Restrição a voos prejudica turismo em Fernando de Noronha, dizem empresários

Por JOSÉ MATHEUS SANTOS

RECIFE, PE (FOLHAPRESS) - Donos de negócios em Fernando de Noronha afirmam que o movimento de turistas no arquipélago caiu desde a restrição a aviões turbojatos no arquipélago em outubro. Atualmente, apenas aeronaves turbo-hélices operam voos para o local.

Os empreendedores buscam ter otimismo com a possibilidade da plena operação da pista aeroportuária nas próximas semanas em meio a relatos de dificuldades financeiras. Eles classificam o Governo de Pernambuco como negligente na condução quanto à pista do aeroporto.

A restrição aos turbojatos foi determinada pela Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) por degradação na pista do aeroporto, pertencente ao Governo de Pernambuco e gerida por uma empresa contratada pelo estado. Desde então, a gestão estadual deu início a obras para adaptar o asfalto aos pedidos da agência.

As exceções à medida são operações de emergência médica ou de transporte de valores, que podem ser realizadas mediante prévia solicitação.

Atualmente, Fernando de Noronha recebe oito voos diários de ida e volta da Azul Linhas Aéreas, que usa aviões de hélice. Antes, eram quatro com os turbojatos, que têm maior capacidade de passageiros. A Gol não realiza mais operações para a localidade desde a restrição.

A Folha de S.Paulo apurou que o governo estadual planeja a contratação de uma empresa para elaborar um parecer sobre as obras e submeter à Anac.

Para Natália Veríssimo, proprietária de loja de roupas e de uma agência de passeios no arquipélago, o cenário é desanimador e pode ser percebido nas ruas de de Noronha. "Piorou muito, inclusive estava falando com a gerente da loja e ela disse que estava parecendo uma cidade-fantasma, não entra uma pessoa na loja."

A agência de passeios comandada por ela sofreu uma onda de cancelamentos em outubro, nas semanas iniciais da restrição. E os clientes nem sequer sinalizaram possibilidade de ida posterior a Noronha. Com isso, a organização de passeios em lanchas, barcos, canoas havaianas, trilhas a pé e de carro foi comprometida.

"Houve um investimento de pessoas que se prepararam para receber turistas e agora estão na mão. Se continuar dessa maneira, vão ter que se reinventar, não vão se segurar por muito tempo. Já vejo pessoas se desfazendo de bens por conta de dívidas dessa crise", afirma ela.

A empresária ainda avalia que a restrição da Anac à pista do aeroporto foi correta e atribui ao poder público a responsabilidade pela queda na qualidade do asfalto do local.

Em nota, a Anac diz que monitora as obras de requalificação da pista do aeroporto. O órgão pediu novas informações ao operador do terminal sobre o assunto e o governo estadual respondeu, ao passo que a agência reguladora solicitou informações complementares.

A Anac afirma também, em nota à Folha, que enviou ao Governo de Pernambuco, em 2019, alertas de falhas na pista de pouso, mas que a gestão estadual efetuou só ações paliativas.

"Até o momento da emissão da medida cautelar, somente ações paliativas haviam sido realizadas, sendo que as medidas corretivas necessárias para a melhoria dos níveis de segurança operacional da pista estavam sendo postergadas, oferecendo risco potencial às operações aéreas", diz o órgão.

Quando anunciou a restrição, em outubro, a Anac declarou que o então tipo de asfalto presente no aeroporto não tinha "aderência adequada à camada asfáltica existente" e costumava "apresentar desprendimento quando o pavimento aeroportuário é submetido a esforços durante a operação de aeronaves turbojato".

A Folha teve acesso a um ofício enviado pela Anac ao Governo de Pernambuco na última sexta (25) em que a agência menciona que as obras emergenciais podem ser ineficazes para resolver problemas da pista.

"Mesmo com a finalização dos reparos emergenciais, pode, eventualmente, persistir a situação já constatada quanto à desagregação do pavimento e ao risco de ingestão e danos aos motores, fuselagem e pneus das aeronaves pelo material desprendido. Tais consequências são mais acentuadas quando relacionadas à operação de aeronaves de asa fixa com motor à reação", diz o ofício da Anac, assinado pelo gerente de controle e fiscalização, Marcos Roberto Eurich.

No documento, a agência faz novas exigências ao Governo de Pernambuco para continuar avaliando a possibilidade de liberar as restrições da pista.

Enquanto isso, o segmento hoteleiro busca otimismo em meio à espera pela conclusão das obras de melhorias da pista.

Proprietária de uma pousada em Noronha, Dora Costa diz que seu estabelecimento registra uma queda na ocupação. "Mas acho que é temporário. [Houve] propagandas negativas sobre a situação em Noronha e agora em a Copa", diz.

Na pousada dela, a ocupação foi de 60% em outubro e está na média de 70% em novembro. O local tem capacidade para receber até 19 hóspedes. "Acho que o estado foi altamente negligente quanto à pista. Depois de a gente fechar oito meses, andar dois anos, temos que passar por essa queda [de visitantes] por responsabilidade do Estado."

A empresária contesta a possibilidade anterior de desabastecimento de Noronha no período pós-restrição à pista do aeroporto. "Não houve nada disso", afirma ela, citando esse ponto entre os fatores por trás da baixa atividade turística atual.

Outro problema apontado por pessoas de Noronha, local que depende diretamente da movimentação turística para garantir fôlego econômico, é a ausência de voos diretos para São Paulo.

De acordo com o Governo de Pernambuco, o cronograma para conclusão das obras emergenciais no aeroporto Noronha está mantido para o dia 30 de novembro. "As obras emergenciais no aeroporto estão orçadas em R$ 1,2 milhão e a requalificação total do aeródromo chega a R$ 59 milhões e tem previsão de conclusão de 12 meses", diz a gestão, por meio de nota.

Ainda segundo a administração estadual, o transporte de mercadorias está normalizado no arquipélago e foi contemplado com um voo cargueiro todos os sábados.