P?gina Principal
Pr?ximos no cora??o
Morando em um abrigo, pais sentem saudades dos filhos e n?o esquecem os bons
momentos que viveram com eles em outras ?pocas
Rep?rter
julho/2006
O abrigo ? uma pequena cidade. Com casinhas, uma pracinha, rua bem cuidada, capela e muitos senhores e senhoras caminhando para l? e para c?. Tem cara de cidadezinha, como a antiga Carangola onde o senhor Irany Alvino Pereira viveu boa parte da sua vida. Nascido em Lima Duarte, ele nunca gostou de cidade grande. Hoje com 70 anos, recusa-se a sair do abrigo para morar com os filhos. Mas sente saudade.
O filho fica na lembran?a, mas n?o s? na lembran?a. Vai sempre visitar. "Quando pode", diz o senhor Irany. Afinal, trabalham, possuem uma vida. O "de vez em quando" do senhor, ? de 8 a 15 dias. Mas eles sempre v?m. E ser? assim tamb?m no Dia dos Pais.
Divorciado h? 20 anos, Irany tem tr?s filhos. S? dois ? que ele consegue ver: Sidnei e Adriano. O outro, Vanderlei, est? em S?o Paulo e ?s vezes ? at? dif?cil ter not?cia dele. Vez ou outra ele consegue conversar com o filho longe, mas gosta mesmo ? da presen?a dos que est?o perto. Esses dois viram o pai sair de casa cedo. Um com 10, outro com 11 anos. Antes disso, senhor Irany trabalhava em um curral e fazia carrinhos e casinhas de madeira para eles brincarem. O senhor pode ter esquecido de muita coisa, mas dessa fase ? realmente dif?cil n?o se lembrar. L?, na cidade pequena, do jeitinho que ele gosta, com os filhos do lado, sendo exemplo e companhia para os filhos pequenos, ele era feliz.
Se n?o ? poss?vel mais voltar para a cidadezinha. Se n?o d? para voltar no tempo. Se as m?os j? n?o s?o t?o h?beis para fazer as casinhas e carrinhos. Pelo menos o mais importante daquela ?poca o senhor Irany quer de volta. ? o seu pedido para o Dia dos Pais.
"Desejo muitos anos de felicidade para mim e para eles tamb?m".
Mais quem um nome
Antes de um derrame que lhe paralisou metade do corpo, o senhor Gil trabalhava como sapateiro em Muria?, no Rio ou em Juiz de Fora. Aqui na cidade ele ficou nos ?ltimos anos, em sua casa pr?pria, onde vivia sozinho. L?, assim como no Abrigo Santa Helena, recebia a visita de um de seus tr?s filhos. Os outros dois faleceram, mas em alguns momentos o senhor Gil chega a se confundir. Fala como se tivesse dois filhos ainda vivos, ou como se nenhum deles tivesse falecido.
Mais do que ser coisa de pai, ? reflexo dos dias dif?ceis que viveu com sua doen?a. Ele sempre termina suas respostas falando dela. Mas se algumas lembran?as foram apagadas, outras ficaram com ele.
"Deram muito trabalho. Toda crian?a d? trabalho. ?s vezes eu zangava com eles porque iam brincar na casa dos amigos, faziam as coisas escondido. Essas coisas de crian?a mesmo", diz ele.
Recuperando-se da doen?a, tentando vencer as dificuldades que o corpo e a mente lhe proporcionam a cada dia, o senhor Gil pede pouco para este Dia dos Pais.
"Quero paz e sa?de. Que Deus ajude nas coisas que s?o boas para eles. E que me deixe consciente at? o Natal deste ano. N?o vai ser mais como aqueles antigos, mas que eu possa estar consciente para entender de tudo, saber de tudo e conversar de tudo com ele", diz.
Dos tr?s filhos, o ?nico que est? vivo, com 50 anos, e vai sempre visitar o senhor no Abrigo Santa Helena, leva o seu nome: Gil. Mais do que o nome do pai, herda ensinamentos, li?es de vida e experi?ncia. Afinal, de tudo que ensinou e viveu o senhor extraiu uma frase simples:
"N?o me arrependo de nada".