Testemunha-chave de assassinato é um dos mortos no Complexo da Maré
RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) - A testemunha-chave de uma investigação sobre o assassinato de um jovem de 16 anos ocorrido no Complexo da Maré em 2005 é um dos mortos do confronto entre Policiais Militares e criminosos desta segunda (26).
José Henrique da Silva, 53, trabalhava como barraqueiro em um baile funk e prestaria depoimento na próxima segunda (3) no Tribunal de Justiça contra três policiais militares suspeitos de terem participado da morte do adolescente.
Procurada, a Polícia Militar afirmou que "os policiais militares envolvidos na operação já foram ouvidos e a Corporação também instaurou um procedimento apuratório para averiguar a conduta".
O caso em que Da Silva iria depor trata-se do homicídio de Wallace Ramos da Silva, 16. Segundo denúncia do Ministério Público, o jovem foi morto por três policiais militares, identificados como Benildo Henrique Dias, Jucélio da Conceição Natal e Marco Antônio Coelho Viana, no dia 5 de outubro de 2005. De acordo com o portal Transparência do Governo do Rio, somente Viana continua ativo nos quadros da corporação.
Em seu depoimento à época, ao qual a reportagem teve acesso, o barraqueiro contou que Wallace estava de bicicleta, quando foi abordado pelos policiais, que estavam em uma viatura. Os três policiais, então, o revistaram e mandaram ele ir para trás de um trailer. Dois disparos foram feitos. Da Silva contou que viu o momento em que Wallace teria sido morto pelos policiais.
"Os agentes ainda atiraram para cima, tentando simular um tiroteio, que não ocorreu. A praça é local de encontro de pessoas, não é boca de fumo, não havia pessoas armadas no local", disse Da Silva, em relato à Promotoria.
A reportagem não localizou a defesa dos policiais que foram denunciados por homicídio qualificado. Em depoimento que consta no processo, eles afirmam que houve confronto com criminosos e que Wallace portava uma pistola.
Na denúncia sobre o caso, o Ministério Público escreveu que "a vítima foi morta já rendida" e que os policiais tinham a "intenção de matar".
Segundo testemunhas do confronto da Maré de ontem, Da Silva estava a caminho de casa, em uma moto, saindo do baile onde trabalhou, quando foi atingido por um tiro nas costas. Ele já chegou morto ao hospital.
Sete mortos em operação Os tiroteios no conjunto de favelas, que é atravessado por duas das principais linhas expressas da cidade, tiveram início por volta das 5h desta segunda (26), após um baile funk. Segundo a Polícia Militar, 120 agentes foram mobilizados após o setor de inteligência da corporação ter recebido a informação que traficantes pretendiam invadir territórios de uma facção rival, na zona norte.
Assim que a polícia entrou na Vila do João, uma das 16 comunidades do complexo, frequentadores do baile correram. Uma jovem afirmou que foi pisoteada na correria e postou fotos ferida nas redes sociais. Criminosos que estariam na festa deixaram carros para trás, disse a polícia. A PM informou que 20 veículos roubados, entre carros e motocicletas, foram recuperados.
O Hospital Federal de Bonsucesso informou que sete pessoas morreram em decorrência dos confrontos. A unidade de saúde ressaltou que 15 pessoas foram levadas para a emergência, sendo que sete já chegaram mortas.
Nesta terça, um ferido ainda permanecia internado, com estado de saúde estável. Dois foram transferidos para uma unidade estadual e outros cinco foram liberados.
O governador do Rio, Cláudio Castro (PL), disse que a ação da PM foi cirúrgica. "As nossas polícias Civil e Militar impediram que traficantes fortemente armados se deslocassem na saída de uma festa clandestina na Maré para outra comunidade. Com base em dados de inteligência, o Bope e a Core fizeram uma operação cirúrgica", escreveu no Twitter.