Lucien Finkelstein morreu em 2008 aos 76 anos de idade e a filha, a museóloga Jacqueline Finkelstein, assumiu a presidência da instituição. Em 2010, uma inundação danificou cerca de 300 obras da coleção. Essa sequência de eventos levou Jacqueline a encerrar as atividades do museu em 2011. Oficialmente fechado para o grande público de 2007 a 2012, o Mian reabriu depois de ser contemplado em um edital da Secretaria de Estado de Cultura, no qual recebeu R$ 500 mil durante dois anos.
Entre 2012 e 2016, o museu se manteve com leis de incentivo, bilheteria, organização de eventos e arrendamento de um espaço para um café. Até que em 23 de dezembro de 2016, fechou novamente as portas. Sem patrocínios e incentivos externos, não conseguiu pagar os custos com a estrutura.
Exposições itinerantes
Nos principais momentos de crise, uma estratégia recorrente foi a realização de exposições itinerantes com parte do acervo. A ideia era divulgar a arte naïf e procurar soluções de investimento. Isso aconteceu em 2007, em parcerias realizadas com o Serviço Social do Comércio (Sesc) do Rio e de São Paulo. Em 2011, com pelo menos 20 mostras na Grande São Paulo e no interior do estado. Em 2019, o destaque foi um evento na Escola de Artes Visuais (EAV) do Parque Lage, no Rio, com 325 obras.
Agora, em 2023, é a vez do projeto Arte nas Estações, que inclui itinerário pelo interior de Minas Gerais. São 270 obras do Mian expostas em Congonhas, Ouro Preto e Conselheiro Lafaiete. Uma primeira rodada ocorreu no início de fevereiro e uma nova é realizada este mês.
“É o maior projeto de itinerância de uma coleção este ano. O objetivo é sair do eixo Rio-São Paulo e levar arte naïf para novos públicos, onde realmente a gente percebe que existe uma carência de exposições desse alto nível. A coleção é fantástica e fala com o interior do Brasil, porque vários artistas vieram do interior. Por isso, eu escolhi Minas Gerais. Então, é um projeto que resgata artistas que foram invisibilizados”, diz Fabio Szwarcwald, que também é responsável pela mostra.
Valorização da arte naïf
De origem francesa, a palavra naif pode ser interpretada como algo ingênuo, mas também natural e espontâneo. O primeiro uso dela no campo artístico foi para caracterizar, de forma pejorativa, o trabalho do artista francês Henri Rousseau (1844-1910) no século XIX. Autodidata, Rousseau nunca estudou em um centro acadêmico.
O tempo passou e o naïf começou a ser visto com mais respeito por críticos de arte. A simplicidade, antes considerada negativa, agora é o maior atrativo. Virou símbolo da subjetividade e originalidade criativa.
“Você chega na frente de um quadro e vê exatamente o que o artista quer passar. Não precisa entender de arte, não precisa ser um conhecedor. Simplesmente gosta ou não. É uma arte que você não aprende, ela vem de dentro para fora. Ela é espontânea. Não precisa seguir nenhuma tendência, nenhum modismo. Você tem que buscar a inspiração lá dentro de você mesmo, na imaginação, para ser um bom naïf”, afirma Jacqueline Finkelstein.
Há cada vez mais espaço em centros culturais e museus para o gênero. É o que atesta o especialista Jacques Ardies, autor do livro “A arte naïf no Brasil”, de 1998. Ele possui uma galeria em São Paulo com centenas de quadros e conta que houve um novo despertar de interesse pelas obras, principalmente dos críticos estrangeiros.
“No final do ano passado, consegui realizar a venda de uma obra do Chico da Silva, artista que hoje está sendo muito procurado. E eu tinha uma obra excepcional dele, grande, que estava comigo há uns 30 anos e foi comprada pela Tate Gallery, de Londres. Isso prova que até os museus lá de fora estão interessados e dão importância para a arte brasileira”, argumenta.
Jacques endossa a torcida para que o naïf tenha maior reconhecimento no Brasil, o que inclui a permanência da coleção do Mian.
“Eu acho essa arte essencial para o país, porque ela é extremamente brasileira. É muito original. Estamos falando de uma arte que expressa bem as nossas raízes. Por isso, deveria ser incentivada, apoiada e patrocinada”.