Baixa natalidade e alta migração explicam queda na população de Salvador, dizem especialistas
SALVADOR, BA (FOLHAPRESS) - Salvador perdeu mais de 257 mil habitantes ao longo de 12 anos. As informações são do Censo 2022, divulgadas nesta quarta (27) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
O aumento da migração, bem como a redução de nascimentos ao longo dos anos, são apontados por especialistas como fatores determinantes para a queda.
"Há indícios de que essa redução de Salvador tem a ver com a migração para cidades próximas", afirma Mariana Viveiros, coordenadora de divulgação do Censo.
A população da capital baiana caiu de 2.675.656 habitantes, em 2010, para 2.418.005, em 2022, queda de 9,6%. A redução é a maior de todo o país em números absolutos. Ao todo, foram nove capitais brasileiras com baixa na população.
Com o desenvolvimento de municípios próximos a Salvador, a percepção é de que a migração também passou a acontecer da capital para o interior, e não somente para fora da Bahia.
"Tem alguns polos regionais fora de Salvador, dentro do próprio estado, que já oferecem alternativas, opções de estudo e trabalho interessantes. Polos de ensino superior, principalmente, se desenvolveram bastante nessa última década", diz Viveiros.
É o caso das cidades de Camaçari, polo industrial a cerca de 50 km de Salvador, que cuja população cresceu, passando de 242.970 para 299.579 habitantes nos últimos 12 anos, e Lauro de Freitas, na região metropolitana de Salvador, que hoje tem 203.334 moradores, contra os 163.449 registrados em 2010.
"Tem a questão do custo de vida mais em conta, a busca de uma condição de vida melhor com um custo mais acessível", acrescenta a coordenadora.
A queda na taxa de natalidade também é vista como fator que contribuiu para os números do Censo 2022.
"A gente não tem um crescimento vegetativo importante em Salvador. As próprias pesquisas do IBGE mostram que Salvador vem ano a ano tendo menos nascimentos. Em 2021, a cidade teve o menor número de nascimentos em 46 anos da série histórica", diz.
Naquele ano foram foram registrados 28.545 nascimentos na capital baiana, 4% a menos que em 2020.
"Essa é uma tendência que não é só de Salvador, as famílias estão ficando menores", afirma a especialista. "Mudanças culturais e econômicas levam as mulheres a terem menos filhos. [É algo que] a gente percebe em cidades grandes e núcleos urbanos com populações mais educadas, com mulheres que já estão muito mais presentes no mercado de trabalho."
Mariana Viveiros afirma que, embora ainda seja cedo para dizer com precisão, a pandemia de Covid-19 e as mudanças que a crise impôs ao mercado de trabalho, com muita gente trabalhando em casa (home office), também pode ter contribuído para esse movimento.
"O trabalho remoto é um fenômeno novo. A gente ainda não tem como analisar, mas a gente também não pode fingir que não existiu", afirma. "Não sabemos o quanto isso é importante ou não, mas é um fator que se coloca nesta década, de a pessoa poder ir para outros lugares e trabalhar de lá."
IMPACTOS
De acordo com Rodrigo Cerqueira, coordenador de inovação e ciência de dados da Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (SEI), a tendência é que os dados de queda populacional em Salvador e de aumento do número de habitantes de cidades vizinhas levem os municípios a solicitar uma revisão da verba repassada a eles pelo FPM (Fundo de Participação dos Municípios).
"Agora, com os dados reais, a gente vai ter uma noção um pouco maior das consequências desse novo arranjo populacional no estado", disse Cerqueira.
Nesta quarta (28), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sancionou um projeto de lei complementar que estabelece um regime de transição de dez anos para amenizar as perdas com repasses do FPM dos municípios que perderam população.
As cidades recebem repasses do FPM segundo o tamanho de sua população e a renda per capita do estado ao qual pertence. Para isso há o cálculo de um coeficiente que determina a participação do município no montante do fundo.
Com a divulgação do Censo 2022, haverá mudança no coeficiente de municípios que tiveram redução populacional, perdendo espaço nesses repasses. A lei aprovada busca amenizar o impacto dessa perda de receita, estabelecendo um escalonamento de dez anos para essa mudança de coeficiente para os municípios que migrarem para uma faixa abaixo no FPM.