Aos gritos de "assassino", lutadores de jiu-jitsu protestam em delegacia após campeão ser baleado

Por ISABELLA MENON

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Um grupo de mais de 40 lutadores, colegas e amigos do campeão mundial Leandro Lo ficaram durante o fim de tarde e parte da noite deste domingo (7) na porta do 17º Distrito Policial, no Ipiranga, zona sul de São Paulo, à espera da chegada do tenente da Polícia Militar Henrique Otavio Oliveira, 30 anos, suspeito de ter atirado na cabeça do campeão mundial de jui-jitsu.

Leandro Lo foi atingido com um tiro durante a madrugada em um show do grupo Pixote, no Clube Sírio, na zona sul de São Paulo. O atleta teve a morte cerebral constatada.

Segundo o delegado-geral da Polícia Civil São Paulo, Osvaldo Nico Gonçalves, o tenente seria levando para o 17º DP para ser ouvido e, em seguida, ao Presídio Romão Gomes, da PM, na zona norte. Mais tarde, a polícia decidiu que ele iria direto para prisão. A partir desta segunda-feira (8), o caso será investigado pelo 16º DP.

O policial militar se entregou à Corregedoria da Polícia Militar depois de a Justiça decretar a sua a prisão temporária de 30 dias, no fim da tarde deste domingo.

A reportagem tentou contato durante todo o dia com a defesa do tenente. Na delegacia, um advogado que se apresentou como defensor do PM, na noite deste domingo, se recusou a falar com a imprensa e não deu informações sobre o caso.

O grupo em frente à delegacia começou a gritar frases como "justiça", "jiu-jitsu, unido, jamais será vencido". Também diziam "ele sujou a farda de vocês, ele não representa a PM" e pediam para que a polícia mostrasse o rosto do atirador.

Pouco antes, a multidão achou que uma viatura estava com o atirador e começou a urrar e gritar palavras como "vagabundo" e "assassino".

Enquanto isso, outros pediam calma. A polícia chegou a disparar gás de pimenta para conter o grupo, mas em pouco tempo a situação foi tranquilizada.

Durante todo o dia, lutadores, associações do esporte e fãs se manifestaram nas redes sociais por causa da violência contra o atleta.

Segundo conhecidos do campeão mundial, o atirador era faixa roxa de jiu-jitsu e, na teoria dos colegas, sabia quem era Lo.

HISTÓRICO DO POLICIAL

O tenente da Polícia Militar Henrique Otavio Oliveira Velozo, apontado pela polícia e por testemunhas como autor do tiro contra Leandro Lo, tinha no histórico o envolvimento em outra confusão há cinco anos. Na época, ele foi acusado por outros policiais de agressão e desacato em uma casa noturna da capital.

Segundo a denúncia recebida pela 1ª Auditoria da Justiça Militar, no dia 27 de outubro de 2017, por volta das 4h20, Velozo estava na The Week, na Lapa, zona oeste, de folga, quando praticou violência contra outro oficial de nível hierárquico inferior, ao desferir socos em um soldado que havia sido chamado para atender a uma ocorrência no local.

De acordo com a acusação, PMs foram acionados ao endereço após Velozo se envolver em uma confusão no interior da balada. Ele alega que apenas agiu para separar sete pessoas que agrediam a um primo seu.

"Em dado momento, o soldado [a reportagem suprimiu o nome do policial] se afastou do denunciado e esticou o braço, em nítida intenção de mantê-lo a distância. Neste instante, o tenente Velozo desferiu um soco no braço do soldado. Em seguida, o denunciado desferiu outro soco, visando acertar o rosto soldado", cita trecho da denúncia.

Se mostrando "exaltado" e "nervoso", Velozo teria então passado a agredir verbalmente um outro tenente que chegou ao local, dizendo: "você é meu recruta", "seu covarde", além de diversos palavrões.

O Ministério Público optou pela condenação de Velozo por ter praticado violência contra inferior, pelos socos dados contra o soldado, e por desacato. No entanto, o tenente Velozo foi absolvido das duas acusações. Houve recurso da decisão, e o processo está em análise na segunda instância no Tribunal de Justiça Militar de São Paulo.