Modelo diz ter nojo de agressor de academia em SP
SANTOS, SP (UOL/FOLHAPRESS) - A modelo e empresária Alliny Helena Gomes, 37, ainda se recupera dos momentos de tensão que viveu no início de agosto na academia Bodytech, no shopping Iguatemi, em São Paulo, após ser agredida pelo empresário Thiago Brennand. As cenas ficaram registradas nas câmeras de segurança do estabelecimento e o laudo da polícia científica confirmou que ela sofreu lesões leves. Em entrevista ao UOL, ela fala sobre o histórico de investidas do homem e afirma que "todos tinham medo dele" no local.
Helena treinava na academia havia três meses. Segundo ela, desde que entrou na academia, teria sido orientada por outras mulheres que treinam na academia para se manter afastada de Thiago que, segundo elas, "não aceitava o 'não'" como resposta às suas investidas como "conquistador".
"Ele se aproximou de mim aos poucos, puxando papo, dizendo que havia alguém falando mal de mim na academia. Depois trocamos algumas mensagens pelo celular sobre isso, mas logo ele começou a me convidar para sair. Eu fui gentil, expliquei que havia terminado um relacionamento recentemente e que não estaria preparada para entrar em outro. A partir daí, ele começou a ser irônico e a provocar, de forma ofensiva", lembra.
A modelo afirma que continuou a frequentar a academia, mas que procurou a gerência para relatar o que estava acontecendo. Ela diz que teria sido informada de que Thiago seria uma pessoa "complicada" e estaria causando problemas semelhantes com outras frequentadoras.
Na noite da agressão, dia 3 de agosto, ela diz que estava treinando quando o empresário veio em sua direção e se colocou à sua frente, ordenando que Helena saísse do caminho dele, o que ela se recusou a fazer.
"Eu estava treinando agachamento numa área que não era passagem. Na hora, eu gritei de volta que não ia sair. Ele me xingou. Eu disse a ele que dinheiro nenhum do mundo ia fazer com que ele tocasse em mim".
Nesse momento, ela diz que Thiago bateu com as duas mãos em seu tórax, empurrando-a com força. Duas colegas dela tentaram ajudá-la, mas foram impedidas por Thiago. Um professor da academia veio em seu socorro, mas não tentou conter o empresário. Foi quando ele avançou em sua direção e lhe puxou pelos cabelos, arrancando alguns tufos e depois cuspiu em seu rosto. O filho do empresário, que treinava com o pai, passou a xingá-la também e a ameaçar quem se aproximasse para ajudar.
"Uma academia cheia de homens musculosos, cheia de marmanjos. E nenhum deles tentou segurar o Thiago ou o impedir de me agredir. Todos tinham medo dele, porque ele fica dizendo que é de família de gente rica, influente e posta nas redes sociais que vive cercado de armas. Não é possível aceitarmos esse nível de covardia em nossa sociedade. O egoísmo está tornando todos insensíveis."
Helena conta que acionou a Polícia Militar, porém Thiago e o filho deixaram a academia antes da chegada dos agentes. Ela registrou boletim de ocorrência, e a Polícia Civil abriu inquérito sobre o caso.
O UOL entrou em contato diversas vezes, por telefone, com o advogado Paulo Cunha Bueno, que defende o empresário. Porém, todas as vezes, a sua secretária informou que ele não poderia atender à ligação no momento. Ele também não retornou aos pedidos de posicionamento da reportagem.
Procurada, a Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo informou, em nota, que o caso está sendo investigado pelo 15º DP (Itaim Bibi), que apura os crimes de lesão corporal e injúria. "Diligências são realizadas visando ao esclarecimento dos fatos. As investigações correm sob sigilo judicial", afirma o órgão.
A academia informou, em nota, que, após ocorrência do último dia 3 de agosto "com o respectivo ex-cliente", tomou a decisão imediata de cancelar o contrato dele e seu acesso às unidades da rede.
"A Bodytech prestou apoio à vítima, segue colaborando com as autoridades competentes e reforça que repudia qualquer ato de violência", disse a empresa.
A administração, no entanto, não respondeu ao questionamento sobre por que o instrutor do estabelecimento não impediu a agressão, mesmo tendo testemunhado a ação do empresário.
Corpo de delito
O exame de corpo de delito realizado por Helena confirmou que a modelo sofreu lesões "leves". Segundo o laudo, ela apresentava equimoses arroxeadas, descontínuas, em formato semicircular, sugestivas de estigmas ungueais no tórax.
Advogado de Helena, Márcio Cezar Janjacomo, disse ao UOL que aguarda agora que o delegado responsável pelo inquérito encaminhe ao Ministério Público e à Justiça requisição de medidas protetivas.
"Diante das provas materiais dos crimes cometidos, solicitamos a requisição de medidas protetivas para a modelo e as testemunhas que confirmaram as agressões", afirmou. "Nosso foco principal é a integridade física de Helena".
No boletim de ocorrência, registrado no 15° DP, Thiago é suspeito de ter praticado lesão corporal e injúria. Ao todo, oito testemunhas se prontificaram a depor a favor de Helena. Entre elas, uma mulher que já havia registrado boletim de ocorrência contra o empresário, em maio, por injúria.
"Eu espero que seja feita justiça. Eu não tenho medo dele, o que eu sinto é nojo. E agora, depois que eu tornei esse caso público, outras mulheres vítimas dele estão surgindo. Histórias aterrorizantes de violência psicológica e física. Por isso, faço um apelo agora: mulheres, denunciem, gritem se precisar. Mas não deixem nunca mais um homem desse impune."
Em caso de violência, denuncie
Ao presenciar um episódio de agressão contra mulheres, ligue para 190 e denuncie.
Casos de violência doméstica são, na maior parte das vezes, cometidos por parceiros ou ex-companheiros das mulheres, mas a Lei Maria da Penha também pode ser aplicada em agressões cometidas por familiares.
Também é possível realizar denúncias pelo número 180?Central de Atendimento à Mulher? e do Disque 100, que apura violações aos direitos humanos.
Há ainda o aplicativo Direitos Humanos Brasil e através da página da Ouvidoria Nacional de Diretos Humanos (ONDH) do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MMFDH). Vítimas de violência doméstica podem fazer a denúncia em até seis meses.