Rio: 48% de crianças baleadas foram atingidas em ações policiais

Por Agência Brasil

Bala de arma

 

Nos últimos sete anos, 601 jovens foram vítimas de tiroteios no Grande Rio. Desse total, 267 foram mortos e 334 feridos, sendo 78% adolescentes. Os dados fazem parte da plataforma Futuro Exterminado, lançada hoje (11) pelo Instituto Fogo Cruzado, com o objetivo de chamar a atenção para a violência armada no cenário urbano que atinge muitas crianças e adolescentes.

A diretora executiva do Instituto Fogo Cruzado, Cecíllia Olliveira, disse que uma em cada três crianças ou adolescentes foi vítima de bala perdida. Do total, 48% foram atingidos durante ações policiais. “É inacreditável esses números existirem e não termos nenhuma política de segurança que funcione como resposta a eles. Parece que ninguém se importa”, complementa Olliveira.

Ao documentar a trajetória de cada vida perdida, a plataforma pretende oferecer dados em constante atualização, compartilhando em detalhes o perfil de cada vítima e a dimensão humana por trás das estatísticas. A diretora destaca que a iniciativa pretende humanizar esses jovens e sensibilizar a sociedade para a urgência de um diálogo efetivo sobre a violência armada e suas consequências.

“A história do Rio de Janeiro é marcada por crianças e adolescentes mortos e feridos. A gente sabe que não são casos isolados. Ágatha Félix, Maria Eduarda, João Pedro, Kauã, Alice, Emilly e Rebecca. Todo mundo lembra de um destes nomes", afirma Cecília.

Segundo ela, os dados precisam ser levados em conta para o planejamento da segurança pública, para que as histórias não se percam. “Nosso esforço é também de memória, porque sem ela a sociedade não se mobiliza. Em nenhum lugar do mundo tantas crianças são baleadas sem que a sociedade se indigne. Aqui não pode ser diferente. As pessoas precisam se importar.”

Nessa semana, a Cidade de Deus, comunidade da zona oeste do Rio de Janeiro, passou novamente por essa situação, com a morte do menino Thiago Menezes Flausino, de 13 anos, que levou dois tiros de policiais quando andava de moto com um amigo.

Polícia

Em nota, a Secretaria de Estado de Polícia Militar (SEPM) declarou que as ações da corporação são pautadas por informações de inteligência e planejamento prévio, tendo como preocupação central a preservação de vidas e o cumprimento da legislação em vigor e que tem investido em equipamentos para que as ações policiais sejam cada vez mais técnicas e seguras.

A PM declarou também que, de acordo com o Instituto de Segurança Pública (ISP), houve queda de 12,3% no número de mortes por intervenção de agentes do Estado, em um comparativo entre os meses de janeiro e junho de 2023 e o mesmo período de 2022.

Também em nota, a Secretaria de Estado de Polícia Civil (Sepol) disse à Agência Brasil que atua com base na inteligência, investigação e ação, bem como nos dados oficiais do Instituto de Segurança Pública (ISP). A instituição declarou que desconhece a metodologia utilizada para a confecção do relatório citado. 

A Sepol acrescentou, ainda, que a atuação em comunidades é parte das ações de combate à criminalidade e se trata de um trabalho fundamental.

 

*Estagiário sob supervisão de Akemi Nitahara