Relevância no exterior vira trunfo de Marina no embate interno sobre Petrobras no Amazonas

Por THIAGO RESENDE E MARIANNA HOLANDA

BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - Auxiliares e aliados do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) avaliam que a imagem ambiental do Brasil no exterior terá um peso relevante no embate interno do governo sobre exploração de petróleo na foz do rio Amazonas.

As demonstrações de alinhamento do discurso de Lula com a agenda da ministra Marina Silva (Meio Ambiente) também animam o entorno ambientalista do governo. No entanto, caberá ao presidente arbitrar no impasse que tem ganhado abrangência política.

De acordo com interlocutores palacianos, o chefe do Executivo deve bater o martelo quando chegar na próxima terça-feira (23) de sua viagem ao Japão, onde participa da reunião do G7. No encontro, sustentabilidade e meio ambiente serão dois temas centrais nas discussões dos países mais ricos.

Integrantes do governo temem que o caso arranhe a visibilidade internacional do governo, que tem se apresentado como alinhado às preocupações com as mudanças climáticas. Politicamente, essa é uma forma de se contrapor ao seu antecessor, Jair Bolsonaro (PL), criticado por uma gestão marcada pelo desmatamento e descaso com o meio ambiente.

O temor é ainda de que a repercussão de eventual autorização para a Petrobras no episódio possa afastar investimentos estrangeiros no país -gerando prejuízos econômicos.

No entanto, as consequências políticas do envolvimento de Lula na disputa também serão ponderadas, segundo aliados do presidente, principalmente diante do envolvimento de parlamentares influentes, como o senador Davi Alcolumbre (União-AP).

O líder do governo no Senado, Randolfe Rodrigues (AP), pediu desfiliação da Rede, partido da ministra Marina. Assim como Alcolumbre, ele é favorável à exploração de petróleo no estado.

Nesta quarta-feira (17), o presidente do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e de Recursos Naturais Renováveis), Rodrigo Agostinho, negou um pedido feito pela Petrobras para perfurar a bacia da foz do rio Amazonas com objetivo de explorar petróleo na região.

A decisão opôs os ministros Marina Silva e Alexandre Silveira (Minas e Energia), que é aliado do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG). Silveira quer insistir na liberação do projeto da Petrobras. A estatal diz que vai recorrer do ato do Ibama.

Na ausência de Lula, durante o G7, o ministro Rui Costa (Casa Civil) se encontrou com Marina nesta quinta (18). No encontro, ela detalhou os pontos pelo lado ambiental da disputa. Rui também deverá se reunir com Silveira e auxiliar Lula na mediação do impasse.

Marina e Silveira tiveram encontros separados com o presidente em exercício, Geraldo Alckmin (PSB), nesta sexta (19). Oficialmente, assessores dos ministros afirmam que as reuniões já estavam marcadas com antecedência e que não foram para tratar da questão da exploração de petróleo na foz do Amazonas.

Dois dias antes da decisão do Ibama de negar a licença para exploração de petróleo na foz do rio Amazonas, a ministra participou do seminário Desafios do governo Lula para ambiente e clima, realizado pela Folha de S.Paulo com apoio da Open Society Foundations, em que relembrou o episódio de Belo Monte.

A disputa em torno da construção da usina rachou o governo e foi um dos pontos que levou à saída da então ministra do Meio Ambiente.

"É inegável que tenha altíssimo impacto ambiental, simbólico e político", disse a ministra sobre a exploração na região. "E tudo será considerado do ponto de vista técnico."

Marina garantiu que o Ibama tem autonomia em processos de licenciamento e afirmou que nunca foi pressionada a conceder licenças por decisão política. "No caso de Belo Monte, durante minha gestão, [a licença] foi reencaminhada para estudos", disse.

O Ibama concedeu licença à construção da hidrelétrica apenas em fevereiro de 2010, quase dois anos depois de Marina deixar o segundo governo Lula. Sua posição contrária ao projeto foi, aliás, motivo de desgaste com o presidente e desencadeou sua saída da pasta à época.

No seminário desta segunda, a ministra ainda defendeu uma análise que considerasse o impacto do conjunto de empreendimentos na bacia hidrográfica -e não apenas em um local específico.