Hospital da Mulher tem entrada e fluxo separados para acolher vítimas de violência

Por STEFHANIE PIOVEZAN

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O Hospital da Mulher inaugurado nesta quarta-feira (14) no centro de São Paulo vai oferecer entradas e fluxos separados de acordo com o perfil da paciente. Vítimas de violência sexual não vão precisar passar pelo hall e irão direto para atendimento por um acesso exclusivo.

A mudança foi um dos cuidados tomados no projeto da unidade de 50 mil m² que concentrará e ampliará os atendimentos prestados atualmente no Hospital Pérola Byington, na Bela Vista. O local, alugado pelo governo estadual por R$ 380 mil mensais, deverá ser devolvida aos proprietários em outubro.

"Temos três sentimentos muito distintos dentro do hospital. Temos o sentimento daquela que está com câncer, fazendo tratamento; daquela mulher que deseja ter filho e vem para atendimento na área de reprodução humana; e o sentimento da pessoa que sofreu uma violência sexual, e pensamos em um projeto para que esses sentimentos não se cruzassem", conta Susana Cabarcos Pawletta, presidente da Inova Saúde e única mulher na mesa de autoridades da cerimônia de inauguração.

A Inova administrará o Hospital da Mulher com o Seconci-SP (Serviço Social da Construção Civil de São Paulo). A primeira organização cuidará da chamada bata cinza -setor administrativo, segurança e limpeza, por exemplo -e a segunda, da bata branca -a parte que envolve os profissionais de saúde. Quando estiver em pleno funcionamento, em 2023, o hospital deverá contabilizar 12,8 mil internações e 107 mil atendimentos ambulatoriais por ano, todos pelo SUS (Sistema Único de Saúde).

"Não há nada mais moderno na arquitetura hospitalar do que um planejamento físico-funcional ideal, ou seja, fluxos segregados. Para acolher melhor a paciente, eu tenho de evitar que ela veja cenas tristes porque ela própria pode já estar vivendo um drama. Se ela vem para fazer um exame, não quero que veja alguém que está indo para a UTI", disse a arquiteta Paula Fiorentini, do escritório responsável pelo projeto.

"Projetar um pronto-socorro de violência sexual, um ambulatório voltado para violência sexual é muito diferente do arroz com feijão da arquitetura hospitalar. Conversei com muitas pacientes, com as equipes de enfermagem e com os médicos para entender a dinâmica. Foi uma lição de vida para mim", afirmou.

O posto de enfermagem da UTI fica centralizado, com visão de todos os leitos, para garantir agilidade na resposta a qualquer intercorrência. O mesmo acontece no andar da quimioterapia: funcionários do posto de enfermagem conseguem observar todas as pacientes e acompanhantes nos boxes individualizados de aplicação de quimioterápicos.

"Pensei muito nas pacientes quando estávamos construindo o hospital", comenta a arquiteta, que faz questão de trabalhar em seu escritório com uma equipe 100% feminina. "O mercado de infraestrutura em saúde ainda é muito comandado pelo machismo da velha-guarda".