Como é a Praia do Pinho, em Balneário Camboriú, que vereador quer vetar nudismo

Por HYGINO VASCONCELLOS

BALNEÁRIO CAMBORIÚ, SC (FOLHAPRESS) - Da rua, não é possível ver os banhistas que estão na faixa da areia. Dali, é preciso percorrer cerca de 350 metros, em uma descida, até chegar à praia do Pinho, em Balneário Camboriú, a mais antiga do país a adotar a prática do nudismo ?o início foi em 1983, segundo os registros oficiais.

A própria disposição do caminho até a areia, com uma estrada em "L", dá mais privacidade aos frequentadores na praia do litoral de Santa Catarina.

Na metade do ano passo, o local virou alvo de uma polêmica após o vereador Anderson Santos (Podemos) ingressar com um projeto para proibir a prática do nudismo no local. O caso ainda está em tramitação na Câmara.

Entre as justificativas de Santos, está o comportamento indigno dos frequentadores, com "promiscuidade exacerbada, sexo explícito, uso de drogas ilícitas e grandes acúmulos de resíduos sólidos".

A reportagem esteve na praia do Pinho em dezembro. A água é transparente e não há acúmulo de lixo na faixa de areia. Uma banhista de 60 anos, adepta ao naturismo, que pediu anonimato, disse achar que água do Pinho é mais limpa do que a de outras praias.

Além disso, só é permitido ficar pelado em uma área específica. Há placas que sinalizam que não é permitido ficar desnudo no primeiro trecho de acesso à praia e mais próximo da rua ?entre a avenida Rodesindo Pavan até a curva que garante acesso à faixa de areia.

A regra faz com que os iniciantes confiram o local antes de decidirem ficar por ali. Foi o caso de um servidor público de 26 anos, que nunca havia estado em uma praia de nudismo. Ele preferiu não se identificar.

O servidor havia parado o carro de curiosidade, e desceu com roupas. Como lhe pareceu um lugar tranquilo e com casais, decidiu tirar a roupa, o que lhe deu uma sensação diferente, de desapego.

Na faixa de areia, o uso de trajes de banho passou a ser opcional há dois anos ?antes, era proibido o uso de roupas.

A faixa de areia tem 500 metros de extensão e é dividida por um rochedo. Tradicionalmente isso segmentava os públicos: de um lado ficam casais e de outro, quem está desacompanhado. Essa separação, porém, não existe mais atualmente.

Gerente da pousada da Praia do Pinho, Leandro Burg diz que a mudança nas regras se deve a uma decisão judicial tomada em uma ação do MPF (Ministério Público Federal). "E nós, na posição de empresa, não podemos fazer nenhum tipo de controle na faixa de areia, pois é espaço público."

Na visão do gerente, por conta da proibição na separação entre solteiros e casais, a promiscuidade, citada pelo vereador, vem aumentando e "a cada dia [fica] mais explícita".

Burg reclama que a prefeitura não realiza o serviço de limpeza no Pinho, como faz em outras praias. "A praia limpa não é graças ao poder público, e sim a nossa empresa que tem essa consciência e faz essa manutenção. Eles [a terceirizada contratada pela prefeitura] recolhem os lixos que levamos lá na parte de cima, no estacionamento."

A praia possui um Código de Ética, de 2007, que detalha o que é falta grave e comportamento inadequado. Em ambos pode ocorrer expulsão do frequentador. Porém, no segundo, há penalidades mais brandas, como advertência e suspensão.

Entre o que pode ser considerado falta grave está "comportamento sexualmente ostensivo e/ou praticar atos de caráter sexual ou obscenos nas áreas públicas".

O local possui guarda-vidas, bares, pousada e ainda área para camping. O estacionamento é pago.

Cada frequentador define a praia de uma maneira diferente. Um empresário de 60 anos, que estava acompanhado da esposa, entende que a maior parte dos banhistas são formados por casais. Já um técnico de radiologia de 24 anos considera que o Pinho é uma praia de "gente mais velha", com "corpos variados". Enquanto um administrador de 40 anos disse que o local permite que se sinta incluído.

"Não é como na Praia Brava (em Itajaí), onde o corpo é endeusado. Aqui você pode ser gordinho, magrinho, que está ok."