Colisão de trens paralisa linha 15-prata do monotrilho de SP
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A linha 15-prata do monotrilho de São Paulo ficou três horas paralisada nesta quarta-feira (8) por causa de uma batida entre dois trens.
Segundo informações do Metrô, a colisão não deixou feridos. O acidente aconteceu por volta das 4h30, durante o posicionamento dos trens ao longo da linha. A informação oficial que as duas composições se chocaram entre as estações Sapopemba e Jardim Planalto, na zona leste.
Os trens bateram sobre a avenida Sapopemba, que seguia interditada até o início da noite desta quarta para evitar que caíssem peças na via. Agentes da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) continuavam a orientar o tráfego, que tinha desvios pelas ruas Antônio de França e Silva, Cristóvão de Vasconcelos, Forte de Iguatemi e pela avenida Custódio de Sá e Faria.
Segundo a SPTrans, 25 linhas de ônibus seguiam desviadas desde as 7h, por causa da ocorrência na avenida Sapopemba, na altura da avenida Arquiteto Vilanova Artigas.
O monotrilho também voltou parcialmente. Segundo o metrô, por volta das 19h, a circulação dos trens foi retomada entre Vila Prudente e Vila União. Já o Vila União a Jardim Colonial continua paralisado. O atendimento aos passageiros com 50 ônibus do Paese (Plano de Apoio entre Empresas em Situação de Emergência) segue em todos os trechos.
Segundo Antônio Barros, gerente de operações do Metrô, a colisão frontal ocorreu no momento em que o carrossel de trens era preparado para distribuir os trens na via, antes do início da operação.
Técnicos da companhia continuam no local para identificar a causa da colisão e como farão para retirar as composições e retomar a circulação de trens. Não há previsão de normalização do sistema.
Além da perícia nos trens, serão avaliadas as mensagens de rádio dos condutores para tentar identificar o que pode ter causado a batida, disse Barros.
O coordenador ainda afirmou que nenhum dos condutores dos trens ficou ferido. Um deles, que sentiu dores no braço, foi atendido por uma equipe médica, mas não tinha lesões.
Durante a manhã, passageiros se espremiam para embarcar nos ônibus do Paese. Os coletivos já chegavam cheios na estação Sapopemba. "Que belo jeito de começar o Dia da Mulher", disse Andréia Miranda, 40, que trabalha em uma lavanderia na região da estação Vergueiro.
Ela só ficou sabendo que o monotrilho estava sem funcionar ao chegar na estação Sapopemba. "Agora vai ser uma hora apertada nesse Paese até chegar no metrô."
A costureira Quitéria Ferreira de Carvalho, 51, ficou sabendo da colisão entre os trens quando estava no ônibus a caminho da estação. "Trabalho na Oscar Freire e nem sei que horas vou chegar. Já avisei o pessoal lá", disse.
Para atestar no trabalho a causa do atraso, dezenas de passageiros filmavam e fotografavam o monotrilho batido e a aglomeração para embarcar no coletivo. Ao longo das avenidas Professor Luís Ignácio de Anhaia Mello e Sapopemba era possível ver pontos de ônibus cheios e muitos coletivos que já não paravam para embarcar mais pessoas de tão cheios.
Quem tentava utilizar carros de aplicativo, tinha de esperar quase 30 minutos por um carro, além de pagar altas tarifas.
A manicure Laís Suelen Neri Trindade, 25, tinha uma consulta em Heliópolis (zona sul de SP) as 8h e, para não chegar atrasada, tentava um carro de aplicativo. "Vou pagar R$ 80. Era pra pagar menos de R$ 10 se o monotrilho não estivesse batido. Quem paga esse prejuízo, né?"
O Sindicato dos Metroviários e Metroviárias afirmou que a operação da linha 15-prata do monotrilho ficou paralisada por causa do acidente. O posicionamento foi uma resposta ao Metrô, que afirmou que a linha foi totalmente paralisada entre 7h e 10h05 por um movimento do Sindicato.
"A linha está parada porque houve uma colisão entre dois trens, a 15 metros de altura. Isso por si só já causaria a paralisação porque é um sistema de carrossel e ainda tem a investigação", disse Camila Ribeiro Lisboa, presidente do sindicato.
De acordo com a presidente, ainda não há clareza sobre as causas do acidente.
"Não se tem clareza qual o sistema existente contra colisão. Os trabalhadores, antes de assumir a operação, querem saber o que aconteceu, querem informações. Erros operacionais acontecem no metrô do mundo todo. Mas existem tecnologias para evitar colisões, tanto que em outras linhas não acontecem. Mas na linha 15 acontece e não é a primeira vez", afirmou o sindicato.
No meio da manhã, segundo o Sindicato dos Metroviários, os trabalhadores voltaram a operar o trem diante de uma garantia de segurança por escrito.
INVESTIGAÇÃO
Essa foi mais uma de uma série de falhas e transtornos envolvendo a linha 15-prata do monotrilho.
Nesta quarta, o Ministério Público de São Paulo disse que fará uma reunião em abril com o Metrô e o CEML (Consórcio Expresso Monotrilho Leste) para chegar um acordo sobre a correção dos problemas.
A Promotoria de Justiça do Patrimônio Público e Social também pedirá ao consórcio uma indenização por danos coletivos e ao patrimônio público pelo que considera uma má execução da obra.
A proposta que será feita na reunião faz parte de um inquérito, instaurado em 2020, que apura irregularidades na interrupção da circulação dos trens da linha 15-prata. A suspensão foi causada pelo estouro de um pneu, em fevereiro daquele ano, que deixou a linha paralisada por três meses.
Segundo o promotor Silvio Marques, se não houver consenso, a instituição vai à Justiça com uma ação civil pública contra o CEML, formado pelas empreiteiras Queiroz Galvão e OAS, além da empresa canadense Bombardier. "Temos prejuízo social e dano moral coletivo e ao patrimônio público. Por isso, vamos pedir essa reunião antes para um ajustamento de conduta."
Marques afirma que parecer do CAEx (Centro de Apoio Operacional à Execução) da Promotoria mostrou falhas no projeto e na execução da obra. O Metrô disse que acompanhou a fiscalização do Ministério Público e que vai responder no prazo a questionamentos de um ofício da Promotoria de 15 de fevereiro deste ano.
O CEML não respondeu até a publicação desta reportagem. Em resposta a ofício da Promotoria, de 15 de fevereiro deste ano, o consórcio pede o arquivamento da investigação e afirma que há inconsistências técnicas no parecer do CAEx.
HISTÓRICO DE FALHAS
No dia 20 de janeiro, falhas no sistema de controle paralisaram a linha 15-prata do monotrilho de São Paulo duas vezes.
Depois de circularem com velocidade reduzida desde as 6h, os trens pararam de vez as 10h55. E só voltaram a circular as 16h19, cerca de cinco horas e meia depois. O Metrô informou, porém, que precisou interromper a circulação novamente as 19h49 e por por causa de outra pane nos sistemas de controle.
Em setembro do ano passado, um bloco de concreto caiu de uma altura de 15 metros sobre uma ciclovia na avenida Luiz Inácio Anhaia Mello, na zona leste da capital.
Em 2020, o estouro de um pneu lançou uma placa de metal que caiu na avenida Sapopemba e paralisou a linha durante cerca de cem dias.
Em janeiro de 2019, dois trens se chocaram na estação Jardim Planalto. Um dia depois, um equipamento chamado terceiro trilho se soltou e ficou pendurado a 15 metros do solo. Depois, o muro de uma das novas estações desabou sobre a escada que dá acesso à plataforma.