Religiosos são mais satisfeitos com suas vidas sexuais, diz estudo britânico
RIBEIRÃO PRETO, SP (FOLHAPRESS) - Um estudo realizado no Reino Unido mostrou que indivíduos que veem a religião como algo importante são mais satisfeitos com as suas vidas sexuais, embora façam menos sexo.
De acordo com o trabalho, pessoas religiosas tendem a fazer sexo apenas dentro de relações que envolvem amor, o que pode aumentar a satisfação com o ato. Por outro lado, relações casuais podem ser rodeadas de mais expectativas, o que pode gerar frustração.
O trabalho, publicado na revista científica The Journal of Sex Research, foi desenvolvido pela Universidade de Exeter, pelo Instituto de Saúde Pública Norueguês e pela Universidade de Columbia, e contou com 15.162 participantes. Pessoas com menos de 18 anos, mais de 60 anos e que não se declaravam heterossexuais foram excluídas na análise.
O estudo avaliou a frequência, satisfação e qualidade de vida sexual. A satisfação foi medida por meio de uma questão de múltipla escolha em que os participantes assinalavam uma nota de 1 a 5. Já a qualidade de vida sexual foi medida por meio de 17 perguntas que avaliavam questões fisiológicas, psicológicas e de relações interpessoais.
De acordo com a psicóloga Darlane Andrade, professora do Departamento de Estudos de Gênero e Feminismo da UFBA (Universidade Federal da Bahia), o estudo mostra que apesar das sociedades estarem se tornando cada vez menos religiosas, esse ainda é um fator de impacto.
Entre os participantes, metade não via a religião como algo importante em suas vidas, cenário diferente do observado durante a década de 1980, quando a proporção de britânicos religiosos chegava a dois terços da população.
A relação entre religiosidade e sexo pareceu ser ainda mais importante para as mulheres. Entre as casadas, as que veem a religiosidade como um fator importante nas suas vidas tem uma qualidade de vida sexual melhor. Nos homens essa diferença não foi observada.
Para os autores, a visão do casamento como algo sagrado pelas religiões, bem como a desaprovação do sexo casual, podem ser fatores que impactam a satisfação.
De acordo com Darlene Andrade, a pressão da religião é maior entre as mulheres, o que representa um reflexo de toda a sociedade. Enquanto os homens são estimulados a viverem uma vida sexual mais intensa, elas são reprimidas, o que pode explicar essa diferença. Para a profissional, mesmo em populações com menos opressões de gênero, como a britânica, isso ainda é observado.
No Brasil, a diferença entre homens e mulheres pode ser ainda maior, segundo a psicóloga. Para Andrade, apesar dos brasileiros terem uma relação mais aberta com a sexualidade e serem mais dispostos a experimentações, nós ainda vivemos numa sociedade com valores muito conservadores.
Ainda de acordo com ela, a relação dos brasileiros com religiões de matriz africana, que são menos conservadoras em relação ao sexo, também poderia impactar os resultados e precisaria ser analisada. Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), 3% da população é praticante de religiões afro-brasileiras, número que, segundo especialistas, pode ser subestimado.
Outros fatores também influenciaram os resultados do estudo. A frequência foi menor entre mulheres asiáticas e negras quando comparadas com mulheres brancas, o que os pesquisadores atribuíram aos estigmas associados a esses grupos.
Pessoas com um maior nível de escolaridade também tiveram menor frequência e satisfação com a vida sexual, possivelmente devido a maior carga de trabalho e ao estresse.
A relação entre a frequência e a satisfação sexual "não é nem simples, nem direta", dizem os autores. De acordo com os dados, tanto indivíduos que fazem pouco sexo como aqueles que fazem muito sexo são insatifeitos, o que sugere que uma frequência intermediária é o ideal.
Andrada ressalta, entretanto, que a periodicidade não é o único fator que impacta a satisfação. De acordo com ela, o prazer é algo subjetivo, envolve muitas características individuais e da sociedade, e que pode ser grandemente influenciado pelo autoconhecimento e pela percepção do próprio corpo.