PMs da Rota usaram fuzis e atiraram 28 vezes contra suspeitos na rua da Consolação

Por PAULO EDUARDO DIAS

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Os quatro policiais militares da Rota (Rondas Ostensivas Tobias Aguiar) que participaram de uma ação que resultou na morte de dois homens e deixou um outro em estado grave dispararam 28 vezes contra o veículo em que o trio estava. O fato ocorreu na madrugada de quinta-feira (12) na rua da Consolação, região central de São Paulo.

Conforme o boletim de ocorrência, os tiros partiram de dois fuzis, dos calibres 762 e 556, e de pistola .40. Segundo o relato, a polícia iniciou os disparos após os suspeitos ameaçarem atirar.

Os policiais militares que participaram da ação não prestaram depoimento, uma vez que não apresentaram advogados, como determina o Código de Processo Penal. Os PMs pediram para serem atendidos pela Defensoria Pública.

Segundo o boletim de ocorrência, os policiais militares da Rota receberam denúncia anônima de que uma quadrilha iria realizar roubo a residência em Cotia, na Grande São Paulo. Diante do acionamento, as equipes passaram a tentar localizar os veículos suspeitos.

O primeiro carro, Mercedes-Benz C200, foi localizado na rodovia Raposo Tavares, na altura de Cotia. Dentro dele estavam três jovens, que não resistiram à abordagem. Nada de ilícito foi encontrado. No entanto, o trio, que já tinha passagens pela polícia, foi detido -a polícia os liberou nesta sexta (13).

Um segundo automóvel, um Honda Fit, foi localizado na rua da Consolação. Conforme o boletim de ocorrência, três homens que estavam no carro ameaçaram atirar. Foi quando os PMs da Rota dispararam.

Os mortos foram identificados como Gabriel Barbosa da Silva e Fabiano Alexandre Melo. Um terceiro suspeito foi encaminhado em estado grave para o pronto-socorro da Santa Casa.

O documento aponta que, dentro do carro onde o trio estava, foram encontrados três revólveres calibre 38 e uma pistola calibre 45.

Os veículos não possuem queixas de roubo ou furto. A Mercedes-Benz C200, conforme o advogado Hilton Tozetto, responsável pela defesa do trio detido em Cotia, pertence a um dos jovens.

Já o Honda Fit está em nome do pai de um dos mortos.

Os seis homens envolvidos nas duas ações policiais possuem passagens. No entanto, Tozetto afirmou que eles não se conheciam e que os casos não tinham relação.

O advogado afirma que o proprietário da Mercedes-Benz havia retirado o veículo de um pátio em Guarulhos na tarde anterior à operação. O veículo havia sido apreendido em 15 de dezembro por problemas administrativos.

Com o veículo em mãos, o dono e mais dois amigos saíram para se divertir, segundo Tozetto.

O advogado diz ainda que os dois grupos podem ter se encontrado por acaso em um posto de combustíveis na capital momentos antes de se tornarem suspeitos, já que seus clientes disseram que um veículo semelhante parou ao lado deles.

"Eles foram com a Mercedes abastecer em um posto de combustível onde jovens se encontram. E, esse Fit onde estavam os baleados também estava no mesmo posto. Eu acho que a PM ou algum informante deve ter falado que eles estavam juntos. Se criou a ideia de uma junção entre seis pessoas, uma organização entre os seis", disse o advogado.

Tozetto afirma que o fato de o trio ter passagem pela polícia pode ter sido levado em consideração para encaminhá-los à delegacia mesmo sem nada de ilícito ter sido encontrado no carro.

O batalhão da Rota -até o começo de 2021 um dos mais letais da corporação- faz parte das unidades que passaram a usar câmeras "grava tudo" acopladas aos uniformes de PMs. Na tropa, de acordo com dados oficiais, a redução foi de 89% na letalidade policial.

A Polícia Civil diz que solicitou à PM acesso às imagens captadas pela câmeras dos uniformes dos policiais envolvidos na ocorrência.