Haddad e Rodrigo iniciam campanha com caminhada em SP; Tarcísio espera Bolsonaro

Por ARTUR RODRIGUES

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Os candidatos ao Governo de São Paulo Fernando Haddad (PT) e Rodrigo Garcia (PSDB) foram às ruas da capital paulista nesta terça-feira (16), primeiro dia do período oficial de campanha eleitoral.

O ex-ministro Tarcísio de Freitas (Republicanos) participou de uma sabatina -ele só vai lançar a sua campanha oficialmente na quinta (18), em São José dos Campos, ao lado do presidente Jair Bolsonaro (PL).

O petista abriu seu primeiro dia de campanha na praça do Patriarca, no centro, em frente à Prefeitura de São Paulo que ele governou por quatro anos.

A caminhada fez um aceno ao eleitorado feminino, com a presença da sua esposa, Ana Estela Haddad, da socióloga Rosângela Silva -a Janja, esposa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva--, da vice de sua chapa, Lúcia França, e de Lu Alckmin, mulher do ex-governador Geraldo Alckmin (PSB), que é o vice na chapa de Lula.

Já o tucano Rodrigo Garcia, acompanhado do seu vice, Geninho Zuliani (União Brasil), e Edson Aparecido (MDB), candidato ao Senado, foram do Pátio do Colégio até a praça do Patriarca.

Rodrigo disse que o seu governo focará em propostas e desviará da polarização em torno das campanhas de Haddad e Freitas, apadrinhados por Luiz Inácio Lula da Silva e Jair Bolsonaro, respectivamente.

"Vamos debater nosso programa de governo, mostrar que temos experiência e uma história de bons serviços prestados", afirmou o tucano.

Haddad fez seu primeiro discurso com foco no combate ao estrago feito pelas fake news bolsonaristas de que, se vencer a eleição, o PT fechará igrejas.

"Vai ser uma campanha muito árdua, muito difícil, porque os nossos adversários não lutam com as mesmas armas da democracia. Infelizmente, nós vamos ter que conviver com muita fake news, muita mentira, como está sendo alvo já o presidente Lula, que aprovou o estatuto da liberdade religiosa", disse ele, que acusou bolsonaristas de discriminação contra religiões.

O ex-prefeito tem batido na tecla de que, apesar disso, fará uma campanha propositiva, voltando a citar algumas de suas principais bandeiras como o aumento do salário mínimo estadual de R$ 1.284 para R$ 1580 e a reestruturação das carreiras dos policiais.

As críticas mais diretas aos adversários regionais no pleito paulista partiram de Márcio França (PSB), candidato da chapa ao Senado.

"Ambos [Rodrigo e Tarcísio] são meio reconhecidos por asfaltadores. Até estão discutindo quem asfaltou mais. Eu acho uma coisa meio inapropriada no momento tão difícil, onde as pessoas estão passando dificuldade para comer, saber quem asfaltou mais. Sinceramente, eu ficaria feliz se fosse aqueles que tivessem criados mais programas sociais", disse o também ex-governador paulista.

O evento contou com a presença de diversos candidatos a deputado federal e estadual, além de figuras históricas do PT, como o vereador e ex-senador Eduardo Suplicy.

No ato, que foi denominado "caminhada com as mulheres", Haddad citou a promessa de paridade de gênero no secretariado. "Chega dessa história de não dar espaço para as mulheres. Eu conheço milhares de mulheres gabaritadas, muito bem formadas, criativas, líderes determinadas que podem ajudar o governo", afirmou.

Janja permaneceu discreta no evento, sem discursar ou falar com a imprensa. Bastante procurada para fotografias, ela ficou durante todo o tempo atendendo os pedidos de selfies com eleitores petistas.

Nos próximos dias, Haddad deve seguir fazendo agendas pela capital e pela Grande São Paulo. Informações preliminares da agenda previam incursões ao extremo sul e leste da cidade ainda nesta semana, além de visita à região do ABC.

