Divino Fonseca, levou Divino no nome, no caráter e na excelência do texto

Por PATRÍCIA PASQUINI

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A criatividade e a clareza estavam presentes em todos os textos de Divino Fonseca, mas alguns tinham algo a mais, na opinião do professor universitário Renato Duarte Fonseca, 51, um de seus filhos: a pegada lírica e o toque de crônica.

Divino nasceu na cidade gaúcha de Barra do Ribeiro (RS) e mudou-se para Porto Alegre ainda jovem. Cursou o então segundo grau no Colégio Estadual Júlio de Castilhos, também chamado de Julinho, e jornalismo na UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul).

O primeiro emprego, ainda na faculdade, foi como fiscal da Prefeitura de Porto alegre, na Secretaria de Indústria e Comércio. Em uma das operações, encontrou irregularidades numa empresa e o dono lhe ofereceu propina, o que recusou. Foi ameaçado de morte, aconselhado a aceitar o dinheiro e, então, pediu demissão.

O nome Divino também definiu seu caráter, sua honestidade e a excelência dos textos que escreveu.

O sucesso como jornalista foi na imprensa esportiva. No seu currículo constam coberturas históricas, como as das Copas do Mundo de 1974, 1978 e 1986.

Na revista Placar, onde trabalhou desde a primeira edição, ganhou reconhecimento nacional, segundo Renato. Começou como repórter. Nos anos 1980 e 1981, editou a Placar em São Paulo e depois retornou ao Sul.

Em 1986, trocou a revista pelo jornal Diário do Sul, onde permaneceu até 1988. Divino fez colaborações para a Vejinha e, no início dos anos 1990, teve a segunda passagem pelo Zero Hora -a primeira ocorreu no início da carreira. Lá, ficou quatro anos. Depois, migrou para o Jornal Já, um veículo pequeno de Porto Alegre.

Os últimos anos de atividade na profissão, até a aposentadoria, foram no Lance!. Leitor voraz de literatura, fez dos livros seus companheiros até os últimos momentos de vida.

Além do amor pela leitura, a preocupação social e a honestidade o marcaram. Divino agregou delicadeza e doçura ao longo de sua existência. A música "Todo o sentimento", de Chico Buarque, que traz a delicadeza em seus versos, era uma das suas preferidas, assim como "Vela no Breu", do Paulinho da Viola.

Apesar de reservado, gostava dos amigos e de boa conversa. Com os filhos, a preferência era por assuntos que envolviam política, futebol e séries. Amava comidas simples, em especial carnes e massas.

Há dez anos, foi diagnosticado com fibrose pulmonar. Apaixonado pelo Sport Club Internacional, ia aos jogos, mesmo portando oxigênio, com um dos filhos.

Divino morreu no dia 9 de dezembro, aos 80 anos, após sofrer uma parada cardíaca. Separado, deixa três filhos e cinco netos.