Governo Camilo Santana teve crise na segurança pública e bons indicadores na educação
SALVADOR, BA (FOLHAPRESS) - Convidado pelo presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), para assumir o Ministério da Educação, o senador eleito Camilo Santana (PT) tem perfil discreto e é conhecido pela habilidade política nos bastidores, movendo-se como uma espécie de algodão entre cristais.
Com esse estilo de liderança, equilibrou-se em meio a rusgas entre o PT e o PDT do Ceará, montou uma coalização ampla com o apoio de partidos como DEM e PSDB e passou de liderado a líder político após um ciclo de pouco mais de sete anos como governador.
Eleito para o governo do Ceará em 2014 sob as bênçãos do então governador Cid Gomes e do ex-governador Ciro Gomes, ambos do PDT, Camilo não é exatamente um petista raiz. Ele iniciou sua trajetória política no PSB, partido do seu pai, Eudoro Santana, que foi deputado estadual por quatro mandatos.
Formado em ciências agrárias pela Universidade Federal do Ceará, Camilo Santana atuou no movimento estudantil na juventude e construiu sua trajetória política na cidade de Barbalha. Foi candidato à prefeitura em 2000 pelo PSB e em 2004 pelo PT, sendo derrotado nas duas oportunidades.
Em 2007, teve sua primeira experiência no Executivo ao ser nomeado secretário de Desenvolvimento Agrário pelo então governador Cid Gomes. Eleito deputado estadual em 2010, assumiu a Secretaria das Cidades no segundo mandato de Cid e se tornou próximo do governador.
Em um lance considerado surpreendente na época, foi indicado para ser candidato ao governo. Sua indicação para a disputa foi bancada pelo próprio Cid Gomes, que preteriu outros cinco nomes de seu partido para formar uma aliança com o PT.
Os Ferreira Gomes foram os principais organizadores da campanha de Camilo e influenciaram os rumos tomados durante as eleições e formação do governo, o que causou descontentamento em parte da militância petista.
Em seu governo, conseguiu manter os bons indicadores da educação básica registrados desde a gestão de Cid Gomes e ampliou a cobertura de escolas em tempo integral na rede estadual.
Por outro lado, enfrentou crises no campo da segurança pública. Nos dois mandatos do petista, o Ceará enfrentou uma escalada de violência, com aumento do número de homicídios e com bairros inteiros dominados por facções criminosas.
O número de mortes violentas teve altos e baixos durante a gestão. Foram 4.019 assassinatos em 2015, primeiro ano de governo, número que chegou a seu ponto mais alto em 2018, com 4.518 mortes violentas.
No ano seguinte, o indicador chegou ao seu patamar mais baixo, mas explodiu em 2020, quando o governo Camilo Santana enfrentou um de seus capítulos mais críticos com a eclosão de um motim de policiais militares.
O então governador puniu os policiais amotinados e travou uma batalha política com este setor, o que incluiu uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) na Assembleia Legislativa para investigar o financiamento de entidades que estiveram envolvidas no motim.
Mostrou habilidade no campo da articulação política, construindo uma base aliada heterogênea que incluía PT, PDT e até mesmo legendas mais à direita como DEM e PSDB. Foi reeleito com facilidade em 2018, quando teve cerca de 80% dos votos no primeiro turno.
No Ceará, adversários afirmam que a gestão de Camilo Santana deixou passivos nas áreas de segurança pública, com indicadores de mortes violentas entre os maiores do país, e de saúde, na qual há um represamento de consultas e cirurgias na rede estadual.
Mas mesmo representantes da oposição o reconhecem como um político talhado para a gestão e sem arestas. "Ele fez um governo estável, sem escândalos e sem nos dar abertura para grandes críticas", afirma o deputado estadual Heitor Férrer (União Brasil).
A provável chegada de Camilo ao comando do MEC reforça o protagonismo de uma geração de governadores nordestinos que devem ser alçados a ministérios no governo Lula. O grupo inclui nomes como Rui Costa (PT-BA), Flávio Dino (PSB-MA) e Renan Filho (MDB-AL).
A nomeação, porém, não deve acontecer sem traumas. Seu primeiro desafio será debelar uma crise interna em parte de sua base, que preferia ver no comando do Ministério da Educação a atual governadora Izolda Cela (sem partido).
A nomeação de Izolda era dada como certa, até o PT do Ceará reivindicar a pasta. A bancada cearense ganhou força após eleger Elmano de Freitas (PT) para o governo do estado em primeiro turno em meio a uma queda de braço com o ex-governador Ciro Gomes (PDT).
Considerada uma das mais renomadas gestoras públicas no campo da educação do país, Izolda foi secretária de Educação em Sobral (CE) e uma das criadoras do programa de alfabetização na Idade certa, modelo que alçou a cidade ao posto de melhor ensino fundamental público do país.
Ela foi secretária da Educação do Ceará, além de vice-governadora nos dois mandatos de Camilo Santana. Assumiu o governo em abril, quando o petista deixou o cargo para concorrer ao Senado.
A dobradinha entre Camilo e Izolda teve as bênçãos dos ex-governadores Cid e Ciro Gomes, que em 2014 bancaram a indicação do petista para a disputa do Governo do Ceará em um aceno ao PT nacional.
Nos últimos dias, Camilo tem buscado demonstrar unidade e reduzir possíveis resistências a sua eventual nomeação para o MEC. Nesta sexta (16), participou de um almoço em homenagem a Izolda Cela em Fortaleza e elogiou a governadora em suas redes sociais.
A tendência é que, caso o petista seja confirmado para o comando do ministério, Izolda assuma a Secretaria de Educação Básica. Esta formatação, contudo, também é alvo de críticas por dar à primeira mulher governadora do Ceará uma posição coadjuvante no novo governo.
O PT do Ceará, por outro lado, acena com um maior protagonismo feminino no Senado, já que a suplente de Camilo é uma mulher: a deputada estadual Augusta Brito (PT).