Bolsonaristas fazem saudação nazista em SC, e Ministério Público inicia investigação

Por FÁBIO BISPO

FLORIANÓPOLIS, SC (FOLHAPRESS) - Manifestantes que realizaram bloqueio na rodovia SC-163, em São Miguel do Oeste, em Santa Catarina, cantaram o hino nacional fazendo um gesto que lembra a saudação nazista "sieg heil", que significa "salve a vitória", nesta quarta-feira (2).

O gesto usado nas décadas de 1930 e 1940 por seguidores de Adolf Hitler (1889-1945) e que passou a ser alvo de fortes críticas em redes sociais, já é objeto de investigação do Ministério Público Estadual de Santa Catarina.

O órgão informou que já trabalha para identificar as pessoas que fizeram a saudação nazista.

"Uma vez identificadas, será produzido um relatório e as informações encaminhadas para a 2ª Promotoria de Justiça da Comarca, que possui atribuição criminal, para responsabilização dos envolvidos", disse a coordenadora do Gaeco de São Miguel do Oeste, a promotora Marcela de Jesus Boldori Fernandes.

Símbolos e gestos nazistas são considerados crime de acordo com a Lei do Racismo (Lei 7.716/1988) com pena de reclusão de 2 a 5 anos e multa. A apologia ao nazismo também é considerada crime em diversos outros países, incluindo a própria Alemanha e a Áustria, país natal de Hitler.

O caso também já está sendo acompanhado pelo Necrim (Núcleo de Enfrentamento a Crimes Raciais e de Intolerância).

Principal representante da comunidade judaica brasileira, a Conib (Confederação Israelita do Brasil) também pediu que sejam investigadas as imagens de manifestantes fazendo um gesto semelhante à saudação nazista na cidade catarinense.

No último dia 20 de outubro, a Polícia Civil de Santa Catarina prendeu membros de uma célula nazista em São Miguel do Oeste, onde ocorreu o gesto durante a manifestação desta quarta-feira, e na cidade vizinha Maravilha, na operação "Gun Project".

Foram apreendidos livros, símbolos e bandeiras que fazem apologia ao regime de Hitler. Também foram realizadas prisões em Florianópolis e Joinville.

Uma semana depois, alunos da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), em Florianópolis, também registraram suásticas e frases escritas contra judeus e mulheres nos banheiros da universidade.

Uma das figuras mais emblemáticas da região com ligação declarada ao nazismo é Altair Reinehr, pai da atual vice-governadora e deputada federal eleita por Santa Catarina, Daniela Reinehr (PL).

Altair Reinehr é professor aposentado e colaborou em livros da Editora Revisão, especializada em publicações com teor antissemita que negavam o holocausto e outros crimes da Alemanha nazista. Reinehr foi testemunha de defesa no processo que condenou Siegfried Ellwanger Castan (1928-2010), dono da editora, por crime de racismo no Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, confirmada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), em 2002.