Ozempic é usado diariamente, contrariando indicação semanal do fabricante
CURITIBA, PR (FOLHAPRESS) - Aprovado no Brasil para o tratamento da diabetes tipo 2, o medicamento Ozempic (semaglutida) é frequentemente prescrito de forma offlabel para atuar contra a obesidade. A indicação da bula consiste em injeções subcutâneas semanais, mas usuários fracionam a dose da substância e tomam diariamente. Médicos se dividem sobre benefícios.
A mesma substância já foi aprovada pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para o tratamento da obesidade, e será comercializada sob o nome de Wegovy. Enquanto o Ozempic tem dosagens de 0,25 mg, 0,5 mg e 1,0 mg, o novo medicamento possui 2,4 mg. Ambos são fabricados pelo laboratório Novo Nordisk.
A endocrinologista Adriane Rodrigues, responsável pelo ambulatório de obesidade do Serviço de Endocrinologia e Metabologia do Hospital de Clínicas da UFPR (Universidade Federal do Paraná), afirma que a aplicação fracionada é feita em situações específicas.
"Às vezes fazemos duas vezes por semana em pacientes selecionados", diz
Nestes casos, são pessoas que sentem fortes efeitos colaterais, como náuseas, vômitos e diarreia. Para eles, a dose semanal pode ser dividida em intervalos de três a quatro dias, afirma a médica.
A divisão também pode ser indicada se o apetite aumentar depois de três dias. "Nesse paciente a meia-vida do medicamento provavelmente é mais curta", pontua a endocrinologista.
O tratamento tem início com 0,25mg e aumenta, em geral, a cada quatro semanas. "Às vezes aumentamos em menos tempo, como duas semanas", afirma. A progressão vai de 0,25 mg para 0,5 mg, e pode chegar até 2,4 mg, a depender do paciente.
Foi assim com a empresária Ketery Filip, 45, que há seis meses procurou um endocrinologista e passou a fazer uso semanal do Ozempic. Desde então, perdeu cinco quilos. "Minha intenção é perder 12 kgs", diz ela, que faz musculação e mantém uma dieta balanceada.
A dosagem, porém, nem sempre pode ser aumentada, uma vez que o medicamento tem fortes efeitos colaterais e alto custo. Uma unidade de 1 mg custa cerca de R$ 1.000.
A semaglutida aumenta a sensação de saciedade e reduz o apetite, e é aplicada pelo próprio paciente por meio de uma caneta com agulhas subcutâneas, em geral na barriga.
Para o endocrinologista Márcio Mancini, vice-presidente do Departamento de Obesidade da SBEM (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia, não há impedimento ético para o uso offlabel do medicamento.
Ele lembra que o Ozempic é sendo usado no Brasil com esta finalidade desde 2018 e que existem estudos que comprovam sua eficácia contra obesidade. "O uso de pequenas doses diárias não faz sentido, pois a grande vantagem é trazer conforto ao paciente", diz.
A recomendação diária pode estar relacionada à tentativa de "ser diferente, inovação, modernidade, tratamento personalizado, ou seja, marketing", aponta Rodrigues.