O que dizem sobreviventes de acidente de ônibus com 4 mortes em MG
JUIZ DE FORA, MG (UOL/FOLHAPRESS) - Adolescentes pedindo desaceleração, desentendimentos e "clima estranho". Vítimas sobreviventes do acidente na BR-116, em Além Paraíba (MG) envolvendo um ônibus que transportava jogadores do Esporte Clube Vila Maria Helena, de Duque de Caxias (RJ), detalharem a viagem que teve início no domingo (29) e terminou com o veículo tombando, a 370 km de Belo Horizonte, em um episódio marcado pela morte de quatro adolescentes entre 13 e 18 anos.
De acordo com alguns dos garotos, vários deles pediram ao motorista para que seguisse menos rapidamente pela estrada, mas o condutor teria dito precisar chegar logo ao Rio de Janeiro, gerando uma pequena discussão até mesmo para que o grupo parasse para se alimentar no meio do caminho. A reportagem ouviu alguns dos passageiros, além de organizadores do torneio e pais de vítimas sobreviventes para compreender o que se passou do domingo (29) à tarde até a madrugada de segunda, quando foi registrado o acidente.
O CAMPEONATO
O time sub-18 do EC Vila Maria Helena vence duas partidas de futebol -uma às 11h30 e outra, às 14h30-, e é campeão da categoria.
O elenco sub-16 termina de jogar às 19h e fica com o vice-campeonato da categoria.
Por volta das 19h30, os garotos são premiados com medalhas e troféus.
VIAGEM E 'CLIMA ESTRANHO'
Os times deixam Ubaporanga (MG) por volta das 21h e pegam a estrada com destino a Duque de Caxias (RJ). A viagem prevê um total de 477 km rodados.
Segundo três dos atletas que estavam no ônibus, o motorista já iniciou o percurso em velocidade acima do permitido. "Nas curvas, que era para ele ir a 60km/h, ele estava indo a 90km/h. Tinha um clima estranho", contou Yorran dos Santos Gonçalves, 15.
Acordado na hora do acidente, Pedro Henrique Santana, 17, disse que, por diversas vezes, os jogadores pediram para o motorista ir mais devagar. "Algumas vezes pedimos para ele parar [de acelerar]. Nós levamos um susto, porque ele ultrapassou a faixa da esquerda e veio uma carreta buzinando. Aí ele foi e voltou para a faixa da direita rápido", lembra.
Após esse susto, os jogadores e membros da comissão técnica pediram para o motorista fazer uma pausa para o lanche. No entanto, ele não queria parar. "Ele não queria, o DG [Diogo Coutinho Vilar, um dos mortos no episódio], conversou com o motorista, porque 'geral' estava com fome. Mas ele falou assim: 'se forem parar, tem que ser rápido, pois quero chegar logo no Rio'", relembrou Yorran.
"A gente parou para comer entre 22h30, 23h. Fomos comendo e ele apressou a gente, pedindo para entrar no ônibus logo", contou Pedro.
Por volta de 23h15, o grupo seguiu viagem, quase todos adormecidos. "Ele continuou a andar muito rápido. Os lugares que eram para ele descer a 40km/h, ele descia a 60km/h. Na hora do acidente, lembro que estava em linha reta. Ele jogou um pouco o ônibus para o lado esquerdo e voltou muito rápido [para a direita]. Nessa, que ele voltou, já viramos o ônibus", recordou Pedro.
O boletim de ocorrência do Corpo de Bombeiros de Além Paraíba registrou o primeiro chamado para atender a ocorrência por volta de 1h de segunda-feira (30). Segundo os adolescentes, as primeiras ambulâncias chegaram 15 e 20 minutos.
"A gente tentou quebrar a janela de trás, mas a gente viu que se fizesse isso, ia cair no rio. Aí o José, que estava na frente, achou a porta e começou a dar vários chutes; abriu a porta e começamos a sair. Eu estava com meu telefone, liguei o flash e comecei a pedir socorro. Entreguei meu celular para que pudessem tirar outras pessoas do ônibus. E fomos retirando. Depois que tiramos muita gente, um colega conseguiu subir pelo canto da pista e voltamos para a estrada", contou Yorran.
INVESTIGAÇÃO
Em nota, a Polícia Civil de Minas Gerais informou que foi aberto um inquérito para apurar o acidente.
Em depoimento, o motorista disse "que não se lembra bem da situação". Entretanto, ele contou que "teve a impressão de ter visto uma carreta e entendido que ela queria fazer uma ultrapassagem, mas que ela teria desistido e recuado. No entanto, o condutor teria se assustado, jogado o ônibus para o lado e o veículo teria se chocado contra a proteção lateral da pista", informou a PCMG.
"Não ouvi barulho de nenhuma carreta. Ele jogou para a esquerda e voltou muito rápido para a direita, como se ele tivesse cochilado e acordado no susto", recordou Pedro Henrique.
A reportagem tentou contato com o dono da empresa de ônibus LG Turismo, por telefone e mensagens por aplicativos, mas não obteve resposta até o momento. Este espaço será atualizado tão logo haja manifestação.
COMO ESTÃO AS VÍTIMAS
Dos 33 ocupantes do ônibus, quatro morreram:
Kaylon da Silva Paixão, 13;
Thyago Ramos de Oliveira, 15;
Andrey Viana da Costa, 15;
Diogo Coutinho Vilar (comissão técnica), 18.
Ao todo, 9 dos 29 feridos seguem em atendimento hospitalar nos municípios de Além Paraíba, Leopoldina e Muriaé.
Hospital São Salvador, em Além Paraíba: 1 vítima na UTI e 3 na enfermaria;
Casa de Caridade Leopoldinense, em Leopoldina: 2 vítimas no pós-cirúgico e 1 no CTI;
Hospital São Paulo, em Muriaé: 2 vítimas na enfermaria.