Pesquisa aponta sensação de falta de reconhecimento e burnout entre enfermeiros

Por SÍLVIA HAIDAR

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Uma pesquisa realizada pelo Instituto Qualisa de Gestão (IQG) mostrou que sensações de sobrecarga mental, de falta de reconhecimento e de fadiga aumentaram entre os profissionais da área de enfermagem durante a pandemia da Covid-19.

Foram entrevistados 1.484 colaboradores de seis instituições de saúde, públicas e privadas, de Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro, Mato Grosso do Sul e Amazonas, entre dezembro de 2020 e junho de 2021.

O levantamento revela que o sentimento de baixa realização profissional chega a 69,1% dos entrevistados. Esse quadro, somado à pressão da atividade, aumenta também a incidência de risco de burnout relacionado à exaustão emocional e despersonalização no ambiente de trabalho, aspectos que atingem em torno de 18% dos profissionais. A despersonalização é um tipo de distúrbio mental que gera um sentimento de desconexão entre o corpo e os pensamentos.

O objetivo do estudo era demonstrar as percepções do ambiente da prática profissional dos enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem por meio da aplicação da pesquisa de ambiente da prática profissional (Practice Environment Scale of the Nursing Work Index ? PES/NWI) e da Maslash Burnout Inventory (MBI), bem como compará-las.

Os dados obtidos resultaram no texto "Análise do ambiente de trabalho e burnout entre enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem em instituições brasileiras", de autoria dos avaliadores do IQG, Lucianna Reis Novaes, Michel Mattos de Barros e Fabrício dos Santos Cirino. O documento foi publicado no Asploro Journal of Biomedical and Clilnical Case Reports.

"Qualquer erro na área de saúde pode ser traumático ou irreversível, não só para o paciente como para o profissional da saúde. Todo esse nível de desgaste emocional dos profissionais de enfermagem aumenta uma preocupação cada dia maior com o adoecimento mental dos trabalhadores", afirma Mara Machado, CEO e sócia-fundadora do IQG.

A pesquisa identificou contextos de frequente aparecimento de medo, insegurança, ansiedade, temor de contaminação e de novas formas de trabalho, levando ao aumento da probabilidade a erros na assistência.

"O ambiente de enfermagem no país está repleto de características que interferem negativamente no trabalho, como alta rotatividade, absenteísmo, duplo emprego, alta carga de trabalho, riscos ocupacionais, elevada carga mental e sofrimento pela morte de pacientes", observa Machado.

Para enfrentar o cenário de desgaste para os profissionais, a CEO do IQG destaca a necessidade de mudanças importantes no ambiente de trabalho, que passam por melhor divisão das definições sobre a disponibilidade dos recursos, além da assertividade das lideranças na definição das entregas que a equipe precisa fazer, voltadas à qualidade e à segurança no cuidado.

"Como em qualquer outra profissão, o reconhecimento e o desenvolvimento profissional são medidas essenciais para envolver os profissionais nessas entregas. É essencial a compreensão, frente a uma crise epidemiológica, sobre a importância do protagonismo da enfermagem, não apenas para um maior reconhecimento da categoria, mas para posicionar sua importância no âmago da gestão dos serviços de saúde", aponta.

Atualmente, os profissionais da área lutam pelo piso salarial da categoria. A implantação do piso nacional da enfermagem foi suspensa em todo o país após decisão do STF (Supremo Tribunal Federal). Por 7 votos a 4, a maioria dos ministros referendou liminar de Luís Roberto Barroso em favor da suspensão até que sejam apresentadas informações sobre o impacto econômico da medida.

Aprovada em julho e sancionada em agosto, a lei 14.434/2022 fixou piso salarial mínimo de R$ 4.750 para os enfermeiros. Técnicos em enfermagem devem receber 70% desse valor (R$ 3.325), e auxiliares de enfermagem e parteiros, 50% (R$ 2.375).