Vereadores de SP adiam decisão sobre CPI contra padre Júlio Lancellotti por causa da Semana Santa
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O presidente da Câmara Municipal de São Paulo, Milton Leite (União Brasil), evitou pautar o pedido de abertura de uma CPI que mira o padre Júlio Lancellotti durante a Semana Santa.
Autor do pedido de CPI, o vereador Rubinho Nunes (União Brasil) diz ter reunido 25 assinaturas favoráveis à instalação da comissão. Para o requerimento ser aprovado no Plenário, é preciso do voto de 28 vereadores, isto é, a maioria absoluta entre os 55 vereadores.
O tema, no entanto, poderá ser pautado depois do feriado de Páscoa.
"Com relação a [discussão sobre abertura de] CPI em se tratando de Semana Santa, não gostaríamos de tratar nesta semana. Nesta Semana Santa, não trataremos", disse Leite, na abertura do colégio de líderes nesta terça. É nesta reunião onde os líderes de partidos decidem a pauta dos trabalhos.
Mesmo com o assunto fora da pauta, o vereador Hélio Rodrigues (PT) se referiu a Rubinho no Plenário, nesta terça, como o vereador Rubinho "que quer fazer uma igreja contra o padre Júlio, contra a Igreja Católica, contra a liberdade religiosa". Leite interrompeu o petista.
"Hélio, nós prometemos que, nesta semana, não faremos debate deste tema, Hélio", avisou o presidente do Legislativo paulistano.
A atual legislatura, iniciada em 2021, reúne 47 pedidos de abertura de CPI. O requerimento que mira o religioso é o último nesta lista, mas tem sido tratado como prioritário e conta com a articulação do presidente da Câmara.
Rubinho afirma que o objetivo da CPI é "apurar a dignidade da pessoa humana, em especial crimes contra a liberdade sexual, assédio moral, sexual, psicológico e abusos congêneres cometidos contra pessoas em situação de rua, vulnerabilidade e drogadição no município de São Paulo".
O vereador vem dizendo que há provas contundentes contra o religioso. Lancellotti sempre negou as acusações.
O religioso é responsável pela paróquia São Miguel Arcanjo, na Mooca (zona leste) e coordenador da Pastoral do Povo da Rua. A atuação do padre divide a população.
Parte da vizinhança atribui ao pároco responsabilidade pela presença de dependentes químicos, furtos, sujeira e desvalorização de imóveis comuns às cenas abertas de uso de crack.
Ao propor uma CPI no começo deste ano, Rubinho afirmou que o objetivo era o de apurar a conduta das ONGs que atuam na região da cracolândia, no centro da capital. Após acordo com líderes partidário, Rubinho mudou o escopo do requerimento e passou a mirar, de forma direta, o religioso.
O texto foi reeditado para que a comissão tenha segurança jurídica para investigar supostos crimes sexuais praticados por quem atua com pessoas vulneráveis, disse Rubinho.
O padre sempre rebateu as acusações e disse, em nota, que "as imputações surgidas recentemente -assim como aquelas que sobrevieram no passado- são completamente falsas, inverídicas" e que ele tem "plena fé que as apurações conduzidas pela Arquidiocese esclarecerão a verdade dos fatos".