Governo Lula instala barras de ferro em vão de celas de Mossoró e planeja construir muralha

Por RAQUEL LOPES

MOSSORÓ, RN (FOLHAPRESS) - O governo federal começou a instalar três barras de ferro na parte interna onde ficam as luminárias em todas as celas e vivências do presídio federal de Mossoró, no Rio Grande do Norte, para reforçar a segurança. Foi por meio dessas aberturas que dois detentos conseguiram fugir este mês.

Além disso, foi dada autorização para a instalação de grades no chamado shaft, espaço voltado à manutenção do presídio que fica ao lado das celas e que foi acessado pelos fugitivos. A intenção também é começar a construção da muralha no presídio de Mossoró ainda no primeiro semestre.

De acordo com o ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, algumas câmeras não estavam funcionando adequadamente, assim como lâmpadas que poderiam ter ajudado na detecção da fuga.

Os investigadores identificaram que os dois fugitivos usaram uma barra de ferro, retirada da estrutura da própria cela, para escavar um buraco no vão da luminária. Com a abertura do espaço, os presos conseguiram escapar.

Os detentos teriam conseguido a barra de ferro, de cerca de 50 centímetros, descascando parte da cela que já estava comprometida, devido a infiltração e falta de manutenção.

Com o buraco na luminária, os dois chegaram ao local da manutenção do presídio, onde estão máquinas, tubulações e toda a fiação ?o shaft.

De lá, a dupla conseguiu alcançar o teto do prédio. Também não havia nenhuma laje de concreto ou sistema de proteção.

Os fugitivos encontraram ferramentas que estavam sendo usadas numa obra do presídio. Com um alicate para cortar arame, conseguiram passar pela grade que impedia o acesso ao lado externo do presídio.

Os fugitivos foram identificados como Rogério da Silva Mendonça, 36, conhecido como Tatu, e Deibson Cabral Nascimento, 34, chamado de Deisinho. Segundo as investigações, eles são ligados ao Comando Vermelho (CV).

Os dois detentos haviam sido transferidos do Acre para o presídio em Mossoró, cidade localizada a 281 quilômetros de Natal (RN), após uma rebelião que deixou cinco pessoas mortas em julho do ano passado.

De acordo com o governo acreano, Tatu e Deisinho estavam entre os 14 presos transferidos para o sistema federal em setembro passado suspeitos de liderarem a matança. Eles cumpriam penas de 74 anos e 81 anos, respectivamente, no presídio de segurança máxima Antônio Amaro, destinado a abrigar chefes do crimes.

Os dois presos estavam em RDD (Regime Disciplinar Diferenciado), por meio do qual as regras são mais rígidas do que as do regime fechado.

Ainda não há informações se houve ajuda de agentes penitenciários, de outros funcionários ou pessoas de fora na fuga. As duas hipóteses estão sendo investigadas, mas já há consenso de que houve falha na inspeção.

A busca pelos detentos chegou ao oitavo dia nesta quarta-feira (21). Policiais que trabalham na procura pelos têm enfrentado diferentes desafios, como buscas em cavernas e matas, presença de animais peçonhentos e chuvas frequentes.

Segundo agentes que atuam na área operacional, as buscas continuam em um raio de 15 km, com o empenho integrado de todas as forças de segurança federais e estaduais. Nas áreas de rodovia que dão acesso a divisas, há barreiras em pontos mais distantes.

Os policiais afirmam usar fiscalização, inteligência e equipamentos. Helicópteros também estão sobrevoando a região.

Novos policiais têm chegado quase todos os dias à região. Já são cerca de 500 envolvidos, segundo o ministro da Justiça. A Polícia Militar de Pernambuco, por meio da Ciosac (Companhia de Operações e Sobrevivência na Área de Caatinga), por exemplo, começou a operar no domingo (18).

Nesta segunda (19), o ministro autorizou o emprego de mais 100 homens, da Força Nacional, nas buscas. O novo efetivo embarca na tarde desta terça-feira (20) para Mossoró.

A Folha de S.Paulo acompanhou na noite de sábado (17) e na madrugada de domingo (18) parte das buscas aos dois fugitivos da penitenciária federal de segurança máxima.

Ao longo de aproximadamente três horas, a equipe percorreu rodovias e áreas rurais. Além dos policiais nas vias, um helicóptero da polícia sobrevoou constantemente a região.