atua somente na defesa de Kellen Santos, afirma que não há irregularidades na conduta da técnica de enfermagem nem elementos para a denúncia contra ela.

Nesta quinta (18), a 3ª Promotoria de Investigação Penal Territorial do Núcleo Duque de Caxias também pediu a prisão preventiva do médico, sem prazo para expirar. No final de julho, o órgão havia obtido a prorrogação da prisão temporária dele por 25 dias.

De acordo com a denúncia, Silva realizou cirurgias para fins estéticos nas nádegas, nas costas e no abdômen de Daiana, que, em razão de complicações causadas pelos procedimentos, retornou ao hospital com dores abdominais e inflamação dos pontos de sutura. A paciente apresentou agravamento do quadro clínico e foi novamente internada, aponta a Promotoria.

A instituição afirma que, mesmo com a mulher debilitada, o médico, sem exigir exames, submeteu a paciente a mais uma abdominoplastia para correção dos danos.

"Ao fazer a nova cirurgia, o denunciado conhecia a possibilidade de provocar a morte da paciente e consentiu na produção desse resultado, na medida em que se mostrou completamente indiferente às suas condições de saúde", diz trecho da denúncia.

Ainda segundo o Ministério Público, Silva constatou que não conseguia reverter o quadro clínico e, com o objetivo de ocultar as consequências de sua conduta, recusou-se a transferir Daiana para outro hospital.

Já a técnica de enfermagem Kellen Cristina de Queiroz dos Santos é acusada de ter convencido Daiana a realizar a cirurgia mesmo estando debilitada. Ela também esteve presente na realização do ato cirúrgico sem capacitação técnica, diz a acusação.

O advogado Renato Darlan, que já representou o cirurgião no processo e hoje atua somente na defesa de Kellen, afirma que não houve irregularidades na conduta da técnica de enfermagem nem elementos para a denúncia contra ela por tentativa de homicídio.

"Ela é técnica de enfermagem. Estava regularizada", diz o advogado, que chamou a denúncia de "absurda".

Renato Darlan, advogado da técnica de enfermagem, avalia a denúncia como "frágil" e diz esperar que ela não seja recebida pela Justiça.

"Parece que o MP está escolhendo quem denunciar, porque na sala de cirurgia tinha pelo menos sete pessoas, e ele escolheu duas. E acompanhar pessoas em ato cirúrgico nunca foi crime, desde que autorizado pelo cirurgião. Se for recebida [a denúncia], a gente vai se posicionar. Nós vamos buscar essa responsabilização da paciente", afirmou o advogado.

Darlan disse ainda que Kellen Santos nunca operou nem exerceu de forma ilegal a medicina e não existe prova de que ela tenha manipulado o corpo da paciente.

Pelo menos 30 mulheres foram à Deam (Delegacia de Atendimento à Mulher) para denunciar o cirurgião por suposto erro médico. À Folha de S.Paulo algumas relataram que ficaram deformadas e com sequelas após terem sido operadas por Silva.