10,1% dos homens afirmam dirigir após beber; entre mulheres, taxa é de 2,2%

Por STEFHANIE PIOVEZAN

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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Cerca de 10% dos homens afirmam dirigir após o consumo de bebidas alcoólicas, enquanto entre as mulheres a taxa é de pouco mais de 2%, revela a edição deste ano da pesquisa Vigitel (Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico), do Ministério da Saúde.

O estudo reúne as respostas de 21.690 adultos das 26 capitais e do Distrito Federal, entrevistados sobre consumo de álcool, tabagismo, obesidade, alimentação, atividade física, percepção da própria saúde e realização de exames.

No conjunto das 27 localidades, 5,9% dos indivíduos afirmaram conduzir veículo motorizado após ingerir bebida alcoólica. Em algumas cidades, porém, as taxas foram maiores. Em Palmas, por exemplo, a combinação álcool e direção foi mencionada por 16% dos participantes, chegando a 24,5% entre os homens e a 8,5% entre as mulheres.

Para o presidente da Abramet (Associação Brasileira de Medicina de Tráfego), Antonio Meira Júnior, as diferenças regionais podem estar relacionadas aos padrões de fiscalização em cada local --a cada hora, cerca de oito motoristas são autuados no Brasil por terem ingerido bebida alcoólica ou substâncias psicoativas antes de dirigir.

Já a variação entre condutores e condutoras envolve educação e senso de proteção. "Os estudos têm demonstrado que as mulheres são mais prudentes no trânsito", diz.

As maiores frequências entre homens foram observadas em Palmas, Teresina (23,2%) e Boa Vista (20%), e as menores ocorreram em Recife (3,6%), Natal (4,2%) e Porto Alegre (4,4%). Entre mulheres, as maiores frequências foram registradas em Palmas, Cuiabá (7,2%) e Boa Vista (5%), e as menores em Recife (0,2%), Maceió (0,3%) e Natal (0,8%).

 

Cidades com as maiores taxas de motoristas que afirmam ingerir bebida alcoólica

Localidade - Total - Homens - Mulheres

Palmas - 16% - 24,5% - 8,5%

Teresina - 12,9% - 23,2% - 4,4%

Boa Vista - 12,2% - 20% - 5%

Campo Grande - 9,4% - 16,1% - 3,5%

Florianópolis - 9,4% - 9,9% - 4,7%

Brasil - 5,9% - 10,1% - 2,2%

Fonte: Vigitel - Ministério da Saúde

 

O médico também explica por que a pesquisa considera qualquer quantidade de álcool na análise sobre direção, diferentemente das questões sobre consumo abusivo, que especificam o número de doses. Como cada indivíduo tem peso, altura e hábitos próprios, a bebida tem impactos variados e não há como estabelecer uma quantidade padrão que não cause prejuízos ao volante. Cada um fica alterado com concentrações diferentes. "O único padrão seguro é o zero", defende.

Para dimensionar o problema, Meira destaca que o risco de envolvimento em um acidente fatal para condutores que ingerem uma ou duas doses -cada dose equivale a uma lata de cerveja, uma taça de vinho ou meio copo de uísque- chega a ser 4,6 vezes maior do que para motoristas sóbrios.

O consumo de álcool reduz a capacidade de percepção da velocidade e dos obstáculos. "O álcool diminui a visão periférica, é como se a pessoa não tivesse os retrovisores no carro", acrescenta.

Outro impacto da bebida é a diminuição da autocrítica. "O condutor faz o que não deve ao volante. Há a euforia, a empolgação e ele acaba abusando da velocidade e do limite, negligenciando os riscos", afirma o médico.

"Tem gente que chega ao ponto de falar: 'Quando eu bebo, eu dirijo melhor'. É o contrário. Você perde a autocrítica", ressalta.

Uma dica de Meira para evitar essas situações é: se houver dúvida sobre beber, não dirija. A decisão de não consumir álcool deve ser tomada antes de sair da garagem de casa porque, chegando ao bar, à festa ou à reunião com os amigos, haverá a empolgação, o incentivo de terceiros e ninguém sóbrio para levar seu carro de volta.

"As tragédias no trânsito envolvendo álcool não são acidentais. Elas poderiam ter sido evitadas", finaliza Meira.