Grupo LGBT+ deixa Igreja da Lagoinha após declaração intolerante de André Valadão
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O Movimento Cores, grupo evangélico que acolhe membros da comunidade LGBTQIA+, decidiu nesta segunda-feira (10) deixar a Igreja Batista da Lagoinha, liderada por André Valadão. No início deste mês, o pastor insinuou ser desejo divino a morte de pessoas não heteronormativas. Integrantes do Cores, porém, não disseram se a declaração foi a causa da debandada tampouco revelaram o motivo da saída.
Ainda na segunda, em sua página no Twitter, Valadão afirmou nunca ter incitado fiéis a avançar contra qualquer pessoa.
"Não fiz nada além do que repetir o que está escrito na Bíblia. [...] quis lembrar das consequências que o pecado pode ter sobre todos nós. Cabe a nós cuidarmos para que nossos filhos não caiam em armadilhas que os distanciem de Deus", declarou o pastor.
Encontros do grupo ocorriam em um núcleo belo-horizontino da Lagoinha nas noites de segunda e de quarta-feira. Ainda não há confirmação sobre o novo espaço a ser utilizado. As reuniões eram registradas por meio de vídeos e fotos nas redes sociais, mas nunca replicadas pela igreja, que só no Instagram tem milhões de seguidores.
A Igreja da Lagoinha disse sempre ter atendido integrantes da população LGBT+. "Foram milhares de pessoas assistidas num trabalho realizado muito antes da existência do Movimento Cores e que continuará contemplando a todos que buscam a palavra de Cristo. É um trabalho que contempla alimentação, habitação e cuidados de saúde a populações marginalizadas", declarou a igreja em nota.
Fundado em 2014, o Movimento Cores, assim denominado em referência à bandeira do arco-íris, é comandado pela missionária Priscila Coelho. Filha de pastor, ela é lésbica, mas optou pelo celibato. A prática é incentiva no grupo. Entre os membros, o termo ex-gay causa repulsa, sendo preferido ex-praticante.
Priscila tem estreita relação com Márcio Valadão, pai de André e presidente aposentado da Lagoinha. Foi Márcio o responsável pela inserção do Cores no domo batista. Nas redes sociais, após anúncio do rompimento da união de cristãos LGBTs com a igreja, o homem desejou que sua pupila "continue sendo testemunha do que Jesus pode fazer em qualquer pessoa".
Ministério Público investiga André Valadão
Na filial da Igreja Batista Lagoinha em Orlando, nos Estados Unidos, André Valadão realizava um de seus inflamados sermões. Declarou ser preciso "resetar" pessoas LGBTQIA+ e que, se Deus pudesse, "matava tudo e começava tudo de novo". O grupo teria ido longe demais, sendo missão cristã detê-lo, continuou. Era domingo, 2 de julho. A cerimônia tinha transmissão online.
A truculência de Valadão irritou até os alinhados a seu discurso. O pastor batista Yago Martins chegou a gravar um vídeo afirmando que o colega dava "munição para a esquerda persecutória" ao soltar "uma frase idiota onde dá a entender que devemos matar gays".
No dia seguinte à declaração, o Ministério Público de Minas Gerais abriu inquérito contra o autor para apurar se ele cometeu crime de homotransfobia. O órgão atendeu a uma apresentação protocolada pela deputada federal Erika Hilton (PSOL-SP).
Além de Erika Hilton, o ativista Agripino Magalhães Júnior apresentou denúncia crime ao Ministério Público de São Paulo.