Escalada de violência na terra yanomami pressiona Ministério da Defesa
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - A recente escalada da violência na Terra Indígena Yanomami fez setores do governo federal se mobilizarem para cobrar do Ministério da Defesa mais apoio nas operações de desintrusão, ou seja, retirada de pessoas não originárias do território.
No final de semana, garimpeiros mataram um indígena a tiros e entraram em confronto com equipes de fiscalização -da PRF (Polícia Federal Rodoviária) e do Ibama (órgão ambiental), resultando em quatro mortes. Outros oito corpos foram encontrados em uma região de garimpo, como revelou a Folha de S.Paulo.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) mobilizou ministros para reagir à situação. Foram feitas reuniões com a presença de nomes como Marina Silva (Meio Ambiente), José Múcio (Defesa), Sonia Guajajara (Povos Indígenas), Rui Costa (Casa Civil) e Flávio Dino (Justiça).
Nesta quarta-feira (3), uma nova rodada de conversas acontecerá na Casa Civil. Nela, o Ministério dos Povos Indígenas deve apresentar proposta de uma minuta de decreto para permitir que a FAB (Força Aérea Brasileira) abata aeronaves ilegais que estejam voando sobre a Terra Indígena Yanomami.
Como mostrou a Folha de S.Paulo, o espaço aéreo se tornou a principal rota de suprimento do garimpo e do crime organizado no território.
No último sábado (29), um indígena foi morto e dois foram baleados por garimpeiros na região de Uxiú.
No domingo (30), em outro ponto do território, equipes da PRF e do Ibama foram recebidas a tiros quando chegavam em um garimpo para uma ação de repressão ao crime organizado. Quatro garimpeiros foram mortos pelos agentes de segurança e foi encontrada grande quantidade de armamento no local.
Na segunda (1º), mais oito corpos foram encontrados na região do Uxiú, desta vez de não indígenas, e a Polícia Federal enviou grupos de elite para o local.
A sequência marca o ponto mais agudo da operação de desintrusão do garimpo no território yanomami, que começou em janeiro, com o decreto de emergência sanitária após visita de Lula ao local registrar a grave situação de saúde da comunidade, que sofria com malária e desnutrição agudas.
A reportagem entrou em contato com o Ministério da Defesa e com a Força Aérea para saber se haveria novas medidas tomadas na região após os fatos recentes, mas não obteve resposta.
LIGAÇÃO DO GARIMPO COM TRÁFICO AUMENTA PERIGO
Na avaliação de envolvidos nas operações, sob reserva, o combate ao crime na região está em seu momento de maior perigo. Isso porque a maior parte dos garimpos que ainda sobrevivem na região são justamente os mais ligados ao tráfico, sobretudo ao PCC (Primeiro Comando da Capital), facção que tem por ali forte influência.
O entendimento é que uma ação mais efetiva dos militares é necessária para garantir a segurança não só dos povos indígenas que vivem na região -e que podem sofrer ataques de garimpeiros-, mas dos próprios agentes de segurança.
A reportagem conversou com pessoas que atuam em campo nas operações e também na gestão, sob condição de anonimato. Um dos principais problemas relatados quase com unanimidade é a falta de controle do espaço aéreo, que segue como rota de suprimento para os garimpos mesmo após a proibição completa de circulação de aeronaves sobre o território.
Indício disso seria o volume do arsenal encontrado no garimpo onde houve o confronto que terminou com quatro mortes, no último domingo. Foram 11 armas apreendidas, incluindo espingardas calibre 12 mm, um fuzil 762 e pistolas de uso restrito. Um dos que morreram era foragido da Justiça.
Para tentar aumentar o poder de ação dos militares será proposto um decreto para que a Força Aérea tenha autorização para abater aeronaves ilegais.
Atualmente, a FAB faz apenas o controle do espaço aéreo na região, mas não pode realizar abordagens no ar -precisa comunicar a Polícia Federal, que é autorizada a fazer uma autuação no solo.
A logística, dizem ainda pessoas envolvidas na operação, não tem sido efetiva.
Além disso, há receio, inclusive por parte de associações indígenas, de que os ataques sejam mais frequentes.
"Isso significa que pode ocorrer a qualquer momento mais uma tragédia naquela região", afirmou um grupo de entidades da região, na última segunda.