Linhas 8 e 9 de trem de SP têm 166 falhas no 1º ano de gestão da ViaMobilidade
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Em pouco mais de um ano sob a administração da ViaMobilidade, as linhas 8-diamante e 9-esmeralda acumularam 166 falhas, ou seja, média de uma a cada três dias. Atualmente sob críticas, a concessionária tem até a próxima segunda (17) para apresentar ao governo paulista um plano para solucionar problemas elencados num relatório do Ministério Público.
As 166 falhas abrangem o período de 27 de janeiro de 2022, quando a empresa passou a operar os dois ramais, e 31 de janeiro deste ano. São problemas em equipamentos, trens, trilhos, sistema de alimentação elétrica, rede aérea e sinalização.
Em 2019 inteiro, quando os dois ramais ainda eram administrados pela CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos), foram contabilizadas 121 ocorrências. Nos dois anos seguintes, 2020 e 2021, somaram 34, mas com a ressalva de que a pandemia de Covid levou à redução de passageiros no sistema.
A linha 8 liga a estação Júlio Prestes, no centro da capital, à Amador Bueno, em Itapevi, na Grande São Paulo. A linha 9 conecta a parada Mendes-Vila Natal, no Grajaú, na zona sul paulistana, com a de Osasco, mesmo nome da cidade em que está situada.
A ViaMobilidade assumiu as duas linhas após ter vencido o leilão de concessão promovido pelo governo paulista em abril de 2021. A gestão atual acusa a anterior de repassá-las em condições ruins de preservação, o que ocasionaria mais problemas.
A CPTM diz ter entregado os ramais em "condições apresentadas no edital de concessão, com a operação em andamento e sem restrições, além de ainda ter realizado dezenas de vistorias técnicas".
"O processo de transferência dos trens foi devidamente validado por auditoria independente e com o aceite da ViaMobilidade, da comissão de monitoramento das concessões e permissões e da própria companhia", declarou a empresa em nota.
Nos últimos cinco anos administrando as linhas 8 e 9 -2017 a 2021-, a companhia paulista diz que gastou R$ 1,7 bilhão em melhorias nas vias, sistemas de sinalização, estações e expansão.
A ViaMobilidade, por sua vez, afirma ter investido no primeiro ano de gestão R$ 1 bilhão para recondicionar o sistema, com revisão geral de trens, ação corretiva nos trilhos, inspeção da rede aérea e reforma de estações. Nos três primeiros anos de contrato, acrescenta a concessionária, o total de investimentos deve chegar a R$ 3,8 bilhões.
Por enquanto, passageiros que utilizam as duas linhas concedidas afirmam que não perceberam melhorias, queixando-se de problemas com o ar-condicionado e que passar longos intervalos nos trens parados nas vias.
Na manhã do dia 18 do mês passado, um trem descarrilou na linha 8-diamante, entre as estações Sagrado Coração, em Jandira, e Itapevi, mesmo nome da cidade em que fica. A ViaMobilidade atribuiu o descarrilamento a uma falha em um equipamento de via.
Mais tarde, no dia 30 do mesmo mês, houve o descarrilamento de uma composição de manhã na linha 8, na região da estação Júlio Prestes, centro paulistano.
À tarde, outro problema foi identificado, mas na linha 9. Uma falha técnica em um trem na estação João Dias, em Santo Amaro, na zona sul da capital, gerou uma reação em cadeia no horário de pico da volta dos trabalhadores para casa.
Para Rafael Castelo, professor no departamento de engenharia da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo), as linha estão em uma situação ruim. E, na sua avaliação, as falhas operacionais computadas são "um número bastante alto", mesmo para ramais tão requisitados pelo volume de passageiros.
Os problemas são antigos, acrescenta Flamínio Fichmann, diretor e coordenador do Grupo de Mobilidade Urbana da Associação Brasileira do Veículo Elétrico. "As linhas não são novas, e até por isso foram repassadas à iniciativa privada. Havia imediata necessidade de investir no melhoramento de todo o sistema. Mas a ViaMobilidade subestimou essa necessidade."
Fichmann declara que o número de ocorrências apresentadas na gestão da CPTM também era elevado. No entanto, considera que atualmente é maior o risco de acidente grave. "Estamos vendo descarrilamentos. Isso é o que de pior pode ocorrer em um sistema sobre trilhos. Um horror. Imagine se, em razão disso, acontece uma colisão com outro trem desavisado?"
Nesta quinta (13), o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), o procurador-geral da Justiça, Mario Sarrubbo, e o promotor Silvio Marques, da Promotoria de Justiça do Patrimônio Público e Social, reuniram-se com representantes da ViaMobilidade, no Palácio dos Bandeirantes, zona oeste da capital. Foi o segundo encontro entre as partes em pouco mais de uma semana.
Tarcísio, segundo apurou a reportagem, exigiu da empresa a apresentação, até a próxima segunda (17), de um plano robusto para resolução de falhas elencadas em um relatório do Ministério Público.
As principais demandas listadas no relatório da Promotoria tratam da segurança das vias, como manutenção de trilhos, dormentes e equipamentos. A concessionária teria prometido antecipar investimentos para efetuar os aprimoramentos até agosto deste ano.
Durante a reunião, a ViaMobilidade também teria oferecido uma proposta de indenização pelo estorvo causado pelos recorrentes problemas. Entretanto, interlocutores do governo Tarcísio afirmam que a quantia seria irrisória e teria constrangido a todos os presentes, sobretudo os membros da Promotoria.
No último dia 30, Silvio Marques afirmou que não teria mais possibilidade de diálogo com a empresa e que medidas judiciais seriam tomadas em até 15 dias para rompimento do contrato de concessão das linhas 8-diamante e 9-esmeralda.
Com a intervenção de Tarcísio, a reportagem apurou não haver, no momento, possibilidade de medida drástica por parte da Promotoria de Justiça do Patrimônio Público e Social. O governador teria insistido por mais uma chance à concessionária.
Questionada sobre o encontro desta quinta (13), a ViaMobilidade diz que a manifestação do Ministério Público é independente e que deverá cumprir todas as etapas de direito e que não obriga o Estado a qualquer providência imediata.
Ainda a respeito da reunião, o governo paulista afirma que "não há maiores detalhes que não o compromisso entre as três partes (MP, Governo/SPI e concessionária) de trabalhar em conjunto para melhorar as condições de serviços aos passageiros".