Comandante de batalhão é afastado após morte de menores no Rio

Por NICOLA PAMPLONA

RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) - A Secretaria de Polícia Militar do Rio de Janeiro decidiu afastar o comandando do batalhão da Ilha do Governador, bairro onde um adolescente de 17 anos e uma menina de cinco anos morreram por disparos de armas de fogo na manhã deste sábado (12).

Em nota, a corporação disse que a decisão tem o objetivo de "dar uma maior lisura e transparência à averiguação dos fatos referentes às ações ocorridas na manhã deste sábado". O tenente-coronel Fábio Cardoso havia assumido o posto em janeiro.

Pela manhã, equipes do batalhão faziam patrulhamento no bairro, quando tentaram abordar dois homens em uma motocicleta. De acordo com informações da PM, o ocupante de carona da moto carregava uma pistola e teria disparado contra os policiais, que teriam revidado.

Baleado na ação, o adolescente de 17 anos foi socorrido pelo Corpo de Bombeiros encaminhado em estado grave para o Hospital Municipal Evandro Freire, aonde já chegou morto. O condutor da moto foi detido e levado para a delegacia.

Após a morte na ação policial, moradores da comunidade do Dendê protestaram e queimaram ao menos três ônibus. Durante os protestos, Eloá Passos, 5, foi atingida em casa enquanto brincava na cama.

Foi a sétima criança morta por disparo de arma de fogo no estado este ano, segundo a plataforma Fogo Cruzado. Ao todo, 16 crianças menores de 14 anos foram baleados no período, 12 deles vítimas de bala perdida.

A PM disse que não houve operação policial no interior da comunidade e que instaurou um procedimento para averiguar as circunstâncias das ações. Os casos estão sendo investigados por equipes da Polícia Civil.

As mortes provocaram forte reação. "Impressiona que tantas crianças sejam vítimas da violência armada e ainda não haja um esforço nas esferas municipal, estadual e federal para interromper essa tragédia", disse a Fogo Cruzado, em parceria com o jornal A Voz das Comunidades.

"O futuro da metrópole está sendo exterminado", concluíram.

"A nossa casa deveria ser o local mais seguro para estarmos, mas não para Eloá, de 5 anos", escreveu a ONG Rio de Paz. "Ela foi morta em seu quarto, por bala perdida, na manhã deste sábado".

Procurado pela reportagem, o governo estadual ainda não respondeu a pedido de entrevista sobre o assunto. Em nota, informou que "vem investindo fortemente nas forças de segurança, principalmente em tecnologia e treinamento".

"Na atual gestão, houve redução histórica dos crimes contra a vida. No acumulado de 2022 foram registrados os menores números de homicídios dolosos (intencionais) e de letalidade violenta em 31 anos, desde o início da série histórica do Instituto de Segurança Pública", concluiu.