Furtos de celulares viram problema no Mineirão
BELO HORIZONTE, MG (UOL/FOLHAPRESS) - Casa cheia e sinergia com a torcida ajudaram a ditar a campanha vitoriosa do Cruzeiro na Série B de 2022. Com média de público de 45 mil, a equipe foi empurrada pela massa celeste para regressar à elite do Brasileiro após três anos. Nesta quarta-feira (5), no empate por 1 a 1 com o Ituano, não foi diferente.
Mais de 56 mil pessoas apoiaram o clube mineiro no primeiro encontro após a conquista do título. No entanto, a vida do torcedor não tem sido fácil dentro e fora do Mineirão, uma vez que recorrentes casos de invasão, furtos e tumultos caminharam lado a lado com os aficionados.
Pelas redes sociais, muitos são os relatos de torcedores que se dividem entre a felicidade de acompanhar o time de perto no estádio e a quantidade de transtornos em dias de jogos, antes, durante ou após as partidas. Furtos de celulares, tumulto nas catracas na hora da entrada e superlotação de setores devido à invasão de torcedores que mudam de lugar durante o jogo são as principais queixas. Prova disso é que nesta quarta, antes do jogo, a principal torcida organizada do clube se manifestou nas redes sociais sobre a questão.
Dados do Observatório de Segurança Pública/Reds/Sejusp mostram um aumento das infrações no entorno de estádios e autódromos em todo o Estado de Minas Gerais ?o órgão não possui levantamento apenas do Mineirão. A comparação é feita entre a atual temporada e o ano de 2019 ?o último antes da pandemia e que não teve jogos com portões fechados, como em 2020 e 2021. De janeiro a agosto de 2019, foram registradas 1.298 infrações. Na atual temporada, no mesmo período, já são 1.721.
As ocorrências incluem furtos, agressões, lesões corporais, danos, ameaças, uso e consumo de drogas e roubos, entre outras. Apesar de não existirem dados específicos sobre os casos no Mineirão e seu entorno, os relatos desse tipo de crime cresceram nos últimos meses e chamam a atenção dos torcedores.
Em junho, o empresário Wildson Caldeira fez um relato extenso no Twitter sobre como pequenos grupos se organizavam para se aproximar de torcedores e tentar furtar celulares durante o jogo. Ele é frequentador assíduo do Mineirão nos jogos do Cruzeiro e, em contato com a reportagem, explicou que até viu uma melhora nas últimas partidas, mas longe do ideal.
"A PM [Polícia Militar] começou a limitar o acesso à esplanada somente para aqueles que possuem ingresso. Mas sempre liberam próximo ao horário do jogo ou quando tem muita gente gerando tumulto. Essas gangues costumavam entrar no estádio quando as catracas eram liberadas e isso ficou mais raro. Para mim, é notável a falta de seguranças no estádio, tanto nas arquibancadas quanto nas áreas dos bares. Só vejo seguranças nas divisões dos setores para impedir que torcedores pulem de um setor para o outro", disse à reportagem.
No mês passado, o autônomo Felipe Vieira teve o celular levado assim que entrou nas arquibancadas do Mineirão para o jogo entre Cruzeiro e Criciúma, em 4 de setembro. "Passei na catraca já com aquela loucura, apresentei o ingresso pelo celular. Cheguei na arquibancada do setor amarelo, após dois lances de escada e, quando percebi, já era, o aparelho não estava mais no bolso da bermuda", contou.
Outra vítima de furto de aparelhos foi Fabrício, ex-volante do clube. Ele acompanhou diversos jogos do Cruzeiro no Mineirão na temporada, como torcedor comum. Em um deles, enquanto atendia os torcedores com fotos, o celular foi furtado no meio da aglomeração.
PROBLEMAS NAS CATRACAS
Em julho, o Cruzeiro denunciou um esquema de ingressos falsos em suas partidas no Mineirão. Com a ação dos criminosos, havia tumulto na entrada e as catracas eram liberadas a fim de evitar confusão generalizada que pudesse resultar em feridos.
"Criminosos têm adulterado ingressos verdadeiros e apresentado os falsos para a entrada no estádio ou mesmo vendendo-os na internet. O alto número de ingressos falsos nas catracas do estádio tem, por óbvio, atrasado o processo de entrada. Pessoas estão agindo de forma coordenada, em momentos específicos, geralmente nos minutos prévios ao início do jogo, para forçar a entrada sem ingressos. Agindo de forma simultânea e em grande volume, inviabilizam a prática de verificação dos ingressos", dizia trecho da nota divulgada pela diretoria celeste.
Durante a entrada da torcida nos últimos jogos, o UOL Esporte presenciou membros de organizadas ajudando os seguranças a organizar o público nas catracas do Mineirão. Segundo apurou a reportagem, o clube teve uma conversa com as torcidas para tentar minimizar a ação dos criminosos.
O QUE DIZEM AS AUTORIDADES
Em contato com a reportagem, a Minas Arena, concessionária que administra o Mineirão, informou que vem monitorando os relatos dos torcedores e ressaltou a importância de que os boletins de ocorrência sejam realizados, uma vez que muitas vítimas não registram as infrações, o que gera uma subnotificação.
"Segundo o Estatuto do Torcedor, a responsabilidade da segurança de jogos de futebol é do clube, que faz a contratação do serviço do estádio, sempre em conformidade com o plano de operações das autoridades de segurança, discutido em reunião realizada antes de cada partida. O efetivo de segurança é estipulado de acordo com a previsão de público. Para o jogo entre Cruzeiro e Ituano, por exemplo, desta quarta-feira, com previsão de 61.600 torcedores, foram contratados 598 seguranças privados, 65 orientadores de público, 48 recepcionistas, 123 brigadistas, sete médicos, 21 enfermeiros e sete ambulâncias", disse o Mineirão, em nota.
A concessionária ainda ressaltou que os seguranças privados possuem limite de atuação a depender do tipo de situação dentro do evento esportivo.
"É importante salientar que a segurança privada não tem atuação de polícia. A atuação operacional de segurança consiste em três níveis. A segurança privada atua nos dois primeiros níveis. O primeiro refere-se à orientação e ao direcionamento de público. O segundo nível refere-se a ações preventivas e intervenções visando mitigar conflitos, além de atendimentos de urgência/emergência realizados pelos brigadistas", completou.
Já a Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG) se manifestou informando que a segurança no interior do estádio não era de sua responsabilidade. Sobre o entorno, o órgão informou que realiza estudos prévios para tentar diminuir as ocorrências.
"A Polícia Militar esclarece que para jogos e eventos de magnitude é realizado o prévio estudo e planejamento, levando em consideração todas as suas variáveis e peculiaridades, como a estrutura de recepção do público/realização do evento, infraestrutura e engenharia de tráfego do local. Há empenho do Batalhão de Polícia de Trânsito, bem como de todos os serviços do portfólio institucional, preventivos e repressivos", disse.
O Cruzeiro informou que tomou uma série de medidas para tentar combater as ações, entre elas o aumento de efetivo do estádio para entrada de torcedores, novos checkpoints de ingressos, além de campanha de conscientização para a torcida.