Rodrigo, por sua vez, não fez nenhum discurso durante a sua caminhada pelo centro. O governador esteve acompanhado de sua esposa, Luciana Garcia, e Tomas Covas -filho do ex-prefeito Bruno Covas-, outros candidatos de sua coligação, que reúne PSDB/Cidadania, além de União Brasil, MDB, PP, Podemos, Solidariedade, Patri, Pros e Avante.

Em desvantagem nas pesquisas, atrás de Fernando Haddad (PT) e Tarcísio de Freitas (Republicanos), o tucano tem a missão de investir no corpo a corpo com a população. Governador de São Paulo desde 1º de abril, ele era desconhecido por 85% da população naquele mês, segundo o Datafolha.

Ao ingressar na política, aos 21 anos, Rodrigo foi eleito deputado estadual por três vezes e, em duas ocasiões, deputado federal. Essa é a sua primeira tentativa por um cargo no Executivo. Rodrigo só assumiu o Palácio dos Bandeirantes na condição de vice de João Doria, que deixou o governo para se dedicar à campanha à Presidência da República.

Como governador, Rodrigo vem percorrendo o interior de estado, anunciado medidas populistas para impulsionar sua campanha à reeleição e feito acenos para um eleitorado alinhado ao presidente Jair Bolsonaro - entre eles, as forças policiais e lideranças do agronegócio.

O governador Rodrigo Garcia durante caminhada no centro de São Paulo Rivaldo Gomes/Folhapress **** A princípio, nesta corrida eleitoral, o grande desafio do tucano é o de superar Tarcísio e se garantir em um eventual segundo turno contra Haddad. A equipe de Rodrigo se apegado no fato de que Haddad apresenta um alto índice de rejeição e que, no eventual segundo turno, herdaria os votos de Tarcísio.

Enquanto os seus principais rivais foram a eventos públicos, Tarcísio usou a terça para participar de uma sabatina promovida pelos jornais O Globo e Valor e pela rádio CBN.

O ex-ministro vai lançar oficialmente sua candidatura em São José dos Campos. O município é o local escolhido pelo candidato como domicílio eleitoral, e Bolsonaro é o patrocinador da candidatura do ex-ministro ao Palácio dos Bandeirantes.

Ainda assim, bolsonaristas próximos do presidente criticam o que veem em Tarcísio como uma postura de distanciamento que ele assume do chefe do Executivo -chegando a tachá-lo de "traidor".

O candidato, porém, tem tentando se mostrar próximo do seu tutor. Na própria sabatina desta terça ele reforçou ser o candidato de Bolsonaro em SP, a quem deve "lealdade", e disse ser um defensor do legado do governo federal e tentou se mostrar crítico à Lula e descrente na vitória do petista no pleito deste ano.

Ele ainda afirmou que "não há risco à democracia" no cenário político atual.

"Não há um ato de agressão à Constituição pelo presidente Bolsonaro", argumentou Tarcísio, que também disse "nunca vi o presidente cometer um ato preconceituoso na minha frente. O presidente tem amigos homossexuais que frequentam o Palácio da Alvorada."

O ex-ministro normalizou o encontro no qual Bolsonaro reuniu diplomatas para atacar as urnas eletrônicas.

"Acho que tivemos ali o chefe do estado convocando embaixadores estrangeiros para colocar suas dúvidas e explicar porque ele tem dúvidas com relação a determinadas etapas do governo eleitoral", apontou Tarcísio.

Na entrevista, o candidato afirmou que vai reduzir o ICMS e o IPVA em São Paulo, voltou a dizer que vai rever a política de uso de câmeras por policiais militares e disse que Roberto Jefferson, presidente do PTB (partido que faz parte da coligação da candidatura de Tarcísio), e Eduardo Cunha, candidato a novo mandato de deputado pela mesma legenda, não terão participação em sua campanha nem em seu governo. Cunha esteve no palanque durante o lançamento oficial da candidatura de Tarcísio, em julho.