Atentado em Blumenau agrava trauma de pais e alunos de escola atacada em SP
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O pai de um dos alunos da Escola Estadual Thomazia Montoro, na Vila Sônia, afirma que ao ver o filho ir para a escola tem uma sensação de "será que ele vai voltar?" O trauma é uma consequência do ataque de um aluno de 13 anos que ocorreu na semana passada por lá, matou a professora Elisabeth Tenrerio, 71, e deixou outros cinco feridos.
Ele relembra que poucos dias antes, o autor das facadas bateu no seu filho. Após o ataque, que aconteceu na segunda-feira (27), o pai decidiu tirar o filho da escola e já matriculou ele em outra escola. Porém, mesmo após a mudança de escola as inseguranças continuam. "As crianças estão indo para um lugar que é para estudar e aprender e estamos mandando [nosso filho] com o coração na mão", diz ele.
Nove dias depois do ataque, uma creche em Blumenau, em Santa Catarina, foi alvo de outro episódio em que um homem de 25 anos matou quatro crianças. O pai do aluno de São Paulo lamenta os episódios e afirma que o filho desde o ocorrido não dorme bem e costuma acordar com pesadelos. "Eu e minha esposa também não dormimos. Parece que o tempo parou naquele dia", diz ele.
O pai considera que o momento mostra que é necessário uma atenção maior do estado para os ataques. "As escolas precisam acompanhar também os pais dos alunos. Às vezes, o problema nem é da criança, pode ser um reflexo doméstico", diz ele.
O medo do aluno é compartilhado pela professora de geografia Gislene Alves, que leciona na escola da Vila Sônia há cerca de quatro anos. Ela afirma que depois do episódio na semana passada passou a ter muito medo. "Uma colega me perguntou como que vai ficar de costas para a sala de aula agora. Eu não soube responder", diz Alves que agora se prepara para voltar a lecionar na próxima segunda-feira (10).
Depois do episódio de Blumenau, ela pensa em seu filho de quatro anos. "Fico pensando 'e se fosse na escola do meu filho'?", indaga ela que afirma que também não tem dormido bem nos últimos dias.
A tia de um dos alunos do Thomazia foi buscar o sobrinho e o namorado da filha de 15 anos. O episódio deixou traumas na sua família. Ela diz que a filha tem dormido com ela devido a crises de ansiedade e que a jovem tem demonstrado medo de ir para a escola. "Quando o telefone toca, acho que é minha filha ligando para pedir ajuda", relata ela.
À reportagem, ela afirma que cogita tirar a filha da escola devido ao desgaste dos últimos dias e diz que jovem costuma deixar a casa dizendo "mãe, eu estou com muito medo". "Não temos mais paz quando nossas crianças estão na escola, me sinto tranquila quando ela está em casa."
Após o ataque à escola, o governo de São Paulo anunciou reforços em ações de combate a ataques às escolas. Entre eles, está o Programa Conviva, com 300 profissionais dedicados a atendimentos de conflito e casos de depressão em escolas, além da contratação de 150 mil horas de atendimento psicológico presencial e contratação de mais 200 viaturas da Ronda Escolar com mais de 500 policiais diariamente.
Nesta quarta-feira, após o episódio em Blumenau, o governo Lula anunciou R$ 150 milhões para reforçar patrulhamento e evitar ataques em escolas. Os recursos para a medida virão do Fundo Nacional de Segurança Pública (FNSP), do Ministério da Justiça.
Além disso, o ministro anunciou que ampliará de 10 para 50 o número de policiais que participa do grupo de monitoramento da deep weeb.
Nesta quarta, após o ataque em Blumenau, o governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) anunciou que vai editar um decreto interministerial para elaborar uma política nacional de combate à violência nas escolas.
Apesar de ter recebido em dezembro o alerta da necessidade de ações para conter o avanço dos massacres em escolas, o governo começou a organizar a política depois do ataque a uma escola estadual na Vila Sônia, em que um adolescente de 13 anos esfaqueou e matou uma professora.
O anúncio da criação do grupo de trabalho foi adiantado para esta quarta após o novo ataque. A política vai envolver os ministérios da Educação, dos Direitos Humanos, Justiça e Secretaria-Geral para promover a cultura de não violência nas escolas. O grupo será coordenado por Camilo Santana e vai durar 90 dias.