Filhos de Bolsonaro apoiam atos antidemocráticos e criticam decisões do TSE
MACEIÓ, AL (UOL/FOLHAPRESS) - O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ) o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filhos do presidente Jair Bolsonaro (PL), têm feito uso das redes sociais para defender atos antidemocráticos, que contestam a derrota do atual chefe do Executivo para o petista Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Sem citar diretamente o TSE (Tribunal Superior Eleitoral), Flávio e Carlos Bolsonaro fizeram críticas à corte por ter permitido o bloqueio de perfis bolsonaristas em plataformas como Twitter e Instagram.
"Estamos num momento do Brasil em que o povo, parlamentares e jornalistas têm que medir as palavras para não serem censurados. E ainda tem gente achando isso tudo normal, ou pior, achando graça", postou o senador.
"Um regime de censura nunca começa de forma absoluta, mas com uma suposta boa causa que lhe dê legitimidade. Por isso os primeiros alvos sempre são grupos que já passaram por um intenso processo de marginalização, cujo silêncio acaba sendo considerado até um favor à democracia", publicou o vereador.
Entre os bolsonaristas que tiveram perfis suspensos nas plataformas estão o deputado federal eleito Nikolas Ferreira (PL-MG), a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) e o economista Marcos Cintra (União).
Em ambos os casos, eles foram advertidos pela divulgação reiterada de informações falsas com suspeitas jamais comprovadas sobre a lisura das urnas eletrônicas.
Desde o resultado final do pleito, bolsonaristas têm protestado em tom golpista por não aceitarem a vitória de Lula. Os apoiadores de Bolsonaro chegaram a bloquear dezenas de rodovias pelo país e pediam por intervenção federal na frente de quartéis militares.
Nas redes, políticos aliados a Jair Bolsonaro contestam o resultado com mentiras sobre suposta fraude nas urnas. Em resposta aos bloqueios nas vias, o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes determinou que os órgãos de segurança federais e estaduais atuem em conjunto para a desobstrução imediata de vias públicas. Para conter a propagação de fake news nas redes, Moraes, que preside o TSE, tem optado pela suspensão dessas páginas.
Nas publicações, os filhos "01" e "03" de Bolsonaro negam que esses atos sejam golpistas e atentem contra a democracia brasileira. Eles se referem à insatisfação dos derrotados como manifestações "pacíficas" e "espontâneas" contra a "falência moral" do país.
Eduardo usou o Instagram para defender os protestos. "Manifestar-se pacificamente não pode em hipótese alguma ser confundido com atos antidemocráticos. Tampouco democracia se constrói com censura. O povo é o maior legítimo do poder e espera respostas, e não perda de liberdade".
Por meio de seu perfil no Twitter, Flávio escreveu: "Aplausos de pé a todos os brasileiros que estão nas ruas protestando, espontaneamente, contra a falência moral do nosso país! Confiem no capitão!".
Apesar das manifestações de apoio dos filhos, Jair Bolsonaro tem optado por se manter mais distante de comentários sobre os atos antidemocráticos nas redes sociais.
Na semana passada, após manter um silêncio de quase 48 horas após a confirmação da derrota, o presidente falou sobre o assunto e depois publicou um vídeo em que pedia aos apoiadores para que liberassem as rodovias. Na ocasião, ele enfatizou que esses bloqueios "não fazem parte dessas manifestações legítimas".
Bolsonaro tratou os manifestantes como "brasileiros que estão protestando pelo Brasil". Ele ainda disse que, "ao longo desse tempo todo à frente da Presidência, colaborei para ressurgir o sentimento patriótico, amor à pátria, nossas cores verde e amarela, a defesa da família, da liberdade".
Segundo a colunista do UOL Juliana Dal Piva, as brigas no clã Bolsonaro abalaram a campanha do presidente que tentou, sem sucesso, a reeleição.
Conforme Dal Piva, as principais discussões ocorreram entre o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ) e a primeira-dama Michelle Bolsonaro. Entretanto, desentendimentos entre Flávio e Eduardo também ocorreram nos bastidores, sobretudo devido ao fato de o senador ter reconhecido a vitória de Lula sem questionar o resultado, ao contrário do que pretendia o deputado, simpatizante da radicalização.
Pouco tempo depois do resultado das eleições, foi notado que Michelle parou de seguir as redes de Jair Bolsonaro e vice-versa. A explicação da primeira-dama é que isso ocorreu porque as contas não são administradas pelo marido. "Conforme o Jair explicou em várias 'lives', quem administra essa rede não é ele", escreveu ela no Instagram.
O responsável pelas redes sociais de Jair Bolsonaro é Carlos, considerado o mais beligerante dos filhos do presidente.
Durante a campanha, também foi público e notório o atrito entre Michelle e Jair Renan, o "04". Na ocasião, a disputa pelo apoio e uso do sobrenome "Bolsonaro" entre os candidatos de direita no Distrito Federal provocou um racha na família presidencial ao colocar em lados opostos os interesses da madrasta e do enteado.
Michelle pleiteava o apoio exclusivo do marido ao seu irmão, Eduardo Torres. Jair Renan, por sua vez, dizia ser legítimo que sua mãe, Ana Cristina, usasse o sobrenome do ex-marido para angariar votos. No final, com as urnas apuradas, tanto Eduardo quanto Ana Cristina saíram derrotados.