Oásis de ricos, praia da Baleia agora é cheia de destroços de árvores

Por ISABELLA MENON

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Na praia da Barra do Sahy, litoral norte de São Paulo, placas do Corpo de Bombeiros, a água barrenta e alguns galhos denunciam que o local foi acometido por fortes chuvas. Porém, o local, que fica próximo da Vila do Sahy, região mais afetada pelas tempestades do último fim de semana, não tem tantas marcas da tragédia quanto a praia da Baleia.

Localizada a menos de 3 km da praia do Sahy, a Baleia é conhecida pela concentração de casas de veraneio luxuosas e condomínios de alto padrão ainda em construção.

Na praia, troncos de árvores agora compõem o cenário do local, assim como sujeira localizada na beira do mar. Uma turista, que alugou a casa para passar a semana do Carnaval e prefere não ser identificada, era uma das poucas pessoas que tomava sol no local.

De maiô, saída de banho e viseira, ela comentava como o local se assemelha agora com um "cenário de guerra". Alguns que andam pela praia de bicicleta precisam desviar dos troncos e detritos. Outros poucos se arriscavam a surfavar.

O vendedor de queijinho Gilvan Pereira da Silva, 36, foi até a praia no início da tarde deste sábado (25) para registrar algumas imagens do local. Ele vive na Baleia Verde, perto da praia, e perdeu a casa que alugava.

Além do imóvel, Gilvan viu a água destruir os insumos do trabalho: queijinho, pão de alho, carne, linguiça. "Só o que carrinho que eu não perdi. Consegui salvar só RG e CPF", disse ele, que vivia de aluguel.

A enxurrada invadiu sua casa e formou diversas rachaduras. Desde aquela trágica noite, ele está abrigado na escola municipal de Barra do Sahy. "Tem muita gente, gritaria, muita criança. Não dá para dormir e nem descansar muito."

Gilvan planejava juntar R$ 2.000 para viajar para a região Norte do país, onde sua mãe vive. Ele não a visita há cinco anos. "Queria usar o Carnaval para juntar esse dinheiro. Agora, não tem mais como ir."

Sem trabalho e nem perspectiva, ele diz que está sobrevivendo com doações, como marmitex. "Quando acabar, vamos viver do quê? Não dá para trabalhar", diz ele, que vive há oito anos no litoral norte.

Neste sábado, ele aguardava a chegada de doações de móveis para ver se conseguia algo para montar uma casa. "Agora, dependo de ajuda de governo. Não tenho para onde ir."

Segundo o Corpo de Bombeiros, foram encontrados, até a manhã deste domingo, 64 corpos: 63 em São Sebastião e 1 em Ubatuba.

Equipes de psicólogas e assistentes sociais fazem um trabalho de acolhimento dos familiares das vítimas.