A atriz que virou psicóloga e a médica que se tornou atriz; leia depoimentos
CAMPINAS, SP (FOLHAPRESS) - O caminho para se tornar ator nem sempre segue o passo a passo comum a outras profissões, já que os estudos muitas vezes acontecem concomitantemente ao trabalho no teatro ou na televisão.
Isso porque alguns talentos são descobertos a partir da publicidade, encontrados por olheiros, ou trilham outros caminhos até chegarem à arte.
Confira abaixo os depoimentos da ex-atriz Cecília Dassi, que se formou em psicologia e hoje trabalha com psicoterapia, e da atriz Zezé Polessa, formada em medicina antes de decidir se dedicar à atuação.
ME ENCANTEI PELA PSICOLOGIA E VI QUE NÃO QUERIA SER ATRIZ
Cecília Dassi, 32, ex-atriz e psicóloga
Eu sempre fui atriz. Fiz minha primeira novela aos sete anos, interpretando a Sandrinha em "Por amor" (1997), na Globo. Na época de vestibular, precisei decidir se ia investir na atuação ou tentar migrar para outra área.
Eu gostava de estudar e queria ampliar minhas possibilidades, abrir portas para o caso de não querer mais atuar um dia. Ao mesmo tempo, estava fazendo novela, tinha um contrato com a Globo e não teria como conciliar tudo com a preparação para uma prova como a de medicina.
Fiz um teste vocacional e deu psicologia. Prestei o Enem com dúvida, mas depois pensei que, se eu continuasse sendo atriz, o curso ajudaria na construção de personagem e, se decidisse trocar de carreira, seria uma alternativa.
Me encantei pela faculdade e percebi que não queria passar a vida como atriz. Não pela atuação, que eu gosto, mas pela exposição e instabilidade do trabalho. Meu contrato acabou pouco tempo depois que me formei e escolhi fechar esse capítulo. A última novela que fiz foi "Viver a Vida" (2010).
Cheguei a pensar que não conseguiria ser psicóloga por ser conhecida. Depois vi que podia aproveitar a visibilidade para informar sobre saúde mental.
NÃO TINHA APTIDÃO PARA MEDICINA; NO TEATRO, TUDO ERA ESTÍMULO
Zezé Polessa, 69, médica e atriz
Por influência de um tio, me inscrevi para o vestibular de medicina. Eu estudava de manhã, dava aula à tarde e, à noite, ia para o cursinho. Passei na UFRJ e comecei a faculdade em 1972.
Um dia, um colega me convidou para participar de uma peça. Entrei no grupo e acabei atuando durante todo o curso.
No quarto ano, vi que não tinha aptidão para ser uma boa médica, porque eu me abatia com as dificuldades dos pacientes. Já no teatro, tudo era estímulo. Mas continuei a faculdade.
Durante o estágio em pronto-socorro, no sexto ano, eu estava grávida e contraí rubéola no hospital. A doença podia causar problemas congênitos, e fui aconselhada a fazer um aborto médico [o que ocorreu].
Depois disso, eu parei de ir a esse hospital, mas sem uma comunicação oficial. O professor ligou em casa e meus pais ficaram sabendo, então eu disse que não queria mais fazer o curso. Eles não aprovaram, e eu saí de casa.
Meses depois, meu pai me convenceu a terminar a faculdade. Como o professor não tinha me desligado, consegui me formar com minha turma. Emendei uma pós e, paralelamente, fiz uma peça com atores que também estavam largando os estudos. Considero que o meu começo profissional foi aí, em 1979.
Quando terminei a pós, decidi fechar esse ciclo e abracei o teatro. Anos depois, fui para a televisão. Comecei na TV Manchete e fui para a Globo.