Testemunha reforça versão de mulher que diz ter sido estuprada por Thiago Brennand

Por ROGÉRIO PAGNAN E ISABELLA MENON

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A mulher de 37 anos que acusa Thiago Brennand Fernandes Vieira, 42, de ataques sexuais, relatou a funcionários do empresário, no momento em que deixava a propriedade em Porto Feliz (a 118 km de São Paulo), ter sido agredida e estuprada por ele, segundo testemunha localizada pela Folha de S.Paulo.

Essa testemunha, que pediu para não ter o nome divulgado por temer represálias, trabalhava para o empresário em agosto e setembro de 2021, quando os supostos crimes teriam acontecido, e afirma ter ouvido da própria mulher os relatos de abusos.

A defesa de Brennand nega o crime e diz que a acusação é "absolutamente inverossímil".

O relato se concentra no dia 1º de setembro de 2021, data em que a suposta vítima deixou a casa de Brennand em Porto Feliz e seguiu para o Recife, cidade da família dela. A mulher, conforme conta, foi mantida em cárcere privado nessa casa do empresário.

A testemunha disse, ainda, que a mulher foi enviada para Pernambuco porque, naquela manhã, surgiu a notícia de que a polícia estava entrando no condomínio para ir até a casa do empresário. Houve corre-corre e, na sequência, a decisão de colocar a mulher no avião.

O acionamento da polícia teria sido feito por um irmão da possível vítima, a quem a mulher pedira socorro pelo celular em um momento em que ficou sozinha.

Documentos anexados ao inquérito policial, aos quais a reportagem teve acesso, confirmam que a testemunha entrevistada pela Folha de S.Paulo trabalhou para Brennand, esteve de fato na casa do empresário no período dos supostos crimes e manteve contato direto com a possível vítima.

Ela lhe relatou agressões, uma tatuagem forçada, feita com as iniciais de Thiago Fernandes Vieira, e uma relação não consensual.

A mulher de 37 anos, que reside nos EUA, é uma das que acusam o empresário de crimes sexuais. Outras 11 denunciaram Brennand após ele aparecer em reportagens agredindo, em uma academia de ginástica, a modelo Alliny Helena Gomes, em agosto deste ano.

Embora a testemunha localizada pela Folha de S.Paulo diga não ter presenciado os crimes, apenas ouvido relatos, ela reforça a versão da possível vítima, que não foi aceita pela delegada do caso, Nuris Pegoratti.

No relatório final de investigação, a policial de Porto Feliz apontou denunciação caluniosa motivada por interesses financeiros. "Verificou-se que [Brennand] é indivíduo de porte agigantado, profissional em artes marciais, faixa preta de Jiu-Jitsu há mais de duas décadas, faixa preta em outras artes-marciais, e não se encontrou qualquer registro de violência relevante em sua vida", diz o documento.

O processo envolvendo o caso chegou a ser arquivado a pedido do Ministério Público de Porto Feliz, mas foi reaberto após reportagem do Fantástico (TV Globo) revelar um histórico de problemas envolvendo o empresário, como novas suspeitas de agressões e estupros.

De acordo com a suposta vítima, que também se identifica como empresária, ela chegou ao Brasil no dia 28 de agosto de 2021 para ficar com Brennand. Eles se conheciam havia anos, se reencontraram pelas redes sociais e resolveram passar uns dias juntos.

No início, como diz, o empresário foi romântico e educado, mas, isso mudou quando viu no celular dela mensagens de um ex-namorado norte-americano. Depois disso, segundo a mulher, ele teria tomado o aparelho dela à força e não deixado que ela tivesse contato com outras pessoas fora da casa.

Durante os dois dias seguintes, segundo relatou, foi humilhada, agredida, estuprada e impedida de deixar a casa, mediante ameaça. Ela relata só ter conseguido pedir ajuda quando Brennand saiu de casa para levar ao hospital uma funcionária, que teria passado mal ao vê-la sendo tatuada a força.

