Relembre operações letais da Polícia Militar de São Paulo
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A morte de um jovem de 24 anos que estava internado desde terça-feira (27) no pronto-socorro do Hospital do Vicentino, em São Vicente, elevou para 39 o número de vítimas fatais de agentes da Polícia Militar na Baixada Santista desde o início de fevereiro.
Nomeada de Verão, a operação foi iniciada após a morte do soldado da Rota Samuel Wesley Cosmo, 35, no dia 2 de fevereiro.
Com esses 39 óbitos, a Verão já é a segunda operação mais letal da PM paulista, ficando atrás apenas do Massacre do Carandiru, em 1992, quando 111 presos foram mortos. O número é superior ao de 40 dias da Operação Escudo, realizada na mesma região entre 28 de julho a 5 de setembro passados, quando 28 pessoas morreram.
Segundo Gustavo Scandelari, doutor em direito e especialista em Direito Penal e Criminologia pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), essas operações mais recentes permitem comparação entre o número de mortes, por ser alto, mas ele destaca que cada uma tem características únicas que as diferencia.
"A dinâmica da ação policial é que permite fazer a diferença entre as operações", diz Scandelari.
Em relação às denúncias de abuso e violência policial nas ações, feitas por familiares das vítimas e testemunhas, Scandelari afirma que, no julgamento, a palavra do policial tem mais peso que a do cidadão.
"A jurisprudência mostra que a palavra do policial tem mais peso. Assim, na questão das provas é que as operações tendem a se distanciar. Se tem um vídeo, foto ou o número de testemunhas contra os policiais é muito grande, isso muda de figura", diz o especialista, dando também a solução para o problema.
"A questão da grande letalidade poderia ser adequadamente combatida pelo uso de câmeras corporais. Deveria ter uma lei federal obrigando o uso desse equipamento. Claro que tem muita coisa envolvida, como o custo, mas ajudaria a resolver o problema."
Relembre algumas operações letais da PM paulista.
MASSACRE DO CARANDIRU (1992) - 111 MORTES
O episódio que ficou conhecido como massacre do Carandiru deixou 111 detentos mortos após intervenção policial na Casa de Detenção, onde ocorria uma rebelião de presos. 74 policiais militares foram condenados pelo assassinato de 77 pessoas com armas de fogo - a Promotoria excluiu 34 vítimas por suspeita de que tenham sido atacadas pelos presos.
OPERAÇÃO ESCUDO (2023) - 28 MORTES
A operação foi desencadeada em 28 de julho, dia seguinte à morte do soldado Patrick Bastos Reis, da Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar). O PM foi baleado durante patrulhamento na Vila Zilda, em Guarujá. Ao longo da ação, que foi encerrada em 5 de setembro, 28 pessoas foram mortas, o que a tornou a mais letal da polícia paulista desde o massacre do Carandiru.
OPERAÇÃO CASTELINHO (2002) - 12 MORTES
Ocorrida na região de Sorocaba, a operação Castelinho (nome como é conhecida a rodovia Senador José Ermírio de Moraes) deixou 12 mortos, supostamente membros do PCC (Primeiro Comando da Capital) que estariam se organizando para efetuar um roubo. Investigações da Promotoria comprovaram que a ação foi forjada por agentes estatais, que armaram emboscada para executar os suspeitos. Uma perícia realizada na época indicou que as vítimas não trocaram tiros com a polícia. Anos depois, a Justiça absolveu 53 PMs envolvidos na operação.
GUARAREMA (2019) - 11 MORTES
Depois de tentar roubar dois bancos em Guararema, na Grande São Paulo, uma quadrilha foi confrontada por policiais da Rota e 11 suspeitos foram mortos. Na época, agentes disseram ter agido em legítima defesa, mas relatório da Ouvidoria das Polícias apontou para indícios de excessos em ao menos 4 mortes.
CARAGUATATUBA (2014) - 10 MORTES
Em quatro dias de perseguição, policiais mataram dez suspeitos de participar de um assalto em um shopping de Caraguatatuba, no litoral.
VÁRZEA PAULISTA (2012) - 9 MORTES
Policiais militares da Rota mataram nove suspeitos em ação na cidade de Várzea Paulista, no interior do estado. Cerca de 40 agentes se envolveram em perseguição e troca de tiros com grupo suspeito de integrar tribunal do crime. Nenhum policial se feriu na ocasião.