O YouTube virou a nova televisão, diz Felipe Neto, hoje empresário

Por MAURÍCIO MEIRELES

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RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) - O YouTube está se posicionando no meio digital do mesmo jeito que a TV fazia no analógico.

Quem defende a ideia é Felipe Neto, que participou de uma mesa realizada nesta terça-feira na Rio2C.

O empresário e influenciador falou ao lado de João Pedro Paes Leme, ex-executivo da TV Globo que hoje é sócio de Neto na Play9, agência de influenciadores e produtora de conteúdo digital.

"É na TV que você encontra conteúdo gratuito. Se você quiser conteúdo premium, tem os streamings para você pagar e assistir. O YouTube tem essa coisa de ser democrático demais", disse Neto.

"O YouTube também caminha para o ao vivo, vendo a importância disso para o conteúdo. Hoje quando alguém vai conectar algum aparelho em alguma coisa, vai se conectar ao YouTube. Essa janela de oportunidade que a plataforma está explorando é uma mudança muito drástica na cultura brasileira."

No começo de fevereiro, depois de um período afastado, Neto voltou a produzir conteúdo em seu canal na plataforma, que foi onde ele despontou para o sucesso, há 13 anos. Ele acaba de alcançar 45 milhões de inscritos no canal.

Paes Leme afirmou que o site alcança hoje 125 milhões de brasileiros e, com isso, deixou de ser algo de nicho.

"Tem desde a minha sogra que pesquisa receitas até o menino que vai atrás do YouTube Kids. O maior concorrente da TV aberta vai ser o YouTube. A TV fechada compete com os streamings."

Os dois sócios comentaram a estreia de Galvão Bueno na plataforma em março, produzida pela Play9. O canal do locutor tinha 10 mil inscritos e atingiu 700 mil depois da transmissão do amistoso entre Brasil e Marrocos, que teve 10 milhões de visualizações.

"Eu fico imaginando como estão as pessoas das emissoras vendo os direitos esportivos se pulverizando. Tem moleque transmitindo o campeonato carioca, falando palavrão, com direitos, fazendo baita trabalho", disse Neto.

Os dois falaram sobre o desejo que alguns têm de receber a chancela de meios tradicionais ?e também a segurança de trabalhar nesses meios.

Os dois apontam diminuição de receitas do Adsense, serviço de publicidade do Google. Segundo Paes Leme, o rendimento é baixo e é prejudicado pela pulverização.

"Hoje são criadas alternativas. Antes era só Adsense, aí os ?branded contents?, depois os serviços de assinatura, depois começaram a vender camiseta, boné", disse Neto.

Ele e Paes Leme reclamaram que marcas têm dificuldades em trabalhar com criadores de conteúdo online, ao tentarem seguir modelos muito tradicionais de propaganda.

"Outro dia queriam que a Paola Carosella fizesse campanha absolutamente engessada. Ela leu [o texto] uma, duas vezes e disse: ?Desculpa, eu não sei ler essa palavra, eu sou argentina, vai ficar ridículo se ler aqui?", contou Paes Leme. "Até hoje temos que lidar com esse tipo de resistência."

Neto também falou das mudanças que a pandemia provocou no mercado de conteúdo digital. "Foram muito drásticas: compras dentro de casa, o TikTok, vídeos de minutagem alta. Isso fez o mercado prestar atenção."

Ele lembrou do alcance de a "saga ?Minecraft?", história produzida por ele a partir do game e da repercussão com o público. "A internet começou a ser mainstream, as pessoas aprenderam a colocar na TV da sala. Até 2017 ninguém via YouTube na TV. A partir de 2020, o que já vinha explodindo vira um negócio de louco."

 

*O jornalista viajou a convite da organização do evento