Ela ligou para um irmão de Recife, em 31 de agosto, que tentou acionar a polícia paulista, mas sem sucesso. No dia seguinte, o irmão procurou a Polícia Civil pernambucana, registrando boletim de ocorrência. A polícia de Porto Feliz foi comunicada naquela mesma manhã do possível crime, conforme mensagens incorporadas ao inquérito policial.

Embora a delegada Nuris Pegoratti não tenha acreditado nas acusações, a mensagem encaminhada pela polícia pernambucana à delegacia de Porto Feliz foi endereçada a ela, conforme documentos.

"Encaminho para conhecimento o boletim de ocorrência registrado através de um noticiante, informando a ocorrência de um crime de cárcere nesta região de Porto Feliz", diz a mensagem da delegada Fabiana Ferreira Leandro, de Pernambuco.

No relatório final Pegoratti não menciona ter recebido essa comunicação. Também não diz se enviou equipe para o condomínio para verificar a existência de um crime.

A presença da polícia é citada, contudo, pelo próprio suspeito, em depoimento à polícia. Segundo o empresário, ele recebeu ligação do presidente do condomínio, "dizendo que tinha recebido uma ligação da polícia de que havia uma mulher em cárcere privado em sua residência".

Embora negue as supostas agressões e todos os outros crimes, Thiago Brennand admite, por meio desse depoimento, que a mulher foi embora para o Recife nesse dia.

Procurada, a Secretaria da Segurança Pública de São Paulo declarou que a delegacia de Porto Feliz tomou conhecimento da denúncia de agressão, cárcere privado e estupro e instaurou inquérito policial para apurar os fatos. Não informou, entretanto, se a polícia foi até o local na manhã de 1º de setembro nem esclareceu por que essa informação não consta do relatório final.

Sobre o teor do relatório final da delegada, a secretaria disse que as corregedorias das polícias Civil e Militar estão analisando o caso e estão à disposição do Ministério Público paulista ou de outros interessados para receber mais informações.

Em depoimento, Brennand confirmou que teve relações sexuais com a mulher, mas só com consentimento dela. Na ocasião, ele negou as acusações, afirmou que jamais aceitaria relações sexuais não consentidas e disse que nutre ódio por estupradores.

Ele também afirmou que a suposta vítima teria "sede de fama" e foi vista em diversos locais sem ter pedido socorro ou manifestado comportamento estranho.

Ouvido pela Polícia Civil de Porto Feliz, o tatuador que cravou as iniciais de Brennand na mulher afirmou que jamais faria uma tatuagem à força. Declarou que ela mesma escolheu a tatuagem e lhe disse ter adorado trabalho final. Além disso, afirmou que nem se estivesse amarrada seria possível fazer a tatuagem.

Imagens da suposta vítima com hematomas e tatuagem com iniciais do nome do empresário Reprodução Corpo de vítima com tatuagem e hematomas **** Uma empregada de Brennand, que esteve na residência durante a estada da suposta vítima, declarou que não a ouviu gritar por socorro, não a viu machucada nem presenciou cenas de violência. Sobre a tatuagem, também disse a mulher fez por própria vontade.

A reportagem entrou em contato com um dos advogados de Brennand, Pedro Luiz Cunha Alves de Oliveira, que afirma que, em relação ao inquérito de Porto Feliz, "não há prova nova" para desarquivamento do caso.

Além disso, Oliveira diz que "todas as questões envolvendo a tatuagem restaram devidamente esclarecidas, ficando cabalmente demonstrado que o desenho foi feito por vontade e a pedido da suposta vítima".

Por isso, ele considera que a versão da suposta vítima é "absolutamente inverossímil, tanto que a juíza então oficiante no caso determinou que fosse instaurado inquérito policial para apuração da eventual prática do crime de denunciação caluniosa".