É preciso olhar a Fundação Butantan com atenção e afastar suspeitas, diz Tarcísio
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O governador eleito de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), afirmou, nesta quinta-feira (1º), que é preciso olhar com dedicação especial para a Fundação Butantan e afastar suspeitas.
A declaração foi dada após encontro com empresários na Associação Comercial de São Paulo, um dia após a Folha de S.Paulo revelar a saída de Dimas Covas do comando do Instituto Butantan em meio a questionamentos sobre gastos da fundação.
"Vejo que a gente tem que olhar com muita atenção a fundação. Porque observem que a fundação é esse braço financeiro do instituto e precisa haver um alinhamento, e a gente precisa afastar problemas, suspeitas, trabalhar na questão da integridade, na questão da governança, então nós vamos ter uma dedicação especial à fundação", afirmou o governador eleito.
Tarcísio também frisou a importância do instituto. "O instituto é fundamental para nós, é um dos maiores produtores de vacina, tem uma grande possibilidade da gente ampliar a produção de fármacos", disse.
A Fundação Butantan é uma entidade privada, constituída em 1989 e que atua como braço operacional e administrativo em apoio ao Instituto Butantan, que é vinculado ao governo estadual e foi fundado em 1901.
O jornal Folha de S.Paulo apurou que gastos da fundação com contratos sem licitação, obras e altos salários incomodaram a gestão Rodrigo Garcia (PSDB) e são alvos de questionamentos do TCE.
Dimas pediu demissão do instituto, mas ficará à frente da fundação. O médico infectologista Esper Kallás assumirá no próximo ano o comando do instituto.
Nesta quinta, saiu a publicação da saída de Dimas Covas do instituto, com data retroativa de 11 de novembro. À coluna Mônica Bergamo, da Folha de S.Paulo, ele disse que deixou a direção do instituto para que pudesse assumir a fundação.
"O Butantan é totalmente dependente da fundação, e a fundação não pode sofrer descontinuidade", afirma o médico, que cita a produção de vacinas como exemplo de projeto que poderia sofrer alterações importantes no novo governo. "O Butantan precisa preservar os avanços que teve", diz ainda.
Ele negou que tenha deixado a direção do instituto após obras e contratos sem licitação da Fundação Butantan serem questionados pelo TCE, como revelado pela Folha de S.Paulo.
Dimas assumiu a diretoria do Instituto Butantan em 2017, no governo do então tucano Geraldo Alckmin (hoje no PSB), e foi mantido por João Doria (então no PSDB, hoje sem partido) e Rodrigo.
Professor da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP, Dimas teve atuação importante no combate à pandemia de Covid-19. Com a viabilização da Coronavac, ele recebeu uma série de prêmios, como a Medalha Armando Salles Oliveira, da USP.
Sua gestão, no entanto, virou alvo da Controladoria do governo depois que a Folha de S.Paulo publicou, no dia 9, que o TCE investiga possíveis irregularidades em contratos sem licitação que somam R$ 161 milhões. Este acordo foi firmado pela Fundação Butantan e uma empresa fornecedora de software. Entre outras questões, a análise dos técnicos do órgão aponta riscos de superfaturamento no processo.
Outro contrato que causou atrito com o governo foi a proposta da fundação de construir um edifício-garagem para seus funcionários. Localizada no bairro do Butantã, na zona oeste de São Paulo, a obra tem previsão de custar R$ 140 milhões.
Os altos salários dentro da entidade são outro ponto que vêm causando desgaste. A reportagem obteve documentos que afirmam que a diretora de projetos Cíntia Retz Lucci foi admitida pela Fundação Butantan em 2017 com salário de R$ 7.267,64 e, em agosto de 2022, apresentou um salário de R$ 79.972,16.
O valor é mais que o triplo do salário do governador, de R$ 23 mil ?o teto do funcionalismo no estado.
Ainda de acordo com os documentos obtidos pela Folha, a irmã de Cíntia, Vivian Retz Lucci, foi admitida em 2020 com salário de R$ 18.281.
Em nota, o Butantan diz que Vivian foi escolhida em um processo seletivo e que a sua contratação não teve nenhuma interferência de sua irmã Cíntia.
Já com relação à evolução salarial de Cíntia, o Butantan afirmou que "durante a sua trajetória na empresa de caráter privado, por competência e merecimento, foi promovida para cargos outros, com faixas salariais pré-definidas", diz a nota. "O cálculo dos salários da Fundação Butantan são todos mensurados pelo valor de mercado."