Ártico esquenta quatro vezes mais rápido que o resto da Terra
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Os pesquisadores já sabem há algum tempo que, como efeito da crise climática, o Ártico tem esquentado mais rapidamente do que o resto do planeta. As definições sobre quão mais rápido, porém, têm variado. Uma nova pesquisa aponta que a situação é mais acentuada do que se imaginava. Segundo o estudo, nos últimos 43 anos, a região tem sofrido um aquecimento quatro vezes mais rápido do que a média planetária.
Esse fenômeno recebe o nome de amplificação polar ou amplificação do Ártico. Diversas explicações possíveis são associadas a ele, mas uma das principais é a perda de gelo marinho.
Até o momento, havia indicações de que o Ártico poderia estar aquecendo cerca de duas ou até três vezes mais rápido do que o resto do planeta, uma estimativa bastante subestimada, segundo os cientistas que publicaram a nova pesquisa, nesta quinta-feira (11), na revista Communications Earth & Environment.
A realidade observada pelos pesquisadores é de um aquecimento médio na região até quatro vezes mais rápido. Com exceção de uma pontinha do oceano Atlântico mais ao norte, nenhuma região do Ártico teve aquecimento menor do que duas vezes o do restante do globo terrestre.
No outro extremo, há temperaturas com velocidade de aumento muito mais pronunciado. É o caso da região do arquipélago de Nova Zembla, com um aquecimento até sete vezes mais veloz do que a média terrestre. Segundo os cientistas, esse aumento mais intenso na área pode ser explicado principalmente pela perda destacada de superfície de gelo no mar de Barents. Mas mudanças na circulação atmosférica também empurram para cima os termômetros dessa área.
Para chegar a essas conclusões, os pesquisadores utilizaram diversas bases de dados de temperaturas do Ártico no período de 1979 até 2021.
Apesar de terem acessado dados já disponíveis, os cientistas chegaram a taxas diferentes, consideravelmente maiores do que as que tínhamos anteriormente.
Isso ocorre, primeiramente, segundo explicam, pelo período de tempo escolhido para esse trabalho. A data de 1979 não é aleatória, ressaltam os autores: a partir desse ano, o gelo Ártico passou a ser continuamente monitorado por satélites, o que torna as informações mais precisas e confiáveis (ou seja, as margens de erro são minimizadas). Além disso, trata-se de um período em que o Ártico passou a aquecer de modo acentuado.
Uma outra explicação para essa diferença pode ser, simplesmente, o fato de que as estimativas anteriores ficaram defasadas. O Ártico continuou aquecendo a ponto de tornar desatualizados os dados observados em artigos anteriores.
Por fim, mais uma explicação possível diz respeito ao que é o Ártico. Sim, ele pode ser definido de diferentes formas e, assim englobar áreas distintas, o que, logicamente, leva a resultados diversos.
Outro ponto relevante trazido pela nova pesquisa diz respeito aos modelos usados para compreender como as atividades humanas impactam o clima. Resumidamente, os cientistas jogam, em uma simulação, tudo o que a humanidade sabe sobre os processos físicos que afetam o clima e, assim, é possível ver de onde partimos e para onde vamos. Os relatórios do IPCC (Painel Intergovernamental de Mudança do Clima da ONU), por exemplo, dependem em grande medidas dessas modelagens.
Segundo os pesquisadores, os modelos mais recentes ainda subestimam a força da amplificação polar.
A pesquisa também mostra que a amplificação polar é mais forte em novembro, ou seja, no fim do outono do hemisfério Norte, e mais fraca em julho, o que coincide com pesquisas anteriores.
"A chance de um aumento de quatro vezes no aquecimento do Ártico nos modelos climáticos CMIP6 [os mais recentes] são muito pequenos, o que indica que a amplificação polar vista em 1979-2021 é extremamente improvável ou que os modelo climáticos sistematicamente tendem a subestimar o fenômeno", dizem os autores do estudo.
"Os mecanismos físicos que levam os modelos climáticos a subestimar a amplificação polar permanecem desconhecidos", escrevem ainda.
Assim, levando em conta que os modelos climáticos parecem não conseguir simular a real amplificação polar (pelo menos no período observado no estudo), as projeções que fazemos atualmente para o clima podem acabar impactadas, concluem os pesquisadores.