'Não puderam socorrer, porque ele estava socando o rosto da médica', diz filha de idosa morta em hospital no Rio
RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) - A Polícia Civil do Rio de Janeiro investiga se Arlene Marques da Silva, 82, morreu por falta de atendimento durante uma confusão causada por outro paciente no Hospital Municipal Francisco da Silva Telles, em Irajá, na zona oeste da cidade. A idosa estava internada na sala vermelha da unidade de saúde, quando André Luiz do Nascimento Soares, 48, e Samara Kiffini do Nascimento Soares, 23, entraram no local e agrediram a única médica plantonista presente no hospital.
O caso aconteceu na madrugada de domingo (16). Logo depois da agressão à médica Sandra Bouyer, que foi gravada, Arlene acabou morrendo. Por causa disso, André e Samara foram presos sob suspeita de agressão, dano ao patrimônio público e homicídio com dolo eventual -quando o autor assume o risco de matar, mesmo que não tenha essa intenção.
A defesa dos dois, que são pai e filha, afirmou que a investigação ainda está em fase inicial e que está apurando o fato. O advogado Cláudio Rodrigues disse que tem convicção de que a responsabilidade pela morte de Arlene é do poder público e afirma que a imputação de homicídio é desproporcional e equivocada.
Já a filha de Arlene, Elaine Marques, conta que sua mãe passou mal no momento em que os dois agrediram a médica. A idosa estava internada no hospital havia duas semanas, após ter sofrido um infarto.
"Quando a minha mãe viu [a confusão], ficou passando mal na cama, mas não puderam socorrer, porque ele estava socando o rosto da enfermeira [médica] na hora", disse Elaine à jornalistas na porta do IML (Instituto Médico Legal).
Segundo a filha, Arlene deveria receber alta na próxima semana.
"A minha mãe estava se recuperando, eu tenho certeza que foi um susto que ela teve. Eu só quero justiça", disse Elaine. "Ela estava já bem, a doutora falou que talvez semana que vem ia dar alta pra ela."
De acordo com a polícia, André e Samara começaram a depredar o hospital após ficarem incomodados pela demora no atendimento. O pai estava com um corte na mão esquerda e foi até o hospital para fazer um atendimento.
Funcionários da triagem pediram, então, que ele aguardasse, pois havia pacientes graves. Segundo a defesa de André, a demora no atendimento se deu porque só tinha uma médica plantonista fazendo o atendimento na hora.
Ainda segundo relatos das testemunhas, André e Samara quebraram o vidro de duas portas e duas janelas e, em seguida, entraram na sala vermelha, onde estavam os pacientes em estado grave. O homem teria também afirmado que estava armado.
André teria dado um soco na médica que prestava assistência aos pacientes nessa sala. Sandra sofreu um corte na boca e recebeu cinco pontos no ferimento. Em sua rede social, ela escreveu sobre o caso.
"Agredida fisicamente por um homem que não soube ouvir 'não' e sua filha completamente alterados, enquanto eles e outros destruíram portas, cadeiras e ameaçavam pacientes e toda a equipe", disse Sandra, que continuou: "Resultado 5 pontos na boca, equimose, arranhões, polícia, delegacia, IML".
A idosa, que também estava na sala, sofreu parada cardiorrespiratória às 4h. Uma equipe médica tentou reverter o quadro, mas seu óbito foi constatado às 4h30.
Procurada, a Secretaria Municipal de Saúde disse que conta com dois médicos nos plantões noturnos, mas que na ocasião um dos servidores escalados teve um problema de saúde e não pôde comparecer ao trabalho. A pasta informou ainda que já contratou três novos médicos para a unidade.
FAMÍLIA PROTESTA CONTRA PRISÃO
Na tarde desta segunda-feira (17), familiares de André e Samara protestaram em frente ao presídio de Benfica, na zona norte do Rio, onde o pai e a filha estão presos. Eles são contrários à suspeita de homicídio com dolo eventual e afirmam que a culpa pela morte de Arlene é da Secretaria Municipal de Saúde.
"Homicídio, não. A minha esposa e o André não podem pagar por uma negligência do Estado. O delegado está acusando, não está reunindo provas", disse o marido de Samara, Willian Robert.
O delegado responsável pelo caso, Reginaldo Guilherme, afirmou à Folha que vai manter a autuação de André e Samara como homicídio com dolo eventual.