Polícia apura se morte de advogado no Rio está ligada a envolvimento com apostas online

Por BRUNA FANTTI

RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) - A Polícia Civil apura se a morte de Rodrigo Crespo, assassinado a tiros no último dia 26 no centro do Rio de Janeiro, está ligada a um plano dele de se envolver com cassinos onlines. Em depoimento, a namorada da vítima afirmou que ele queria abrir negócios no ramo de apostas e procurava por um "operador".

Crespo foi morto na porta da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil). No crime, foram efetuados 18 disparos, segundo a perícia.

A polícia procura, nesta segunda (4), dois suspeitos de envolvimento no homicídio: o policial militar Leandro Machado da Silva e o segurança da escola de samba Portela, Eduardo Sobreira Moraes.

A PM afirma que apoia a operação e já investiga o agente por outro homicídio. A reportagem não encontrou a defesa de Moraes. Em depoimento, um familiar afirmou que ele saiu de casa durante um churrasco no final de semana e não retornou. Ambos são considerados foragidos.

No depoimento, a namorada de Crespo, afirmou que ele "estaria arrecadando fundos para abrir um novo negócio, mas que faltava encontrar o operador; que Rodrigo estava começando a advogar para clientes vinculados com jogos de cassino online".

Ela também afirmou que o advogado já havia encontrado pessoas para investir financeiramente no novo negócio e que havia viajado para São Paulo algumas vezes para tratar de assuntos relacionados a cassinos.

A suspeita da motivação é reforçada pelo fato de o policial militar suspeito de envolvimento no crime alugar carros em uma concessionária da zona oeste para Vinícius Drumond, filho do contraventor Luizinho Drumond. O "capo do bicho", como a polícia o qualifica no inquérito, morreu em 2020.

Um dos carros utilizados pelo policial para o crime foi alugado nessa condição, afirmou o gerente da locadora em depoimento. A Folha de S.Paulo procurou Vinícius, que disse que se manifestaria por intermédio de sua defesa.

Seu advogado, Carlos Lube, afirmou, em nota, que seu cliente "nunca, jamais, em tempo algum manteve vínculo, seja profissional ou pessoal, e sequer conhece o policial militar Leandro Machado da Silva, razão pela qual é falsa a alegação de que essa pessoa seria seu chefe de segurança".

Na mesma nota, afirma que seu cliente não "consegue vislumbrar qualquer possível ligação com advogado Rodrigo Crespo" e "rechaça veementemente qualquer suposição de possível ligação com o brutal assassinato".

Nas notas fiscais dos carros alugados pelo policial, há diversas menções ao jogo do bicho, como apontamentos dos aluguéis realizados para "segurança caxias", "zoológico" e "Vinícius zoológico".

De acordo com o depoimento do gerente da locadora, foi o próprio Vinícius quem apresentou o policial a ele. Além disso, os carros seriam alugados para o recolhimento dos lucros do jogo do bicho em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense.

"Foi constatado uma ligação muito próxima entre o Vinícius Drumond e os envolvidos na execução. E também o Vinícius durante as diligências ligava insistentemente para algumas pessoas ligadas à locadora, então havia indícios no entendimento das autoridades que conduziram o inquérito policial de que ele poderia estar de alguma forma envolvido com aquelas pessoas no período da execução", afirmou o delegado Rômulo Assis, da Delegacia de Homicídios.

Com as novas informações, a polícia afirma ter descartado a ligação da atividade advocatícia da vítima com o motivo para o crime.

A polícia solicitou busca e apreensão em dois imóveis de Vinícius, um localizado em Botafogo, na zona sul, outro na Barra da Tijuca, na zona oeste, mas a Justiça indeferiu o pedido.

Também foram realizadas buscas em endereços ligados ao policial foragido e ao segurança da Portela, que teria vigiado a vítima por, pelo menos, três dias.

Imagens de câmeras de segurança flagraram, de acordo com a polícia, Moraes na rua onde o advogado Rodrigo Crespo morava, na Lagoa, zona sul do Rio. De acordo com a investigação, Moraes, de blusa preta, aparece atravessando a rua e entrando em um Gol branco. A ação ocorre no mesmo momento em que Crespo entra em um carro de aplicativo, para ir ao trabalho, por volta das 9h da manhã do dia do crime.

O advogado, segundo a namorada, enfrentava problemas financeiros e teria vendido seu carro para pagar contas.

A polícia continua as investigações para identificar mais envolvidos no caso.